Invasão em Brasília 'deu gás' a grupos bolsonaristas no Telegram, dizem pesquisadores

Participantes de grupos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro intensificaram falas sobre ações em outras cidades, como paralisações e bloqueios de rodovias, segundo pesquisadores que acompanham canais no Telegram.

9 jan 2023 - 18h40
(atualizado às 18h44)
Forças de segurança do DF não contiveram apoiadores de Bolsonaro que invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF
Forças de segurança do DF não contiveram apoiadores de Bolsonaro que invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A invasão e depredação de prédios dos três poderes em Brasília gerou uma sensação de "redenção" e "motivação" em grupos e canais bolsonaristas no Telegram, segundo David Nemer, professor da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, e pesquisador de antropologia da tecnologia.

"Isso deu muito gás para as pessoas começarem a ter mais ideias e mais motivação em promover atos parecidos nas suas regiões", identificou Nemer, que acompanha mais de 120 grupos bolsonaristas.

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"Ali dentro dos grupos tem um sentimento não de dever cumprido, mas de que a missão continua. Isso deu uma sobrevida, porque, com a promulgação das eleições, a fuga do Bolsonaro, a declaração do Mourão... tudo isso jogou um balde de água fria nesses acampamentos em frente aos quarteis generais", disse.

Jair Bolsonaro viajou aos Estados Unidos em 30 de dezembro e lá permanece. E o então presidente em exercício, Hamilton Mourão, criticou "lideranças" que, "com o silêncio", deixaram crescer um clima de desagregação no país e levaram para as Forças Armadas a conta por "inação" ou por um "pretenso golpe". Na véspera da posse de Lula, disse também que a "alternância de poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada".

Na avaliação de Nemer sobre a narrativa bolsonarista nos grupos, a invasão em Brasília não gerou uma sensação de vitória, mas um sentimento de que se tratou de "uma batalha no caminho para vencer a guerra".

Nemer diz que "eles só vão parar no momento que o financiamento acabar". "Enquanto a Justiça não chegar aos financiadores, que não vão pro front, eles vão injetar dinheiro e infraestrutura para continuar", disse.

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Ao mesmo tempo, governadores e prefeitos têm se pronunciado sobre segurança em suas áreas. E o governo federal convidou governadores para se reunirem com Lula nesta segunda (9/1), em Brasília.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por exemplo, anunciou que viaja a Brasília nesta segunda para se reunir com Lula e disse que o Rio Grande do Sul está "com as forças de segurança prontas para resposta FIRME e IMEDIATA diante de qualquer tentativa de subversão da ordem".

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes escreveu nesta segunda que estava reunido com autoridades locais "para garantir o respeito ao estado democrático de direito na cidade do Rio", depois de dizer que vai retirar "todos os objetos e barracas que ocupam o espaço público tomado por manifestantes que atentam contra a democracia na praça Duque de Caxias".

Apoiadores de Jair Bolsonaro quebram vidro do Supremo Tribunal Federal durante invasão do edifício
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

'Mobilização forte'

A pesquisadora Andressa Costa, do Centro de Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa, que acompanha diariamente grupos no Telegram, também identificou o que chamou de uma "mobilização bastante forte" para tentar promover outros atos pelo país.

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"Na noite de domingo, estavam especialmente tentando fazer mobilizações de paralisação, de bloqueio de rodovias, chamando os caminhoneiros...Isso foi o principal. Mas também tinha mensagens chamando para protesto na Avenida Paulista, chamando para quarteis de outras cidades…"

Costa aponta inclusive o uso de imagens e mensagens usadas em outras ocasiões, como nos atos logo após as eleições, para, segundo ela, "tentar manter os grupos aquecidos com essa questão da mobilização".

E o que querem esses grupos? A professora de comunicação na UFRJ Letícia Capone, que integra o Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-RJ, explica que eles seguem com a ideia golpista de que as Forças Armadas tomem o poder.

"O que a gente percebe pelas narrativas que são disseminadas entre esses manifestantes antidemocráticos ligados ao campo bolsonarista é a narrativa de que existe a expectativa de que as Forças Armadas vão atuar na defesa desse grupo para que Lula seja impedido de governar", diz Capone.

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Bolsonaro, depois de horas em silêncio, escreveu no Twitter no domingo que "manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia", mas que "depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra".

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