Justiça determina que PF divulgue endereço de Cesare Battisti
3 ago2012 - 17h26
O juiz federal Alexandre Vidigal, titular da 20ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal, determinou na quinta-feira que a Polícia Federal divulgue, em até 5 dias, o endereço atual de Cesare Battisti, disponível em seus cadastros.
Caso o ex-militante italiano, que está refugiado no Brasil, não seja encontrado nos endereços cadastrados, a PF deverá, em 30 dias, encontrar o novo paradeiro do italiano.
O magistrado informou em sua decisão que pelo artigo 102, da Lei 6.815/80, a manutenção do endereço atualizado do estrangeiro é "exigência que se impõe, podendo sua inobservância caracterizar-se como "estada irregular", implicando, até mesmo, na possibilidade de deportação.
Caso Battisti
Ex-integrante da organização de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Cesare Battisti foi condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por quatro assassinatos, ocorridos no final da década de 1970. O italiano nega as acusações. Depois de preso, Battisti, considerado um terrorista pelo governo da Itália, fugiu e se refugiou na América Latina e na França, onde viveu exilado por mais de 10 anos, sob proteção de uma decisão do governo de François Miterrand. Quando o benefício foi cassado pelo então presidente Jacques Chirac, que determinou a extradição de Battisti à Itália, o ex-ativista fugiu para o Brasil em 2004. Encontrado, ele ficou preso no País a partir de 2007.
O então ministro da Justiça, Tarso Genro, sob o argumento de "fundado temor de perseguição", garantiu ao italiano o status de refugiado político, o que em tese poderia barrar o processo de extradição que o governo da Itália havia encaminhado à Suprema Corte brasileira. Ainda assim, o caso foi a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) no final de 2009, quando os magistrados decidiram que o italiano deveria ser enviado a seu país de origem, mas teria de cumprir pena máxima de 30 anos de reclusão, e não prisão perpétua como definido pelo governo da Itália. Na mesma decisão, no entanto, os ministros definiram que cabia ao presidente da República a decisão final de extraditar ou confirmar o refúgio a Battisti.
No dia 31 de dezembro de 2010, último dia de seu governo, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não extraditar Battisti à Itália, com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que levantava suspeitas de que a ida do ex-ativista a seu país de origem poderia colocar em risco a sua vida. Segundo o documento, a repercussão do caso e o clamor popular tornariam o futuro de Battisti "incerto e de muita dificuldade" na Itália.
Três dias depois da decisão de Lula, a defesa de Battisti entrou com um pedido de soltura no STF, mas o governo italiano pediu ao Supremo o indeferimento da petição alegando "absoluta falta de apoio legal". Na ocasião, o presidente do STF, Cezar Peluso, negou a libertação imediata e determinou que os autos fossem encaminhados ao relator do caso, ministro Gilmar Mendes. No dia 3 de fevereiro, o governo italiano encaminhou STF um pedido de anulação da decisão de Lula, acusando-o de não cumprir tratados bilaterais entre os dois países.
Os recursos foram julgados no dia 8 de junho de 2011. Primeiro, O plenário decidiu que o governo da Itália não tinha legitimidade para contestar a decisão de Lula. Em seguida, o STF determinou a liberdade imediata do italiano por entender que não cabe ao Supremo contestar a decisão "soberana" de um presidente da República. Com o fim da sessão, o alvará de soltura de Battisti foi encaminhado para a penitenciária da Papuda, em Brasília, de onde ele saiu nos primeiros minutos do dia 9 de junho, após quatro anos preso.
Confira nas próximas fotos a cronologia do caso Cesare Battisti
Foto: Art by Terra
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Em março de 2004, o ex-ativista de esquerda Cesare Battisti deixa a prisão em Paris após ficar cerca de um mês detido, sob protestos de simpatizantes. Condenado por quatro homicídios na década de 70 na Itália, recebe o direito de recorrer em liberdade contra o pedido de extradição
Foto: AFP
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Dias após deixar a prisão, Battisti é fotografado em um café em Paris, onde viveu exilado por mais de 10 anos, sob proteção de uma decisão do governo de François Miterrand. Ainda em 2004, no entanto, o presidente Jacques Chirac cassa seu benefício e assina o decreto de extradição, mas o italiano foge
Foto: AFP
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Em março de 2007, Battisti é preso no Rio de Janeiro e levado a Brasília. O então ministro da Justiça, Tarso Genro, garante ao italiano status de refugiado político, o que em tese poderia barrar o processo de extradição que o governo da Itália havia encaminhado à Suprema Corte brasileira
Foto: AFP
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Em 30 de janeiro de 2009, preso na penitenciária da Papuda, Battisti pede a seu advogado para entregar a jornalistas uma carta escrita por ele, explicando que não se sentia bem emocionalmente para conceder entrevistas. Durante as poucas vezes em que deu declarações por meio de visitantes, o ex-ativista sempre alegou inocência
Foto: Marcello Casal Jr
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Em 17 de novembro de 2009, a poucos dias de o STF julgar seu pedido de extradição, Battisti recebe um grupo de parlamentares das comissões de Direitos Humanos do Senado e da Câmara dos Deputados na prisão. Os políticos demonstraram seu apoio ao italiano e confiança na sua permanência no Brasil
Foto: José Cruz
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Em 18 de novembro de 2009, o ministro Gilmar Mendes, relator do caso, consulta a Constituição durante julgamento do pedido de extradição. Ao fim da sessão, os ministros decidem que o italiano deveria ser enviado a seu país de origem, mas que caberia ao presidente da República a decisão final de extraditar ou confirmar o refúgio a Battisti
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom
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Um dia depois do julgamento, manifestantes do Movimento pela Libertação de Cesare Battisti acampam em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência da República, na tentativa de uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o italiano permaneça no País. A decisão de Lula, porém, só seria anunciada mais de um ano depois
Foto: Renato Araújo
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Em 10 dezembro de 2009, Battisti é conduzido ao Rio de Janeiro para prestar depoimento a um juiz federal. Após julgamento no STF, o italiano permaneceu preso na Papuda, em uma cela individual e confortável, com a companhia de livros e de uma televisão
Foto: AFP
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Em 31 de dezembro de 2010, último dia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anuncia a decisão do chefe de Estado em não extraditar Cesare Battisti. Lula se baseou em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que levantava suspeitas de que a ida do ex-ativista a seu país de origem poderia colocar em risco a sua vida
Foto: Wilson Dias
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Em 8 de junho de 2011, o Supremo voltar a analisar o caso, após a defesa protocolar um pedido de soltura para Battisti. O governo italiano, porém, pediu o indeferimento da petição, alegando "absoluta falta de apoio legal". Além disso, a Itália solicitou a anulação da decisão de Lula, acusando-o de não cumprir os tratados bilaterais entre os dois países
Foto: Carlos Humberto/STF
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Na sessão, os ministros decidem que não cabe nem ao Supremo nem ao governo da Itália contestar uma decisão "soberana" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, por seis votos a três, o STF determina a liberdade imediata do ex-ativista
Foto: Fellipe Sampaio/STF
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Nos primeiros minutos do dia 9 de junho de 2011, Battisti deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília, onde ficou preso por quatro anos