Líderes ianomâmis reclamam de risco de coronavírus após visita de militares

3 jul 2020 - 12h12

Líderes de uma comunidade indígena ianomâmi isolada reclamaram que uma missão de militares para entregar equipamento de proteção e suprimentos para o combate ao coronavírus aumentou o risco de infecções em seu povo por causa do contato com forasteiros, inclusive jornalistas.

Integrante das Forças Armadas examina índio ianomâmi em Alto Alegre, Roraima
01/07/2020 REUTERS/Adriano Machado
Integrante das Forças Armadas examina índio ianomâmi em Alto Alegre, Roraima 01/07/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Procuradores federais disseram que estão investigando a visita por ela ter ignorado o desejo de comunidades ianomâmis de permaneceram isoladas da sociedade, violado as regras de distanciamento social e distribuído cloroquina aos indígenas.

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Na terça e quarta-feiras, soldados levaram suprimentos médicos de helicóptero a postos avançados na fronteira com a Venezuela e reuniram famílias ianomâmis para fazer exames de detecção do novo coronavírus, uma iniciativa registrada por um contingente de jornalistas.

"Ficamos surpresos com a visita do governo. Não queremos ser propaganda do governo", disse Parana Ianomâmi, uma das lideranças do povo ianomâmi, em um vídeo.

Os ianomâmis são o último grande povo indígena vivendo em isolamento relativo em uma vasta reserva, e há décadas suas terras são invadidas por garimpeiros que levam doenças fatais para a população.

Roberto Ianomâmi, chefe de uma comunidade de Surucucu, disse que o governo organizou a viagem sem consultar os líderes indígenas.

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"Fui muito surpreendido com essa visita, não fomos consultados. Por isso estou com muita raiva dos senhores, pois erraram, chamaram os ianomâmi sem explicar e colocaram dentro do quartel", disse ele também em uma mensagem de vídeo, com o rosto pintado de negro com tinta de jenipapo.

"Vocês fizeram aglomerações com pessoas estranhas que vieram de fora. Eu não aceito que venham sem consultar o povo, não façam mais isso. Eu sou liderança daqui, quem manda na região sou eu... Não aceito estarem aqui tirando fotos de nossas crianças e mulheres ianomâmis."

Liderando a missão de quarta-feira, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, disse aos repórteres que a pandemia está sob controle entre os ianomâmis, já que os médicos não detectaram nenhum caso de Covid-19 entre os índios.

Seu comentário foi rejeitado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) ianomâmi, que diz que já houve mais de 160 casos confirmados e cinco mortes entre o povo de mais de 27 mil habitantes.

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Em um comunicado enviado à Reuters, o Ministério da Defesa disse que todos os membros da missão foram devidamente examinados para detecção de Covid-19 de antemão e que a cloroquina é usada há mais de 70 anos contra malária, prevalente na região amazônica.

O conselho pediu que o procurador público investigue a visita e o envio de cloroquina, remédio antimalária cujo uso no tratamento de pacientes de Covid-19 não tem eficácia comprovada.

A Procuradoria Pública disse que os militares não estão protegendo os ianomâmis de seu principal risco de contágio --os garimpeiros em suas terras, estimados em mais de 20 mil.

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