O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta sexta-feira, de querer "acabar com a Faixa de Gaza", e afirmou que a posição brasileira é "a mais clara possível", condenando o Hamas por ter cometido "ato terrorista".
Lula defendeu ainda que é preciso acabar com o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que não considera considera "democrático", e afirmou que hoje o órgão "vale muito pouco."
"Primeiro, o Brasil só reconhece como organização terrorista aquilo que o Conselho de Segurança da ONU reconhece (...) O que nós dissemos? É que o ato do Hamas foi terrorista. Nós dissemos isso em alto e bom som. Não é possível fazer um ataque, matar inocente, sequestrar gente, da forma que eles fizeram, sem medir as consequências que acontecem depois", afirmou o presidente em encontro com jornalistas que fazem a cobertura diária da presidência.
O Hamas atacou comunidades no sul de Israel no dia 7 de outubro, matando 1.400 pessoas, em sua maioria civis e sequestrando mais de 200. A reação do governo israelense foi intensa, com ataques aéreos que já mataram mais de 7 mil pessoas na Faixa de Gaza, de acordo com autoridades palestinas.
'Insanidade'
"Agora o que nós temos é a insanidade também do primeiro-ministro de Israel, querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas. Que lá têm mulheres, têm crianças que são as grandes vítimas dessa guerra", completou.
Texto brasileiro na ONU
O presidente defendeu a posição brasileira e a resolução apresentada pelo país, vetada pelos Estados Unidos, mas aprovada por 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança.
"Tinha 15 votos em jogo, ela teve 12, duas abstenções e um contra. Como ela pode ter sido rejeitada? Ela foi vetada por causa de uma loucura que é o poder de veto concedido aos cinco países titulares do Conselho, que eu sou totalmente, radicalmente contra. Isso não é democrático. Os EUA vetam a Rússia, a Rússia veta os EUA", afirmou.
Mudanças no Conselho de Segurança da ONU
Uma das ações diplomáticas mais enfáticas do governo brasileiro diz respeito à defesa da mudança nos órgãos de governança global, incluindo o Conselho de Segurança -- tema que será um dos pontos centrais, inclusive, da presidência brasileira no G20, que começa em dezembro.
"São os cinco países do Conselho de Segurança que fabricam armas, são os cinco países do Conselho de Segurança que vendem armas e são os cinco do Conselho de Segurança que fazem guerra. É a contradição. Por isso é que nós queremos mudar o Conselho de Segurança, queremos que entrem vários países... O que nós queremos é democratizar o Conselho de Segurança da ONU, porque hoje ele vale muito pouco", defendeu.
Brasileiros em Gaza
Lula também assegurou que seu governo trabalhará para repatriar todos os brasileiros que estão em Israel e em Gaza e que, para isso, está disposto a conversar com lideranças que têm relação com o Hamas.
"Nós não deixaremos um único brasileiro ficar em Israel ou na Faixa de Gaza. Nós vamos tentar buscar todos. Porque esse é o papel do governo brasileiro e já conversei. Se eu tiver informação de um presidente de tal país que é amigo do Hamas, é para esse que eu vou ligar. 'Ô cara, fala para o Hamas liberar o refém. Por que ficar com inocente lá metido?'... e também falar para o governo de Israel: 'libera os presos. Pô, Israel, abre a fronteira para sair os estrangeiros que queiram sair'. Tem brasileiro que está há 1 quilômetro da fronteira."
Criação do estado Palestino
Lula cobrou, ainda, que as Nações Unidas tenha "coragem" de assegurar a criação de um Estado Palestino. Apesar da chamada "solução de dois Estados" ser defendida pela organização, nunca foi implementada de fato. O território originalmente destinado aos palestinos hoje se divide em dois: Faixa de Gaza e Cisjordânia, e com boa parte de sua extensão original ocupada por Israel.
O presidente comentou ainda a situação da Guerra na Ucrânia, e repetiu que nenhum dos lados está preparado para sentar à mesa e discutir um acordo de paz.
"Em todas as guerras não tem apenas um lado só culpado, ou um mais culpado. O Brasil fez uma crítica veemente, igualzinho ao que está na carta da ONU, nós condenamos a Rússia por ter invadido o território ucraniano. Mas isso significa que eu sou obrigado a me colocar do lado da Ucrânia para guerrear. Eu quero me colocar do lado daqueles que querem paz. É difícil? É. Mas se não for assim, a gente não consegue", afirmou.