Odijane Mota ainda não consegue entender a morte horripilante de seu filho, Efraim, em uma prisão do Pará.
O jovem de 22 anos foi um entre as dezenas de presidiários que foram assassinados durante uma rebelião na prisão da cidade de Altamira na semana passada, e tem dificuldade de lidar com a sentença de morte emitida pelos colegas presos contra seu filho. Ele cumpria uma pena de oito anos por roubar um celular usando uma moto roubada.
"Quando eu penso no jeito que meu filho foi morto é que vem a tristeza, vem aquela angústia", disse ela à Reuters, usando óculos escuros que escondiam seus olhos inchados pelo pranto. "Meu filho não foi lá pra morrer, entendeu? Meu filho não foi lá pra morrer!"
Ao menos 52 prisioneiros morreram durante as poucas horas caóticas de violência no presídio paraense na semana passada. Mais de uma dúzia foram decapitados, e vídeos que circularam na internet mostraram detentos da prisão comemorando e chutando cabeças pelo chão.
Autoridades estaduais disseram que a rebelião começou perto da hora do café da manhã de segunda-feira, quando presidiários pertencentes à gangue Comando Classe A atearam fogo em uma cela com presos da gangue rival Comando Vermelho.
O episódio de violência foi o mais recente de uma série de rebeliões que chamaram atenção para o sistema prisional perigoso e superlotado do Brasil, o terceiro maior do mundo.
Controlar as prisões do país e domar suas poderosas gangues são grandes pesadelos de segurança pública do presidente Jair Bolsonaro, que fez campanha com propostas rígidas para esta área.
"Meu filho não era um bandido de alta periculosidade", disse Odijane, que culpou autoridades estaduais por não fazerem mais para evitar o massacre na prisão depois que o incêndio começou.
Ela prometeu buscar justiça para o filho para que sua morte não seja em vão.
"Eu nunca vou me conformar com isso, nunca, nunca, nunca mesmo," afirmou. "Vai ser uma tristeza que eu vou levar pro resto da minha vida e com ódio no coração de saber que ninguém fez nada. (O governo do Estado do Pará) teve oportunidade de fazer, teve tempo de fazer (a polícia entrar no presídio para controlar a situação), e ninguém fez nada."