'Mais que maquiagem', gritam feministas em evento na Unicamp

Manifestantes entraram em auditório com cartazes da Frente Feminista da universidade, localizada em Campinas (SP), pedindo vagas em creche da instituição, fim da violência contra as mulheres, equiparação salarial, entre outras pautas

12 mar 2015 - 09h07
(atualizado às 09h11)
<p>Alunas pedem mais respeito da reitoria da Unicamp</p>
Alunas pedem mais respeito da reitoria da Unicamp
Foto: Divulgação

Afinal, o que querem as mulheres? A pergunta dá nome ao evento proposto pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. A programação do evento, que segue até a próxima sexta-feira e inclui palestras, oficinas e cursos com temas como maquiagem, moda, beleza e saúde feminina, se tornou alvo de críticas de estudantes da instituição.

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Durante a cerimônia de abertura, realizada nessa terça-feira, o auditório tinha a plateia quase totalmente formada por mulheres, que aguardavam a palestra da psicanalista Regina Navarro Lins, com o tema “A mulher e o amor”. O público foi surpreendido por um grupo que levantou de suas cadeiras gritando: “Ô, reitoria, fala a verdade: o que as mulheres querem é mais que maquiagem”.

As manifestantes tomaram o espaço entre o palco e a plateia erguendo cartazes da Frente Feminista da Unicamp e que pediam vagas na creche da universidade, fim da violência contra as mulheres, equiparação salarial, entre outras pautas universitárias e sociais. Em coro, criticaram a programação do evento. “Estamos aqui hoje, para manifestar nosso repúdio à Reitoria, que acha que o Dia da Mulher é um dia de mais maquiagem, é um dia de discutir com a psicanalista porque 'somos histéricas' ou é um dia em que a gente tem que se fechar no nosso relacionamento."

No discurso, o grupo pedia também por assistência estudantil e respeito aos nomes sociais de alunos e alunas transexuais. Ao final, as mulheres que estavam na que assistiam aplaudiram as que seguravam os cartazes. Apesar das críticas, o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), responsável pela organização das atividades, entende que não houve erro na escolha dos temas, mas que o evento pode ser aprimorado. A assessoria do grupo ressaltou que a palestrante Regina tem história ligada aos movimentos contemporâneos pela libertação das mulheres.

A polêmica que ocupou o auditório da Unicamp já havia ganhado espaço nas redes sociais. No dia 6 de março, a estudante de doutorado em teoria literária Amara Moura compartilhou a programação do evento em um grupo de estudantes da universidade no Facebook, junto a um texto da comunidade “Mapa de coletivos de mulheres”. A publicação questionava o que chamavam de “ programação praticamente focada em moda, beleza, neuras amorosas e sexuais”. Todos os comentários foram concordando com a postagem e criticando o evento.

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Alunas pedem mais respeito da reitoria da Unicamp
Foto: Divulgação

Amara acredita que a instituição deveria aproveitar a ocasião para debater temas como estupro, assédio, trotes machistas, entre outras bandeiras do feminismo. Para ela, a programação não respeita o caráter do dia da mulher. “Promover um evento que apague o teor de luta do Dia da Mulher, comemorado em 8 de março, que transforme a data numa mera celebração, lugar para promover marcas de empresas e não para colocar em questão as violências que mulheres sofrem na sociedade, na universidade, é absurdo.”

Já a estudante Juliane Furno, mestranda do Instituto de Economia da Unicamp, entende que o problema não está nos temas propostos e sim na ausência de outros debates importantes. “O debate em torno da saúde da mulher, da moda, do bem estar e questões ligadas ao amor não deixam de ser temas importantes e que de fato dialogam com as mulheres brasileiras. Mas é insuficiente olhando para uma sociedade como a brasileira, que ainda mantém relações de gênero muito desiguais.” 

Mesmo com a discussão, o primeiro dia do evento contou com auditório lotado e os cursos previstos já estão com lotação esgotada. Para a assessoria do GGBS, o preenchimento das vagas demonstra adesão à programação. Por e-mail, o GGBS afirmou que a atividade foi organizada por funcionárias do grupo, em parceria com trabalhadoras da diretoria de recursos humanos e do Centro de Saúde Comunitária, órgãos do corpo de gestão de pessoas da Unicamp. No texto, o grupo informou também que a escolha do tema levou em consideração a história da atividade, realizada anualmente, com o objetivo de fomentar o debate.

Feministas protestam por mais respeito em evento da Unicamp
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Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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