Manguinhos tornou-se epicentro de um dos piores recrudescimentos da longa luta contra a violência no Rio de Janeiro. Nessa quinta, uma operação policial na favela terminou com o comandante da UPP local, o capitão Gabriel Toledo, baleado na perna, mas o saldo do conflito implicou também a deflagração de uma situação que levou o governador Sérgio Cabral (PMDB) bater nas portas de Brasília e pedir ajuda federal à presidente Dilma Rousseff (PT).
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"A marginalidade tenta ocupar territórios, desmoralizar a nossa polícia. Mas o Estado é um só, e tem que se mostrar unido e capaz de se mobilizar", afirmou Cabral nesta sexta-feira ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, após receber o aval da Dilma. "Estaremos juntos, apoiando o Estado do Rio de Janeiro no que for necessário", afirmou Cardozo sobre a união com o Rio em meio à crise entre PT e PMDB nos bastidores políticos de Brasília.
As tropas federais devem já chegar ao Estado neste fim de semana, ecoando a ocupação das favelas em 2012. Mas talvez o cenário seja distinto. Em outubro desse ano, cerca de 2 mil soldados da Polícia Militar acompanhados de 13 blindados da Marinha marcharam e ocuparam o Complexo Manguinhos. A chamada "Pacificação Manguinhos", que era o passo essencial para a implantação da UPP atacada nessa quinta, terminou com hasteamento das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro na manhã do dia 14 de outubro de 2012.
Menos de um ano depois, a mesma favela voltou a tornar um dos palcos nacionais centrais. Já pacificada, teve mais uma vez suas ruas tomadas por policiais, mas também por fiéis que se debruçaram por sobre suas construções e arremedos para ver o então recém eleito papa Francisco. "Não é possível bater em todas as portas. Então, escolhi vir aqui, visitar a comunidade de vocês. A comunidade que hoje representa todos os bairros do Brasil", disse o primeiro Papa latino.
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Se Francisco, conhecedor da pobreza e das veias abertas da América Latina que é, tem razão, Manguinhos indica, portanto, que o Brasil ainda é, apesar do esforço slogan presidencial, um país pobre. Como mostrou um levantamento estatístico da Agência Brasil, a Favela do Mandela - localizada na chamada Faixa de Gaza de Manguinhos - apresenta índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,726. Trata-se de um IDH próximo do Gabão (0,755) e da Argélia (0,754) - mas bem inferior ao de bairros como a Gávea (0,970, próximo do IDH noruguês, que é de 0,971).
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O policiamento foi reforçado na manhã desta sexta-feira nas regiões das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) atacadas por bandidos, principalmente no Complexo de Manguinhos. A Avenida Leopoldo Bulhões ficou fechada por quase seis horas e os moradores da comunidade passaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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Após os seguidos ataques a unidades de Polícia Pacificadora em comunidades do Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral afirmou na madrugada desta sexta-feira que iria solicitar à Presidência da República o apoio de Forças Federais para conter a onda de violência nesses locais
Foto: Daniel Ramalho
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Na quinta-feira, o comandante da UPP Manguinhos, na zona norte da capital fluminense, capitão Gabriel Toledo, foi ferido na perna direita durante uma manifestação contra a desocupação de um prédio ao lado da Distribuidora de Suprimentos Disup, para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na avenida Leopoldo Bulhões
Foto: Daniel Ramalho
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Moradores da comunidade de Manguinhos retomam rotina após ataques
Foto: Daniel Ramalho
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Moradores da comunidade de Manguinhos retomam rotina após ataques
Foto: Daniel Ramalho
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O policiamento seguia reforçado na manhã desta sexta-feira nas regiões com unidades de Polícia Pacificadora que foram atacadas por bandidos
Foto: Daniel Ramalho
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O policiamento seguia reforçado na manhã desta sexta-feira nas regiões com unidades de Polícia Pacificadora que foram atacadas por bandidos
Foto: Daniel Ramalho
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O conflito começou por volta das 18h de quinta-feira, quando o comandante da UPP Manguinhos, na zona norte da capital fluminense, capitão Gabriel Toledo, foi ferido na perna direita durante uma manifestação contra a desocupação de um prédio ao lado da Distribuidora de Suprimentos Disup, para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na avenida Leopoldo Bulhões
Foto: Daniel Ramalho
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Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), durante o protesto, um policial foi atingido por uma pedra na cabeça e carros da polícia também foram atacados. A avenida Leopoldo Bulhões foi interditada pelos moradores com a queima de pneus e pedaços de madeira
Foto: Daniel Ramalho
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Moradora recolhe destroços em meio à deflagração do confronto entre policiais e bandidos no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Ramalho
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O sistema de energia elétrica foi atingido pelo fogo e os moradores ficaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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O governador Sérgio Cabral está a caminho de Brasília onde deve se reunir com a presidente Dilma Rousseff para discutir os recentes episódios de violência nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio. Cabral, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de Segurança José Mariano Beltrame vão pretendem propor um plano de segurança para o estado. Cabral adiantou que vai solicitar o apoio das forças federais
Foto: Daniel Ramalho
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O governador Sérgio Cabral está a caminho de Brasília onde deve se reunir com a presidente Dilma Rousseff para discutir os recentes episódios de violência nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio. Cabral, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de Segurança José Mariano Beltrame vão pretendem propor um plano de segurança para o estado. Cabral adiantou que vai solicitar o apoio das forças federais
Foto: Daniel Ramalho
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O governador Sérgio Cabral está a caminho de Brasília onde deve se reunir com a presidente Dilma Rousseff para discutir os recentes episódios de violência nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio. Cabral, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de Segurança José Mariano Beltrame vão pretendem propor um plano de segurança para o estado. Cabral adiantou que vai solicitar o apoio das forças federais
Foto: Daniel Ramalho
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O sistema de energia elétrica foi atingido pelo fogo e os moradores ficaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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O sistema de energia elétrica foi atingido pelo fogo e os moradores ficaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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O sistema de energia elétrica foi atingido pelo fogo e os moradores ficaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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Policial vigia rua no Rio de Janeiro; recrudescimento do conflito e pedido de ajuda federal
Foto: Daniel Ramalho
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Marca de bala em placa da UPP
Foto: Daniel Ramalho
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O sistema de energia elétrica foi atingido pelo fogo e os moradores ficaram 12 horas sem luz
Foto: Daniel Ramalho
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Policial vigia rua no Rio de Janeiro; recrudescimento do conflito e pedido de ajuda federal
Foto: Daniel Ramalho
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Uma moradora, que preferiu não se identificar, acompanhou de perto o ataque à Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos e chegou a ajudar duas policiais militares que acabaram encurraladas depois que os contêineres em que está instalada a sede da polícia na região foram incendiados.
Foto: Mauro Pimentel
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Ela conta que estava na casa da mãe, em frente à UPP, no fim da tarde de ontem, quando um grupo de cerca de 50 pessoas passou correndo e atirando pedras e coquetéis molotovs contra a UPP e mandando que os moradores entrassem em casa
Foto: Mauro Pimentel
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"Quebraram tudo, jogaram pedra, colocaram fogo. Foram para cima do contêiner, os policiais ficaram tentando segurar a porta, até que não conseguiram mais e o pessoal invadiu e colocou fogo", lembra. "Parecia um filme de ação."
Foto: Mauro Pimentel
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Da casa da mãe ela viu quando os contêineres começaram a pegar fogo e a polícia deixou o local. Com medo, duas PMs que estavam dentro da unidade fugiram para baixo da escada da casa da mãe da moradora. "Elas começaram a chorar dizendo que iam morrer. Tentamos ajudar, acalmar elas", diz
Foto: Mauro Pimentel
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Depois, toda a comunidade ficou sem luz. Por conta do calor, a mulher conta que ela e vários vizinhos optaram por dormir em frente às casas
Foto: Mauro Pimentel
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"Colocamos um tapete e um colchão no chão, me agarrei na minha filha de 7 anos e fiquei tentando dormir. Os outros vizinhos também foram para a rua, dentro de casa estava um forno. Os policiais ficavam passando, os helicópteros sobrevoando. Parecia uma cena de filme. Só meu marido não dormiu. Ficou sentado em uma cadeira cuidando da gente e olhando o que acontecia na rua", diz