As referências aos conflitos do Oriente Médio compõem a temática do personagem de MC Bin Laden. Ele mesmo define seu show como “o verdadeiro Afeganistão”. Mas a vida atravessou a arte durante um show em Porto Alegre na semana passada, na boate Stuttgart, onde gangues rivais se enfrentaram em um tiroteio que deixou um morto e 15 feridos.
Nascido na Vila Progresso, localizada na região de Itaquera, em São Paulo, Jefferson Cristian dos Santos de Lima, 21 anos, filho de uma costureira e de um contador de tecidos, relata o que aconteceu como algo chocante. "Nunca imaginaria um fato daqueles, ainda mais enquanto estava no palco trabalhando”, disse, afastando a hipótese de a violência implícita nas suas canções estar associada ao tiroteiro daquela noite.
MC Bin Laden chama atenção pelo visual, pelas músicas e pelos clipes e superproduções de mais de 25 minutos (Bin Laden não morreu), inspiradas em filmes de ação ou pelos seus parceiros MC Brinquedo - um menino de 14 anos que estrela com ele emblemáticos clipes - e o rapper angolano Kadaff, com quem gravou a música “Os terroristas”.
“O show é contagiante e dinâmico. Vou sempre acompanhado de dois dançarinos ‘Iraquianos’, com toca ninja e turbante, para deixar o baile bem sinistro. O verdadeiro Afeganistão", diz o jovem funkeiro, que só topou dar entrevista por e-mail ao Terra.
Terra - Conte um pouco sobre as tuas origens.
MC Bin Laden - Meu nome é Jefferson Cristian dos Santos de Lima, tenho 21 anos, morador de Itaquera, mais precisamente na Vila Progresso. Venho de família humilde, minha mãe é costureira e meu pai contador de tecidos.
Terra - Como você começou no funk e quem foram as tuas principais influências?
MC Bin Laden - Comecei há 5 anos, vendo vídeos do Mc Ticão na internet e me inspirei no modo dele se apresentar. Então decidi ir atrás, para conquistar fãs da mesma forma que sou fã dele.
Terra- Porque tu escolheu o personagem do Bin Laden? Foi para chamar atenção ou é uma paródia. Isso rende muita polêmica?
MC Bin Laden - No inicio de tudo eu era conhecido com outro nome, mas, com a minha vinda para a KL Produtora, foi decidido mudar para Mc Bin Laden, pelo fato da minha música de carro chefe ser a "Bin Laden não morreu", lançada recentemente, e pela minha vontade de fazer do meu show um espetáculo teatral, com dançarinos fantasiados à caráter. Polêmica? Não! Apenas chama atenção por ser um nome forte. Não se trata de uma paródia.
Terra - E o MC Brinquedo, de onde vocês se conhecem e qual é a parceria que vocês têm?
MC Bin Laden - Conheci o Brinquedo na KL Produtora mesmo e, por conta de afinidade, temos uma relação de pai e filho no funk.
MC Bin Laden - Meu visual está relacionado ao símbolo do equilíbrio, representado em preto e branco. Inspiração própria, originalidade. Agora, o lance da sobrancelha é só para ficar mais fotogênico (rsrs).
Terra - Como tu definiria o teu som e qual é a tua inspiração?
MC Bin Laden - Por gostar muito de filmes de ação, acabei transformando o que via na tela em música. Eu definiria como música para favela, para as “quebradas" e "fluxos". Eu mesmo que escrevo e ajudo meus parceiros a escreverem.
Terra - Como tu vê a questão da violência nas tuas músicas, e como tu responde a quem diz que isso é apologia à violência?
MC Bin Laden - Vejo como um filme em forma de música. Se a televisão passa um filme e isso não caracteriza apologia, não vejo porque minhas músicas possam ser consideradas também.
Terra - Quantas músicas e clipes tu já gravou, e quantas visualizações já acumula?
MC Bin Laden - Já perdi as contas (rs). Em relação ao YouTube, uma das minhas últimas músicas com webclipe já está batendo 3 milhões de views em um único canal, da KL Produtora.
Terra - Como foi essa ideia de produzir um clipe de mais de 25 minutos?
MC Bin Laden - Na verdade era meu sonho e um projeto da produtora. Podemos dizer que foi suado, com muito esforço e ajuda de todos parceiros e amigos.
Terra - Teu empresário define tua apresentação como algo mais teatral. Como é o show?
MC Bin Laden - O show é contagiante e dinâmico. Vou sempre acompanhado de dois dançarinos "iraquianos", com toca ninja e turbante para deixar o baile bem "sinistro". O verdadeiro Afeganistão (rsrs).
Terra - Isso que aconteceu em Porto Alegre foi a coisa mais maluca que já aconteceu no teu show? Tu ficou com medo? O que tu já viu nas tuas apresentações pelo País?
MC Bin Laden - Foi chocante. Nunca imaginaria um fato daquele, ainda mais enquanto estava no palco trabalhando. A maior loucura foi ver algo que sempre quis, mas nunca imaginei: chegar aos bailes pelo País e ver que tem pessoas que se espelham em mim, como o cabelo pintado, com a sobrancelha riscada e uma meia de cada cor.
Terra - Qual é a tua opinião sobre política e música, e qual papel tu acha que tem no contexto social brasileiro?
Mc Bin Laden - Para ser sincero, nem de política eu gosto. Onde nasci e fui criado, a política não existia, político era igual Papai Noel, aparece só uma época no ano. Cada um no seu estilo, não pré-julgo ninguém. Minha música tem o papel de mostrar aquele filme da Tela Quente em formato de música popular da favela, o funk. Em relação ao visual, eu vejo esse meu cabelo no País todo, através das redes sociais.
Terra - Tu se considera um cara de sucesso atualmente?
MC Bin Laden - Estou conquistando todos os meu objetivos!