Médica cubana diz ter sido convidada para o Mais Médicos em 2012

Negociação sobre contratação de cubanos foi anunciada pela primeira vez em maio de 2013

6 fev 2014 - 19h14
(atualizado às 21h09)
A médica cubana Ramona Matos Rodrigues, que abandonou o Programa Mais Médicos, disse que soube quanto iria receber três dias antes de embarcar para o Brasil
A médica cubana Ramona Matos Rodrigues, que abandonou o Programa Mais Médicos, disse que soube quanto iria receber três dias antes de embarcar para o Brasil
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A médica cubana Ramona Matos Rodriguez, que abandonou o programa Mais Médicos e pediu refúgio no Brasil, disse nesta quinta-feira ter sido convidada para trabalhar no território brasileiro no fim de 2012, quando iniciou a fazer curso de língua portuguesa preparatório. A negociação para contratação de 6 mil médicos cubanos foi anunciada em maio do ano passado pelo então ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, mas a polêmica em torno do programa levou o governo a priorizar a contratação de brasileiros para chamar os cubanos apenas em agosto do ano passado.

Em entrevista coletiva, Ramona contou que começou a se preparar em novembro e, no início de 2013, participou de um curso de doenças direcionado para o trabalho em território brasileiro. “Nos chamaram e nos prepararam. Disseram que teríamos de fazer um curso de português e de doenças”, disse, no apartamento funcional do deputado oposicionista Abelardo Lupion (DEM-PR), onde está hospedada. O Terra entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento sobre as afirmações da cubana.

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Ramona alega ter largado o programa por ter se sentido enganada ao descobrir que profissionais do Mais Médicos recebiam R$ 10 mil por mês, enquanto os cubanos ganhavam US$ 1 mil, sendo que apenas US$ 400 eram pagos em solo brasileiro. Os outros US$ 600 são depositados em uma conta em Cuba, e poderiam ser sacados no fim do programa, segundo contrato assinado pelos cubanos. Ela assinou o contrato em setembro de 2013, e chegou ao Brasil em outubro.

“Falei com companheiros de outros países que trabalham aqui e eles ganham R$ 10 mil ou R$ 15 mil. Eu investiguei que o Brasil dá para Cuba, para cada um de nós, a mesma quantidade. Então, onde está a outra parte do dinheiro?”, questionou a médica, que entrará com uma ação trabalhista para pedir a quantia total do salário. O DEM, que assessora a médica judicialmente, vai sugerir na ação que a Justiça do Trabalho determine a retenção dos valores transferidos a Cuba.

Ramona alega nunca ter pensado em desertar quando morava em Cuba, mas que teve a ideia apenas quando se sentiu enganada. Antes de recorrer aos parlamentares brasileiros, tentou obter um visto na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

Ela assinou o contrato em setembro de 2013, e chegou ao Brasil em outubro
Foto: Fernando Diniz / Terra

“Quando eu decidi sair do programa, era porque soube da existência de um programa que se chama Parole para Médicos Cubanos (direcionado para cubanos desertores). O programa é válido desde 2006. Descobri pela internet”, disse.

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Ramona disse ainda não ter ficado sabendo de uma oportunidade de trabalho na Associação Médica Brasileira (AMB), entidade que contesta o programa Mais Médicos. Ela ainda não sabe quanto receberia no emprego, provavelmente uma função burocrática na associação.

A médica acredita ter desmontado uma "farsa". "Eu penso que fui muito corajosa, muito valente para denunciar a farsa que estavam fazendo com o dinheiro do Mais Médicos", disse. Ontem, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, evitou comentar o dinheiro repassado aos médicos cubanos, limitando-se a informar que foi feito um acordo entre o Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Fonte: Terra
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