A médica cubana Ramona Matos Rodriguez, que abandonou o programa Mais Médicos e pediu refúgio no Brasil, disse nesta quinta-feira ter sido convidada para trabalhar no território brasileiro no fim de 2012, quando iniciou a fazer curso de língua portuguesa preparatório. A negociação para contratação de 6 mil médicos cubanos foi anunciada em maio do ano passado pelo então ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, mas a polêmica em torno do programa levou o governo a priorizar a contratação de brasileiros para chamar os cubanos apenas em agosto do ano passado.
Em entrevista coletiva, Ramona contou que começou a se preparar em novembro e, no início de 2013, participou de um curso de doenças direcionado para o trabalho em território brasileiro. “Nos chamaram e nos prepararam. Disseram que teríamos de fazer um curso de português e de doenças”, disse, no apartamento funcional do deputado oposicionista Abelardo Lupion (DEM-PR), onde está hospedada. O Terra entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento sobre as afirmações da cubana.
Ramona alega ter largado o programa por ter se sentido enganada ao descobrir que profissionais do Mais Médicos recebiam R$ 10 mil por mês, enquanto os cubanos ganhavam US$ 1 mil, sendo que apenas US$ 400 eram pagos em solo brasileiro. Os outros US$ 600 são depositados em uma conta em Cuba, e poderiam ser sacados no fim do programa, segundo contrato assinado pelos cubanos. Ela assinou o contrato em setembro de 2013, e chegou ao Brasil em outubro.
“Falei com companheiros de outros países que trabalham aqui e eles ganham R$ 10 mil ou R$ 15 mil. Eu investiguei que o Brasil dá para Cuba, para cada um de nós, a mesma quantidade. Então, onde está a outra parte do dinheiro?”, questionou a médica, que entrará com uma ação trabalhista para pedir a quantia total do salário. O DEM, que assessora a médica judicialmente, vai sugerir na ação que a Justiça do Trabalho determine a retenção dos valores transferidos a Cuba.
Ramona alega nunca ter pensado em desertar quando morava em Cuba, mas que teve a ideia apenas quando se sentiu enganada. Antes de recorrer aos parlamentares brasileiros, tentou obter um visto na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.
“Quando eu decidi sair do programa, era porque soube da existência de um programa que se chama Parole para Médicos Cubanos (direcionado para cubanos desertores). O programa é válido desde 2006. Descobri pela internet”, disse.
Ramona disse ainda não ter ficado sabendo de uma oportunidade de trabalho na Associação Médica Brasileira (AMB), entidade que contesta o programa Mais Médicos. Ela ainda não sabe quanto receberia no emprego, provavelmente uma função burocrática na associação.
A médica acredita ter desmontado uma "farsa". "Eu penso que fui muito corajosa, muito valente para denunciar a farsa que estavam fazendo com o dinheiro do Mais Médicos", disse. Ontem, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, evitou comentar o dinheiro repassado aos médicos cubanos, limitando-se a informar que foi feito um acordo entre o Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).