O juiz federal Sérgio Moro afirmou, em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo neste domingo, que percebe uma ausência de ações firmes das autoridades políticas brasileiras para combater a corrupção, o que deixa uma impressão de que essa é uma "tarefa única e exclusivamente" de policiais, procuradores e juízes.
"No Brasil, estamos mais preocupados em não retroceder, em evitar medidas legislativas que obstruam as apurações das responsabilidades, do que propriamente em proposições legislativas que diminuam a oportunidade de corrupção. Vejo no mundo político uma grande inércia", disse Moro em entrevista ao grupo internacional de jornalismo colaborativo Investiga Lava Jato, do qual a Folha é um dos coordenadores.
Moro, responsável pelas ações decorrentes da operação Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, rebateu acusações de que as investigações tem o PT como foco, citando como exemplo a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, do PMDB.
O juiz também defendeu a decisão de levantar o sigilo de conversa telefônica interceptada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff no ano passado, apesar de ter reconhecido recentemente que pode ter sido um equívoco a divulgação devido à polêmica gerada pela decisão.
"A escolha adotada desde o início desse processo era tornar tudo público, desde que isso não fosse prejudicial às investigações. O que aconteceu nesse caso não foi nada diferente dos demais. As pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos", afirmou na entrevista.
Segundo a Folha, Moro disse antes da entrevista que resolveu falar ao grupo de jornalistas "para incentivar o trabalho cooperativo de jornalistas investigativos".