Brasileiro disse considerar Viktor Orbán um "irmão", por compartilharem a defesa de "Deus, pátria, família e liberdade". Líder húngaro vem minando instituições democráticas e perseguindo a comunidade LGBTQ de seu país.O presidente Jair Bolsonaro aproveitou seu encontro com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, nesta quinta-feira (17/02), em Budapeste, para reforçar as afinidades entre os dois, ambos expoentes da ultradireita mundial.
Em pronunciamento após a reunião, Bolsonaro disse tratar Orbán "praticamente como um irmão, dadas as afinidades que nós temos na defesa dos nossos povos": "Nos afinamos em praticamente todos os aspectos."
Entre os valores supostamente comungados por ambos, o líder brasileiro destacou a defesa da "família bem estruturada" e de "Deus, pátria, família e liberdade".
"Considero o seu país o nosso pequeno grande irmão. Pequeno se levarmos em conta as nossas diferenças nas respectivas extensões territoriais. E grande pelos valores que nós representamos, que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade. Comungamos a defesa da família com muita ênfase, uma família bem estruturada faz com que a sua respectiva sociedade seja sadia, e não devemos perder esse foco", afirmou Bolsonaro.
Orbán foi um dos poucos chefes de Estado a comparecerem à posse de Bolsonaro em Brasília, em janeiro de 2019.
Orbán e o Estado de direito
Viktor Orbán é um político de ultradireita, iliberal, que comanda o governo húngaro desde 2010 e minou instituições democráticas de seu país por meio de reformas eleitorais, da ampliação do controle da mídia e do aparelhamento do Estado.
O governo Orbán também vem aumentando a pressão contra a comunidade LGBTQ. Em 2020, legisladores aprovaram uma lei proibindo pessoas trans de mudarem de gênero e promulgaram uma emenda constitucional estipulando que "mãe é uma mulher e pai é um homem". Uma legislação recente também torna impossível, na prática, a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Em junho de 2021, o parlamento aprovou uma lei que proíbe a "representação e promoção" da homossexualidade e do sexo para menores em geral, que na prática estigmatiza ainda mais a população LGBTQ.
Nesta quarta-feira, Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) autorizou que o bloco bloqueie repasses de recursos à Hungria por violações do Estado de direito.
A Hungria realiza eleições nacionais em abril. De forma inédita no país, seis partidos da oposição decidiram lançar um candidato único, escolhido num processo de prévias. As pesquisas de intenção de voto indicam uma disputa apertada entre o bloco oposicionista e o partido Fidesz, de Orbán.
Bolsonaro: "Guerra não interessa a ninguém"
O presidente brasileiro também conversou com Orbán sobre a crise em torno da Ucrânia, que opõe a Rússia e países do Ocidente, e defendeu uma solução pacífica para o conflito. Na quarta-feira, Bolsonaro já havia se reunido com o presidente russo, Vladimir Putin.
"Passei para ele [Orbán] o meu sentimento que tive dessa viagem, até mesmo pela coincidência de ainda estarmos em voo para Moscou e parte das tropas russas terem sido desmobilizadas da fronteira. Sendo coincidência ou não, entendo como um gesto de que a guerra não interessa a ninguém. E não interessa ao mundo que dois países entrem em guerra, porque todos perdem com isso", afirmou Bolsonaro.
Em sua fala, Orbán declarou que a visita do mandatário brasileiro era uma "grande honra" e elogiou os "muito preciosos" esforços diplomáticos dele para discutir a crise na Ucrânia durante sua visita a Moscou.
Destruição da floresta "não existe"
Antes de se reunir com Orbán, Bolsonaro teve uma audiência com o presidente húngaro, János Áder, que, segundo o brasileiro, priorizou a questão ambiental, e onde ele teve a oportunidade de apresentar a Áder sua perspectiva sobre a Amazônia.
"Muitas vezes, as informações sobre essa região chegam para fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se nós fôssemos os grandes vilões, no que se leva em conta a preservação da floresta e sua destruição, coisa que não existe", afirmou.
"Nós nos preocupamos até mesmo com o reflorestamento, coisa que não vejo nos países da Europa como um todo. Essa desinformação passa por um ataque à nossa economia, que vem obviamente em grande parte do agronegócio."
Bolsonaro também mencionou a Amazônia após a reunião com Putin, quando agradeceu ao russo pelo empenho em defender a soberania brasileira sobre a região, referindo-se a um embate ocorrido em agosto de 2019 entre ele e o presidente francês, Emmanuel Macron.
Monitoramentos por satélite e estudos vêm apontando que o desmatamento da Amazônia registrou forte alta no governo Bolsonaro e, em janeiro, bateu o recorde para o mês desde o início da série histórica, em 2015.
A visita de Bolsonaro à Hungria também resultou na assinatura de três memorandos de entendimento entre os dois países, sobre cooperação na área de defesa, em ações humanitárias e para a gestão de recursos hídricos e saneamento.
bl/av (ots, Lusa, AFP)