Nas redes, radicalização de Bolsonaro não ajuda e apoiadores perdem espaço, mostra FGV

30 mar 2020 - 18h21
(atualizado às 18h31)

Eleito com uma campanha maciça nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores vem perdendo espaço nas redes e, mesmo com a radicalização que animou os bolsonaristas mais radicais nos últimos dias, o governo não conseguiu mais recuperar um espaço significativo, mostra um levantamento da Sala de Democracia Digital da Fundação Getulio Vargas.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, reage ao encontrar partidários ao deixar o Palácio da Alvorada, enquanto a propagação da doença do coronavírus (Covid-19) continua em Brasília, Brasil. 30/03/2020. REUTERS/Ueslei Marcelino.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, reage ao encontrar partidários ao deixar o Palácio da Alvorada, enquanto a propagação da doença do coronavírus (Covid-19) continua em Brasília, Brasil. 30/03/2020. REUTERS/Ueslei Marcelino.
Foto: Reuters

O levantamento passado com exclusividade à Reuters nesta segunda-feira mostra que o grupo bolsonarista chegou a ocupar 10% no debate no Twitter com menções favoráveis ao governo, quando na semana passava ficava entre 6% e 8%.

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"Eles recuperaram um pouco de espaço porque a máquina de disseminação de informações começou muito aguda, levantou as carreatas e esse tipo de ação defensiva do campo ideológico bolsonarista. Mas é uma coisa insustentável", disse à Reuters Marco Aurelio Ruediger, diretor de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas.

A análise mostra que, ao mesmo tempo em que apoiadores bolsonaristas conseguiram um pouco mais de movimento, a oposição político-partidária também cresceu nas redes, e mais do que o presidente.

Na última sexta-feira, chegara a ocupar 25% do debate, e desde a quinta-feira se mantém acima de 19%. O ex-candidato à Presidência Ciro Gomes, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ocuparam espaços políticos antes dedicados ao bolsonarismo.

"O espaço do bolsonarismo vem caindo desde o início da epidemia e se intensificou no semana passada desde o pronunciamento", explica Ruediger. "Havia uma situação de muita polarização e um centro muito fraco nas redes. O que aconteceu foi que o centro cresceu muito pela ação conjunta da oposição, a minimização do problema (do coronavírus) pelo presidente, e uma série de figuras do centro político que acabou se juntando ao centro-esquerda e à esquerda na crítica."

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Isso tudo em um momento em que a pandemia continua sendo assunto central nas redes. O volume de menções segue muito alto no Twitter. Entre quinta-feira da semana passada e domingo, houve mais de 19,6 milhões de menções ao assunto no Brasil, sempre com volumes superiores a 4,3 milhões de postagens por dia.

Esta semana, depois de mais uma vez desafiar os críticos e sair para passear por Brasília, Bolsonaro experimentou duas situações não muito comuns: na primeira teve dois de seus posts no Twitter apagados por violar as regras da rede de disseminar informações distorcidas ou perigosas em relação à epidemia de coronavírus. Antes dele, apenas o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, teve posts apagados na região.

A segunda, ouvir, durante seu passeio e nesta manhã, em frente ao Palácio da Alvorada, críticas, mesmo suaves de populares. No domingo, em um bairro de classe média alta de Brasília, ouviu de uma mulher a defesa do isolamento social. Nesta segunda, em frente ao Alvorada, outra pessoa defendeu a permanência do ministro da Saúde, Henrique Mandetta.

"Dá apoio para o Mandetta. Mantém ele. Não dê munição para inimigo não", disse a senhora, que estava entre os apoiadores que o esperam pela manhã no Alvorada.

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"O que a gente tem é uma situação que transita em uma certa irracionalidade de seguidores e com cálculo político muito perverso. O risco foi subestimado desde o início, associado à necessidade de ações que o governo não queria fazer", disse Ruediger. "Apostaram errado, e Bolsonaro foi cada vez mais dobrando a aposta."

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