O dia em que o vermelho foi hostilizado pelo verde e amarelo

Os discursos e demandas variavam, mas o sentimento de repulsa ao vermelho do PT era quase unânime

15 mar 2015 - 20h02
(atualizado em 13/7/2018 às 10h40)
Foto: Daniel Favero / Terra

Nem as expectativas mais otimistas acreditavam no número de pessoas que se viu nas ruas neste domingo em Porto Alegre. Durante as semanas, os organizadores trabalhavam com a hipótese de que de 10 mil a 15 mil compareceriam, mas os número oficiais da polícia militar apontaram 100 mil manifestantes pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A pauta dos organizadores era clara: derrubar a presidente Dilma da presidência. No entanto, as hipóteses de como isso poderiam acontecer variavam muito de acordo com quem opinava. Os mais radicais defendiam a volta dos militares por três meses, para depois devolverem o poder ao povo, como afirmava Mirna Borella, ao lado do marido, Eduardo Bravo, que carregavam cartazes pedindo a volta dos milicos.

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“É necessária uma intervenção para que o País seja passado a limpo”, dizia ele, “se os militares não fizessem o que fizeram, hoje nós seriamos uma Cuba”, completava. “O Lula declarou guerra, colocou a tropa do MST nas ruas, eu não sei o que vai ser daqui pra frente”, afirmava Mirna. Ao lado dos dois uma senhora protestava, “eu sou filha de militar e não quero que eles voltem ao poder”.  Mais tarde, uma militante em favor da volta da ditadura foi hostilizada por manifestantes.

100 mil manifestantes pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff
Foto: Daniel Favero / Terra

Corrupção, declínio econômico do Brasil, o desarmamento da população, e fraudes eleitorais baseadas em boatos que circularam pelas redes nessa semana estavam na boca de vários dos manifestantes. No entanto, em comum eles carregavam a ojeriza ao Partido dos Trabalhadores.

“Nossa bandeira não é vermelha, é verde e amarela. Vocês viram alguma bandeira do Brasil nos atos de quinta e sexta-feira?”, indagava um dos organizadores do evento do alto do carro de som. “Aqui ninguém recebeu sanduiche de mortadela ou R$ 35 para vir”, completava.

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O que se viu foi essa clara divisão. Durante a caminhada de mais de 10 quilômetros, a cor vermelha foi a principal  vítima dos manifestantes, que reagiam com muita vaia a cada pano vermelho que pessoas penduravam nas janelas em tom de provocação. Em determinado momento, uma estudante foi quase agredida por estar com uma camiseta vermelha. Foi preciso a ação da polícia militar para protegê-la.

Foto: Daniel Favero / Terra

“Eu estava ao lado de um rapaz que estava discutindo com um manifestante e quando viram que eu estava com uma camiseta vermelha vieram para cima de mim”, reclamou Sara Menezes. “Isso para mim mostra que essa manifestação não é democrática”, criticava.

Elite branca e Dazelite

Durante a semana, os críticos das manifestações de hoje colocavam a mobilização como um ato oriundo das classes mais abastadas.  O que se viu foi que isso virou  piada para os manifestantes. Com um cartaz com os dizeres “elite branca” Sérgio Herescau protestava dizendo que “estão tentando dividir o País entre pobres e não pobres, mas todo o trabalhador que paga seus impostos é elite”, afirmava, dizendo ainda que também foi às ruas no começo da década de 90 para pedir a derrubada de Collor.

Foto: Daniel Favero / Terra

Com uma camiseta mais bem humorada, Eduardo Decker, mostrava o Dazelite, uma brincadeira com o nome da loja Daslu, que já rendeu a Daspu e Daspresas. “Isso é um escracho contra essa falácia de que só a elite veio para as ruas, por isso, resolvi criar essa marca, quem sabe daqui a pouco abro uma grife”, brincava.

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Foto: Daniel Favero / Terra

100 mil surpreendem organizadores

Para os organizadores 100 mil pessoas nas ruas superaram qualquer expectativa, “mostrou a indignação generalizada Brasil  à fora com os fatos que se desenvolveram nos últimos 12 anos (de governo PT), em especial no último ano, quando se deram as denúncias da Lava-Jato (que investiga desvios na Petrobras)”, disse um dos organizadores Fabio Ostermann.

Segundo ele, trabalhadores e estudantes aderiam à mobilização, e novos protestos já estão sendo articulados em todo o País como forma de pressionar o Legislativo por um processo de impeachment de Dilma.

“Nosso objetivo aqui é gerar repercussão no Congresso,  e vamos ficar atentos à movimentação ao longo das próximas semanas e agir com base nisso.  Nosso objetivo é mostrar o clamor popular em nome da ideia do impeachment, mas melhor ainda seria que ela tivesse a dignidade de renunciar”, afirma Ostermann.

 

 

 

Pronunciamento do governo é recebido com panelaço
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Fonte: Terra
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