Uma ponte que liga os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) cedeu na tarde de domingo (22/12) e parte da estrutura caiu sobre o rio Tocantins. Ao menos duas pessoas morreram e doze estão desaparecidas.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, ao menos oito veículos caíram no rio: quatro caminhões, dois automóveis e duas motocicletas.
Um dos veículos estava carregado com ácido sulfúrico e outro carregava herbicidas. Os municípios emitiram notas pedindo que cidadãos evitem contato com a água do rio, por risco de contaminação.
O governo de Tocantins emitiu alerta à população que vive em torno do rio sobre "alto risco à saúde pública" por causa da queda dos produtos.
Equipes técnicas dos dois Estados informaram que será feita avaliação da qualidade da água e possíveis impactos ambientais.
O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Tocantins Donaldo Lourinho de Oliveira disse à BBC News Brasil que não há risco de colapso do restante da estrutura remanescente da ponte.
Uma equipe da corporação estava fazendo uma varredura na superfície para tentar localizar veículos no início da tarde desta segunda-feira, 23. "Uma vez que a gente identificar a localização, vamos sinalizar onde estão e entrar na etapa de mergulho", disse.
O professor de engenharia civil da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Fabio Ribeiro, especializado em patologia das construções, disse à reportagem que o acidente é resultado de uma série de falhas e que os problemas na ponte já eram conhecidos.
"É uma ponte relativamente antiga, que foi projetada e construída em condições bem diferentes do que se faz hoje. Já existia, por parte de moradores locais, denúncias. Alguns ex-alunos meus que moram na região falam que há mais de dez anos já se identificava alguns desses problemas".
Para o especialista, era evidente a necessidade de manutenção do equipamento. "As imagens mostram armadura exposta (aço que fica dentro do concreto), rachaduras e trincas. Essa armadura exposta gera um grande problema, que é a corrosão, que é progressiva. Chega um momento em que a ponte não suporta mais a carga", diz.
"Não dá pra afirmar que não se sabia. Temos um grande problema no Brasil em relação à inspeção de pontes. Nao é feita como deveria. Quando é feita, muitas vezes barra na questão orçamentária e os reparos não são feitos."
Em nota, o Ministério Público do Estado do Maranhão informou que será aberto um procedimento para apurar "eventuais repercussões ambientais". O caso ficará a cargo da Promotoria de Justiça de Estreito.
Já o Ministério Público do Tocantins disse que "aguarda a conclusão dos laudos técnicos e diagnósticos pelos órgãos responsáveis para analisar possíveis providências em todas as áreas de sua atuação."
Ministro diz que causa será apurada
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) anunciou, ainda no domingo, a interdição total no local, na BR-226/TO, e disse que equipes iriam apurar as possíveis causas da queda da ponte e tomar as medidas necessárias.
O governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa, afirmou que conversou com o ministro dos Transportes, Renan Filho, para que seja decretado estado de emergência e feita a reparação da ponte.
O ministro publicou um vídeo na noite de domingo em que disse que cancelou seus compromissos para ir ao local para "verificar quais as causas, determinar uma apuração profunda do que ocorreu e iniciar as tratativas para reparação da ponte."
Em uma coletiva de imprensa, o ministro afirmou que será instaurada uma sindicância para apurar responsabilidades. Disse ainda que a reconstrução da ponte deve ser feita em 2025. "Vamos trabalhar dedicadamente para fazer dessa ponte um grande case de organização e capacidade resolutiva do Ministerio de Transportes."
'Nossa cidade está em choque'
Um vereador de Aguiarnópolis, Elias Junior (Republicanos), gravava uma denúncia sobre a falta de manutenção da ponte e acabou flagrando o momento em que a estrutura começa a ceder. Ele mostrava rachaduras no chão quando, de repente, aparece um buraco na ponte. No vídeo, é possível ouvir a pessoa que o filmava gritando: "olha, sai daí! Sai de perto, doido, meu deus do céu".
Ele disse à BBC News Brasil que os reparos eram uma reivindicação frequente dos moradores e que, por isso, foi ao local fazer os vídeos. "É uma ponte que tem mais de 60 anos. Já estava gerando grandes preocupações. Nunca imaginaria que eu estaria gravando a situação bem na hora da tragédia", disse. "Descemos aqui com a mão na cabeça, como se estivéssemos dentro de um filme. Nossa cidade está em choque."