O tesouro em minerais raros encontrado em montanha submarina no Oceano Atlântico

20 abr 2017 - 08h54
(atualizado às 08h58)
Batizada de Tropic, o monte próximo às Ilhas Canárias tem 3 mil metros de altura e apenas um terço dele se destaca na superfície do Atlântico
Batizada de Tropic, o monte próximo às Ilhas Canárias tem 3 mil metros de altura e apenas um terço dele se destaca na superfície do Atlântico
Foto: NOC / BBC News Brasil

Em uma montanha submarina, nas águas do Oceano Atlântico, está um tesouro de raros minerais.

Uma equipe de investigadores do Centro Nacional de Oceanografia (NOC, na sigla em inglês) do Reino Unido identificou um crosta de rochas extremamente rica em minerais raros nas paredes desse monte, a 500 quilômetros das Ilhas Canárias.

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Amostras trazidas à superfície detectaram a presença de uma substância rara conhecida como telúrio em concentrações 50 mil vezes mais elevadas que as já identificadas na terra. O telúrio, comum em ligas metálicas, é usado também em um tipo avançado de painel solar.

A montanha também contêm minerais e terras-raras usados na fabricação de turbinas eólicas e em dispositivos eletrônicos.

A descoberta levanta uma questão delicada: se a busca por recursos alternativos de energia pode impulsionar a exploração mineral no fundo do mar.

Controvérsia

O monte submarino, cujo nome é Tropic, tem três mil metros de altura e seu cume fica a 1 mil metros da superfície.

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Os pesquisadores do Centro Oceanográfico Nacional do Reino Unido usaram robôs submarinos para investigar a crosta de grãos finos que cobre toda a superfície da montanha e tem espessura de quatro centímetros.

Bram Murton, líder da expedição que explora a Tropic, contou à BBC que esperava encontrar minerais em abundância no local, mas jamais imaginou que as concentrações dos mesmos seriam tão elevadas.

"Esta crosta é incrivelmente rica e é isso que faz com que essas rochas sejam incrivelmente especiais e valiosas do ponto de vista de recursos", explicou.

Estima-se que o Monte Tropic tenha 2.670 toneladas de telúrio, mineral usado como semicondutor e comum em placas de energia solar
Foto: NOC / BBC News Brasil

Debate necessário

Murton calcula que as 2.670 toneladas de telúrio da montanha equivalem a um duodécimo de todo o consumo mundial.

O pesquisador deixou claro que não está defendendo a prática da mineração no mar. A atividade foi recentemente regulamentada pela ONU, mas já provoca controvérsia pelos danos potenciais que pode causar ao meio ambiente marinho.

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Ainda assim, Burton quer que a descoberta da equipe dele - parte de um projeto mais amplo chamado MarineE-Tech - provoque um debate sobre de onde devem vir os recursos vitais.

"Se precisamos de energia verde, precisamos de materiais para construir dispositivos capazes de gerar esse tipo de energia [limpa]. E esses materiais têm de vir de algum lugar", disse.

"Ou os tiramos da terra e fazemos um buraco lá. Ou os tiramos do fundo do mar e fazemos ali um buraco comparativamente menor", afirmou Murton, que acredita que esse é um dilema que precisa ser enfrentado por toda a sociedade. "Tudo o que fazemos tem um custo".

Pesquisadores têm pesquisado benefícios e riscos da mineração em terra e no mar.

A descoberta do Mont Tropic levanta o debate sobre vantagens e riscos da mineração no fundo do mar
Foto: NOC / BBC News Brasil

Vantagens e desvantagens

De forma geral, a mineração em terra implica em desmatar, remanejar povoados e construir vias de acesso para remover rochas com concentrações relativamente baixas de minerais (ou de minério).

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No mar, por sua vez, os minérios são muito mais ricos, ocupam uma área menor e o impacto imediato sobre populações é bem menor. A desvantagem é que a vida marinha nas áreas de extração corre praticamente morre, e esse efeito devastador pode se estender rapidamente e, potencialmente, comprometer uma grande área.

Uma das principais preocupações é o efeito da poeira produzida ao se cavar o fundo do mar, que pode viajar longas distâncias e afetar organismos vivos pelo caminho.

Para entender as possíveis implicações, a expedição britânica realizou um experimento no qual tentou reproduzir os efeitos da mineração para medir a quantidade de pó produzido.

Os resultados preliminares, disse Murton, mostram que a poeira não é facilmente detectada a um quilômetro de distância além da fonte. Isso indica que o impacto da mineração submarina poderia ser mais localizado do que o inicialmente previsto.

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Rico como a floresta tropical

Outro estudo, conduzido pelo mesmo grupo, avaliou evidências fornecida pela exploração do fundo do mar em curso e concluiu que muitas criaturas marítimas afetadas se recuperariam em um ano. Poucas, entretanto, voltariam a alcançar seus níveis anteriores, mesmo depois de duas décadas.

Uma pesquisa focou em organismos minúsculos no leito do Oceano Pacífico, na região conhecida como Zona Clarion-Clipperton, ao sul do Havaí.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) - uma organização ligada às Nações Unidas - autorizou empresas de 12 países a buscar minerais nas rochas do fundo do mar dessa região.

De acordo com Andy Gooday, professor do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, as rochas do fundo do mar têm uma variedade de organismos unicelulares do tipo xenophyophorea muito maior do que se esperava.

Esses organismos estão nos degraus mais inferiores da cadeia alimentar marinha. Também desempenham um papel importante na formação de estruturas sólidas - como se fossem recifes de coral em miniatura - e fornecem habitats para outras criaturas marinhas.

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Professor compara a riqueza da vida marinha com a identificada numa floresta tropical
Foto: BBC / BBC News Brasil

Para Gooday, a vida identificada nos sedimentos do oceano profundo é comparável à que existe em uma floresta tropical e "é muito mais dinâmica" do que imaginava.

"Se você remover os organismos unicelulares, que são muito frágeis e certamente serão eliminados pela mineração, outros organismos também serão destruídos", disse.

"É difícil de prever e, como todo o oceano está conectado aos efeitos da mineração, precisamos aprender mais. Nós ainda sabemos muito pouco sobre o que está acontecendo lá em baixo", completou.

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