ONG diz que vai cancelar site do Movimento Passe Livre

A Alquimídia recebeu patrocínio de R$ 697 mil do Ministério da Cultura e da Petrobras para projeto de cultura digital até novembro de 2012

13 jun 2013 - 12h02
(atualizado às 20h44)
O responsável pelo domínio do site do Movimento Passe Livre é Thiago Skárnio, diretor da ONG Alquimídia, patrocinada pelo Ministério da Cultura e Petrobras
O responsável pelo domínio do site do Movimento Passe Livre é Thiago Skárnio, diretor da ONG Alquimídia, patrocinada pelo Ministério da Cultura e Petrobras
Foto: Reprodução

Envolta em uma polêmica após ter seu nome vinculado ao Movimento Passe Livre (MPL), que vem protestando contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, a ONG Alquimídia, sediada em Florianópolis (SC), afirmou nesta quinta-feira que vai pedir o cancelamento ou a transferência do registro do site do MPL. O colunista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, trouxe a informação na última terça-feira de que o responsável pelo domínio do endereço eletrônico é Thiago Skárnio, que também dirige a ONG - cujos patrocínios recebidos do Ministério da Cultura e da Petrobras somam R$ 697,6 mil. Skárnio garante, porém, não existir vínculos entre a organização e o MPL, o que é confirmado pelos manifestantes.

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"Não somos 'vinculados' ao MPL. Se você se refere ao domínio, sim, estamos em processo de cancelamento ou transferência. A função do site já não é prioritária. Na época era necessário, mas hoje, com as redes sociais e outros servições de domínio, é desnecessário. Já enviamos e-mails para os responsáveis técnicos do site perguntando o que eles preferem: transferir ou cancelar o domínio", disse ele.

O diretor da ONG explicou que uma das funções da Alquimídia é dar apoio tecnológico a organizações do terceiro setor e movimentos sociais, por isso mantém o registro do site do MPL. "Cubro o Movimento Passe Livre desde a sua criação. Em função dessa atuação, integrantes do MPL me procuraram para registrar o domínio mpl.org.br, que precisava de um CNPJ para executar o processo. (...) Eu, particularmente, acho a causa do transporte público gratuito e de qualidade para toda a população legitima. A cultura do automóvel está matando as cidades", afirmou. 

Patrocínio do governo para cultura digital

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Organização sem fins lucrativos que reúne comunicadores, artistas e programadores de tecnologia para a diversidade cultural e o acesso à informação, a Alquimídia foi fundada em 2002 em Santa Catarina por um coletivo de mídia alternativa. Hoje, a ONG mantém atividades em setores como cultura, comunicação, educação, política pública, arte e cultura digital.

O domínio do Movimento Passe Livre está registrado em nome de Thiago Skárnio, conforme o registro.br
Foto: Reprodução

Com o projeto "Pontão Ganesha de Cultura Digital", a organização recebeu um patrocínio de R$ 697,6 mil do governo, por meio do Fundo Nacional de Cultura, para promover o "intercâmbio e difusão da cultura brasileira em suas mais diversas linguagens e formas, no âmbito regional ou nacional, gerido por ente público ou privado sem fins lucrativos conveniado ao Ministério da Cultura. Thiago Skárnio, um dos coordenadores do projeto, assegura que não existe a possibilidade de rompimento do patrocínio devido à polêmica com o MPL.

"Temos reconhecimento por um trabalho de anos e prestações de contas em dia. Não existe motivo para isso. Essa relação entre projetos de cultura aprovados com financiamento de protestos é uma das situações mais estapafúrdias que lidei. Qualquer um que trabalha ou já trabalhou com um projeto com cronograma, orçamento e prestação de contas sabe o que estou falando", salientou.

Segundo o Portal da Transparência, foram repassados R$ 348,8 mil para o convênio, que começou em dezembro de 2010 e vai até julho deste ano.

A Petrobras, no entanto, afirmou que o contrato que tinha com a Alquimídia foi encerrado em novembro de 2012. "O contrato de patrocínio ao projeto Alquimídia = Cultura + Digital foi encerrado em 3/11/2012 e destinava-se a reunir em um único portal os dados de todos os equipamentos culturais do Estado de Santa Catarina, tais como teatros, museus, entre outros", disse a companhia em nota. A Petrobras também informou que já solicitou à ONG que retire de seu site a logomarca da empresa.

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O Terra também entrou em contato com o Ministério da Cultura, mas ainda não obteve retorno.

Protesto dura cerca de seis horas

Na terça-feira, após seis horas de protesto contra o aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô na capital paulista, foram registrados pelo menos 20 prisões de manifestantes e três casos de policiais militares feridos por pedras. 

A manifestação iniciou de maneira pacífica, mas os primeiros tumultos começaram logo no início da passeata, na rua da Consolação, onde um jovem ciclista foi detido ao trafegar na única faixa liberada na via. A partir daí, o clima continuou tenso, com novos episódios de confronto entre manifestantes e policiais militares. 

A situação se agravou, porém, em frente ao terminal de ônibus Parque Dom Pedro. Após cerca de 20 minutos concentrados em frente à parada, um grupo de jovens tentou levar a passeata ao local, entregando flores aos policiais, mas foi impedida pela PM, que disparou bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. 

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A PM não soube informar quantos manifestantes ficaram feridos, mas o Terra presenciou vários jovens sendo atingidos por cassetetes e balas de borracha disparados pelos policiais. Pelo menos dois manifestantes ficaram feridos após serem atropelados por um motorista, que dirigia um Fiat Uno, que se irritou com a manifestação e atirou o carro contra os jovens - um homem e uma mulher, que não se feriram com gravidade.

Segundo os organizadores, o objetivo da manifestação era "parar o País para serem escutados em Paris", em referência à cidade para onde o prefeito, Fernando Haddad (PT), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), foram para defender a candidatura da cidade para ser sede da Expo2020. No início do protesto, muitos passageiros de ônibus demonstraram apoio à passeata, aplaudindo a manifestação. Entretanto, a pichação dos veículos - muitos ônibus - e de prédios públicos foi reprovada por muitas pessoas que assistiam ao protesto.

Confrontos

O protesto foi marcado por confrontos entre os manifestantes e policiais militares. Um grupo usou lixeiras e pedras para destruir vidraças de agências bancárias. Na rua Silveira Martins, o diretório do PT também foi apedrejado. A Tropa de Choque da PM usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes, após o confronto no terminal de ônibus do parque Dom Pedro. Com isso, grande parte dos participantes do ato subiu para a avenida Paulista.

A manifestação teve início, no fim da tarde, com uma concentração no fim da Paulista. Depois saiu em passeata pela rua da Consolação. Em seguida, os participantes bloquearam completamente a Radial Leste, pegaram a avenida Liberdade, passando pela praça da Sé. Na avenida Rangel Pestana, um pequeno grupo apedrejou e queimou um ônibus elétrico que estava estacionado. No parque Dom Pedro, eles foram impedidos pela polícia de entrar no terminal de ônibus.

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Fonte: Terra
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