A oposição avalia os próximos passos após o vazamento de supostas conversas que sugerem colaboração entre o então juiz Sergio Moro --hoje ministro da Justiça-- e os procuradores da operação Lava Jato, mas já promete obstrução às votações na Câmara dos Deputados e pede a saída de Moro do ministério.
Integrantes da oposição aguardam a divulgação de novidades sobre o assunto, mas já estudam a possibilidade de apresentar um pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), além de pedidos de convocação dos envolvidos.
Mas para efetivarem as medidas em estudo precisam, invariavelmente, de apoio e de votos do chamado centrão. Por isso mesmo, lideranças da oposição devem se reunir ainda nesta segunda-feira com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
"Cabe ao Parlamento brasileiro entrar nas investigações", afirmou a líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), ao classificar como "criminosas" as condutas de Moro e do coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba, Deltan Dallagnol.
O site Intercept Brasil publicou no domingo uma série de reportagens com base no que diz serem arquivos recebidos de uma fonte anônima mostrando suposta colaboração entre Moro e Dallagnol.
"Vamos obstruir todas as pautas. Não vamos votar mais nada. Não vamos permitir a apresentação do relatório da Previdência", disse a deputada.
Jandira e outros líderes da oposição argumentaram que Moro e Dallagnol deveriam ser afastados dos cargos que ocupam e que seus celulares funcionais devem ser recolhidos para que não haja prejuízo às investigações sobre o caso.
O líder do PT na Casa, Paulo Pimenta (RS), defendeu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) instaurem procedimentos disciplinares administrativos para verificar as condutas dos envolvidos, já que trata-se de um "escândalo de proporções ainda desconhecidas".
"Queremos a renúncia do juiz Sergio Moro, o afastamento do juiz Sergio Moro", afirmou Pimenta, acrescentando que o assunto não se restringe a uma demanda da esquerda e "transcende" a natureza partidária.
O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), afirmou que, segundo as conversas divulgadas, Moro extrapolou suas atribuições de juiz.
"Juiz não investiga. E tão claramente ele prejudicou as investigações que foram feitas na Lava Jato", pontuou. "Ele atuou como um agente político-partidário, combinado com o procurador Deltan Dallagnol e articulado com a Polícia Federal."
Integrantes do grupo de oposição afirmaram que os contatos com o chamado centrão já estão ocorrendo, mas admitem que um posicionamento do grupo político não deve ocorrer de imediato.
Segundo um deles, o apoio do centrão está condicionado a um timing político específico, que envolve a análise de um caso jurídico envolvendo nomes do PP na terça-feira em uma das turmas do Supremo Tribunal Federal (STF).
Também deve pesar na avaliação do grupo político o impacto do vazamento no governo ao longo da semana, já que há expectativa de novas publicações sobre o tema.