Após Bolsonaro desaconselhar realização de manifestações contra o Congresso devido à disseminação do vírus, movimentos seguem recomendação, mas reforçam que congressistas devem levar em conta interesses da população.Movimentos que convocaram as manifestações a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro que estavam previstas para o próximo domingo, 15 de março, anunciaram nesta quinta-feira (12/03) o cancelamento dos atos devido à propagação do novo coronavírus.
O Ministério da Saúde confirmou, na tarde desta quinta, 77 casos de infecção pelo vírus causador da doença respiratória covid-19. Pela noite, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, confirmou mais 60 infecções, fazendo com que o total no país chegasse a 137. Nenhuma morte em decorrência do coronavírus foi registrada em território brasileiro até o momento.
"Os casos de coronavírus tiveram um incremento muito grande no Brasil nas últimas 24 horas. Deixaremos as manifestações para um momento oportuno onde todos poderão se manifestar de maneira segura, pacífica, em prol da necessidade que nós temos hoje de políticos que olhem para as vontades do povo brasileiro", afirmaram em vídeo divulgado no Facebook Marcos Bellizia e Walther Pinheiro, do movimento Nas Ruas, um dos principais organizadores dos atos do dia 15.
"Pedimos senso de urgência dos deputados e deputadas para aprovarem as reformas administrativa e tributária. Isso fará bem para 100% dos brasileiros", disse Bellizia. "O Brasil tem pressa", completou Pinheiro.
Os atos foram convocados por defensores do governo em apoio aos militares e contra o Congresso, após declarações do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que em fevereiro fez graves críticas aos parlamentares.
Em nota, o Nas Ruas disse ter cancelado sua participação nas manifestações após solicitação de Bolsonaro. Em sua live semanal nas redes sociais, o presidente apareceu ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e de uma intérprete de libras - os três usando máscaras. Na live e em pronunciamento em rede nacional realizado pouco depois, Bolsonaro desaconselhou a realização dos protestos.
Bolsonaro disse estar aguardando o resultado de seu teste para o coronavírus, que deverá chegar nesta sexta-feira (13), após a confirmação de que o secretário de Comunicação do governo federal, Fábio Wajngarten, foi diagnosticado com a doença. Ele viajou com Bolsonaro para os Estados Unidos, onde se encontraram com o presidente Donald Trump no último fim de semana.
"Nossa saúde e de nossos familiares devem ser preservadas. O momento é de união, serenidade e bom senso", afirmou o presidente. "Queremos um povo atuante e zeloso com a coisa pública, mas jamais podemos colocar em risco a saúde da nossa gente."
O presidente reconheceu ainda que o número de infectados pelo coronavírus no país pode aumentar nos próximos dias, porém disse que isso não é motivo para pânico. No mundo, o coronavírus, que surgiu na China em dezembro passado, já infectou mais de 130 mil pessoas em 123 países e territórios e causou quase 5 mil mortes. Nesta quarta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a covid-19 uma pandemia devido a seus "níveis alarmantes de disseminação".
Apesar de recomendar o cancelamento dos atos pró-governo, Bolsonaro afirmou que "um tremendo recado" já havia sido dado ao Congresso e disse que os movimentos "espontâneos e legítimos" atendiam "aos interesses da nação".
Outro grupo pró-Bolsonaro que anunciou o cancelamento das manifestações foi o São Paulo Conservador. O movimento alegou ter tomado a decisão "seguindo a linha de responsabilidade social expressa no raciocínio do presidente da República".
O movimento Avança Brasil comunicou no Facebook que, "considerando o agravamento da pandemia do coronavírus no mundo todo e em especial no Brasil essa semana" e o pedido do presidente e do Ministério da Saúde, decidiu adiar sua participação nos atos do dia 15. O grupo convocou, no entanto, um "megapanelaço" para as 20h de domingo contra as "atitudes de congressistas irresponsáveis que não têm o Brasil acima de tudo e que somente pensam em seus benefícios particulares".
Entre os movimentos que também cancelaram participação no ato estão também República de Curitiba e Movimento Direita Digital (MDD) e Brasil Nova Atitude (BNA). Os organizadores afirmam que uma nova data para a adesão aos atos será comunicada em breve.
Enquanto isso, o Movimento Conservador - antigo Patriotas do Brasil - manteve sua participação nos protestos, afirmando aguardar uma recomendação das autoridades competentes. Nesta quinta, o governador de São Paulo, João Doria, disse não haver nenhuma recomendação do governo estadual para cancelamento de eventos públicos, mas apenas a orientação de que pessoas com mais de 50 anos evitem aglomerações.
LPF/ots
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