O Palácio do Planalto excluiu o jornal Folha de S.Paulo da cobertura do jantar entre os presidentes brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) e o americano Donald Trump, na noite deste sábado (7), na residência de veraneio do republicano em Mar-a-Lago, na Flórida.
Como o espaço de cobertura no local é limitado, a Casa Branca orientou o Itamaraty a selecionar 15 jornalistas, dos mais de 70 credenciados, para acompanhar o evento in loco. Segundo o Itamaraty, coube à Secretaria de Comunicação da Presidência fazer a seleção dos profissionais da imprensa que seriam incluídos no seleto grupo.
Na sequência, funcionários do Itamaraty ficaram responsáveis por telefonar para os repórteres selecionados para solicitar dados adicionais, como cidade de residência e informação de viagem nos últimos 30 dias, e repassá-las às autoridades americanas.
Entre os selecionados, estavam repórteres das TVs Record, Globo, SBT, Band e EBC, dos jornais O Globo e Estadão, da rádio Jovem Pan, das agências Reuters e Bloomberg e do site Metrópoles — a lista completa de veículos selecionados não foi divulgada pelo Itamaraty.
Nem a correspondente da BBC News Brasil, nem a da Folha, no entanto, receberam ligações para se juntar ao grupo.
Questionados pela BBC News Brasil ainda na noite desta sexta, dia 6, nem o Itamaraty, nem a Secretaria de Comunicação informaram quais critérios foram adotados para incluir ou não um profissional na cobertura do jantar. Mas adicionaram o nome da repórter da BBC ao grupo ainda na noite de sexta.
No entanto, a repórter da Folha não foi incluída. Na manhã deste sábado, durante reunião com os jornalistas para detalhar a agenda de quatro dias do presidente Bolsonaro em território americano, os profissionais da Secretaria de Comunicação ofereceram diferentes explicações sobre a exclusão. Inicialmente disseram que apenas veículos com cobertura diária do Palácio do Planalto estariam no grupo, mas a Folha tem ao menos dois correspondentes de Planalto.
Na sequência, disseram que foram incluídos aqueles profissionais que enviaram mais rápido os dados requisitados pela segurança americana. Mas nem a repórter da BBC, nem a da Folha foram contatadas para fazê-lo, embora estivessem presentes no grupo de WhatsApp gerenciado pelo Itamaraty e pelo Planalto para organizar a cobertura da viagem.
O representante do Itamaraty afirmou ainda que eles haviam sido orientados por seus superiores a não comentar os motivos para exclusão da profissional. A BBC solicitou uma nota ao Planalto em que pede explicações sobre o caso, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Em nota sobre a exclusão da cobertura do jantar entre Trump e Bolsonaro, a Folha afirmou que "a Presidência mais uma vez discrimina a Folha, o que já se tornou método de perseguição".
A Folha de S.Paulo e seus repórteres têm sido alvo de críticas e ataques do governo. O jornal publicou reportagens em que mencionava o caso da Wal do Açaí, uma funcionária que constava da folha de pagamento do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro mas que dava expedientes em sua loja de açaí na região de Angra dos Reis (RJ) e, outra, em que relatava o uso de disparos em massa de mensagens que beneficiaram a campanha do então candidato presidencial do PSL.
Bolsonaro nega qualquer irregularidade nos dois casos.
Recentemente, o veículo revelou que o chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten, possui uma empresa de comunicação que presta serviços para os mesmos veículos para os quais ele determina a destinação de recursos públicos em publicidade. Wajngarten nega conflito de interesses.
No ano passado, o jornal chegou a ser excluído de licitação federal para fornecer conteúdo aos órgãos públicos, medida da qual o Planalto recuou.