O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello classificou nesta sexta-feira como imprópria a tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na escolha do diretor-geral da Polícia Federal, o que culminou no pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça, avaliando que o país agora vive uma "crise institucional", em meio à pandemia do novo coronavírus.
"Isso é impróprio porque a Polícia Federal não é um órgão de governo, é uma polícia de Estado. Não dá para confundir", disse Marco Aurélio em entrevista por telefone à Reuters.
Em pronunciamento mais cedo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na escolha do novo diretor-geral da PF e disse que o presidente queria mudar o comando da corporação usando como uma das alegações preocupação com o andamento de investigações autorizadas pelo Supremo, que serão conduzidas pela corporação.
Segundo ministro mais antigo do Supremo, Marco Aurélio elogiou o pronunciamento de Moro.
"Minha admiração por ele só cresceu", disse. "Tudo foi exposto pelo ministro (Moro) de forma muito clara", completou.
Marco Aurélio disse, no entanto, que é preciso aguardar os desdobramentos, sendo ainda cedo para se pronunciar sobre o que vai ocorrer. Questionado se a fala de Moro é passível de provocar uma investigação contra o presidente no Supremo, Marco Aurélio preferiu não opinar por ora.
"Não sei, tem que aguardar. O Supremo só agenda quando for provocado", afirmou, ao completar que a Câmara dos Deputados também só age, em um eventual processamento de um pedido de impeachment, por provocação.
Para o ministro do STF, o país, que já atravessava uma "crise aguda" do ponto de vista sanitário, econômico e social em razão do avanço do coronavírus, está agora diante de uma "crise institucional".