Uma semana depois de derrubar a abertura de um processo contra o presidente Michel Temer, o Palácio do Planalto enfrenta uma rebelião na base aliada, liderada pelo chamado centrão, com a cobrança de cargos e o aviso de que "não há clima" para votar a reforma da Previdência.
O discurso dos líderes é que não há como votar a reforma, um tema complicado e indigesto para os eleitores em um final de mandato --mesmo faltando mais de um ano para as eleições.
Por trás dessa rebelião, no entanto, está a fatura dos votos entregues para enterrar a denúncia contra o presidente na Câmara dos Deputados. Juntos, os partidos do centrão --PP, PR e PSD-- têm 122 votos. Deram 87 dos 263 votos favoráveis a Temer na votação da denúncia, tendo papel fundamental na vitória do presidente.
Agora, os partidos querem o que lhe foi prometido: mais espaço no governo. Um dirigente de um dos partidos ouvido pela Reuters confirma que o próprio presidente se comprometeu, e não com cargos em segundo e terceiro escalão, mas com uma mini reforma eleitoral, em que partidos que não foram tão fiéis, como o PSDB e o PSB, permitiriam espaços para o centrão.
"O governo ainda está muito indeciso em relação a ceder espaços para os partidos", criticou o dirigente, que disse ainda esperar que o governo contemple partidos que têm dado verdadeira sustentação a Temer, pelo menos com mudanças no segundo escalão.
Líder do PP, o deputado Artur Lira (AL), diz que não há unidade na bancada para votar a reforma da Previdência e que o governo precisa fazer uma reorganização e saber "quem realmente é base e quem não é".
"Se depender da gente, agora, não vota", disse o deputado à Reuters. "A questão está diretamente relacionada às eleições. Se você não esclarece a Previdência para a população, se o governo não se comunica, não decide quem é base e quem não é base, fica difícil."
Já o líder do PR, José Rocha, afirma que o partido está satisfeito com seu espaço no governo, mas reafirma que não há condições de votar a Previdência. "Não se vota uma reforma desse porte no fim de mandato. Não tem clima", disse o parlamentar.
O discurso, apesar de verdadeiro --parlamentares de outras bancadas não rebeldes confirmam que a cobrança do eleitor tem sido dura contra a reforma-- tem como base, avaliam interlocutores do governo, a disputa por espaço.
"É disputa por espaço político, não é uma discussão sobre a Previdência. O centrão não votou pelo Temer por convicção, votou em troca de recompensa", disse um parlamentar da base. "Mas o governo só teve 263 votos. Não acho que esse seja o momento de retaliar. Para garantir 60 votos pode perder 50."
Vice-líder do governo, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), fez uma planilha para mostrar a Temer o percentual de votos de cada partido na votação da denúncia e o espaço proporcional que cada um tem no governo. "Vou levar esse levantamento para o presidente e o governo vai estudar", disse. "O pessoal quer mais espaço, mas tem que ter calma. Não pode ficar demitindo assim, vamos resolver".
No Planalto, o momento é de cautela. Temer começou a chamar os insatisfeitos para conversar, mas o governo não tem planos de fazer grandes mudanças imediatas, disse uma fonte palaciana. Alguns nomes ligados a deputados traidores foram exonerados nos últimos dias, mas sem novas nomeações.