O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que vai conversar ainda nesta segunda-feira com o chanceler britânico, William Hague, sobre a detenção do brasileiro David Miranda, por nove horas, no aeroporto de Heathrow, em Londres. Miranda é companheiro do jornalista Glenn Greenwald, do diário inglês The Guardian, que noticiou sobre o esquema de espionagem do governo norte-americano.
O ministro disse que a detenção do brasileiro por nove horas, com base em uma lei que se aplica a suspeitos de terrorismo, não é justificável. "Espero que não volte a acontecer. Hoje mesmo deverei conversar com o chanceler William Hague, do Reino Unido", disse Patriota. Antes de conversar com a imprensa, o ministro havia criticado "desmandos e desvios" que vêm sendo cometidos em nome do combate ao terrorismo no mundo, durante discurso em cerimônia de homenagem a Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro que morreu há dez anos no Iraque, Patriota disse que o combate ao terror deve respeitar o direito internacional.
Segundo o chanceler, há vários exemplos de desmandos cometidos em nome do combate ao terrorismo, entre eles "enquadrar pessoas mesmo sem justificativa alguma para que se haja suspeita de envolvimento com o terrorismo".
"Continuamos a assistir alguns desmandos e desvios nessa questão do combate ao terrorismo. Reconhecemos que é um combate legítimo, que precisa ser articulado de forma a impedir que vidas inocentes sucumbam a atos de violência gratuita, mas também precisa se inspirar nos ideais de multilateralismo, direito internacional e racionalidade", afirmou Patriota.
Em discurso, o chanceler brasileiro criticou o uso indiscriminado de tecnologias militares, como os veículos aéreos não tripulados, que causam mortes de civis. "A comunidade internacional assiste, com certa surpresa, às vezes, a atividade de veículos não tripulados que estão a serviço do combate ao terrorismo, mas também provocam um número elevadíssimo de vítimas civis inocentes, sem que haja um debate sistemático sobre isso", ressaltou.
Patriota aproveitou para defender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, dizendo que a atual composição do conselho não está em "consonância" com a multilateralidade do mundo moderno.