Milton Ribeiro, que tomou posse nesta quinta-feira como novo ministro da Educação, chega ao posto como a quarta tentativa do presidente Jair Bolsonaro para comandar uma pasta envolta em polêmicas levando consigo experiência na administração universitária, mas sob críticas por declarações dadas em seu papel como pastor evangélico de uma igreja conservadora.
Doutor em Educação e mestre em Direito Constitucional, o novo ministro foi reitor em exercício e vice-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, além de ser membro do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Pastor evangélico da Igreja Presbiteriana de Santos (SP), Ribeiro é graduado em Direito e Teologia, e teve passagem também pelas Forças Armadas como tenente de infantaria do Exército, de acordo com currículo divulgado na página da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, da qual fazia parte ao ser nomeado ministro.
Logo após a nomeação, vídeos de pregações de Ribeiro em cultos evangélicos com declarações polêmicas foram divulgados nas redes sociais, apontando para o caráter conversador do novo ministro.
Em um dos vídeos, o agora ministro afirma que "o mundo foi perdendo a referência do que é certo e do que é errado em termos de conduta sexual" após a descoberta da pílula anticoncepcional, e diz que universidades estariam ensinando "uma prática totalmente sem limites do sexo" ao abordarem a questão filosófica do existencialismo.
"Essa é a nossa sociedade, é isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade", afirmou.
Em outro culto cujo vídeo também circulou nas redes sociais após a nomeação, Ribeiro defende que pais imponham violência física contra os filhos como forma de educação. "Deve haver rigor, desculpe. Severidade, e vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor", disse.
Ao tomar posse, Ribeiro afirmou em seu discurso que jamais falou em violência física na educação escolar e que nunca defenderá tal prática, mas cobrou críticas também aos casos de violência de alunos contra professores.
"Mesmas vozes críticas da nossa sociedade devem se posicionar quanto a tais episódios com a mesma intensidade", afirmou.
Ribeiro é o quarto nomeado por Bolsonaro para o Ministério de Educação desde o início do governo, e sua posse encerra um vazio de quase um mês sem um ministro empossado desde que Abraham Weintraub deixou o cargo, em 18 de junho, em meio a polêmicas com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Antes de Weintraub, que foi indicado para um cargo no Banco Mundial, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez ficou no cargo pouco mais de três meses, deixando a posição também em meio a polêmicas, inclusive tendo criticado o comportamento do brasileiro quando viaja ao exterior.
Carlos Alberto Decotelli chegou a ser nomeado como substituto de Weintraub no fim do mês passado, mas não chegou a tomar posse após a revelação de inconsistências em titulações do seu currículo acadêmico.
Apesar de ser pastor evangélico, Ribeiro não foi uma indicação da frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, segundo integrantes do grupo. Parte dos parlamentares chegou a manifestar preocupação por considerar que "os presbiterianos são os mais progressistas entre os evangélicos", nas palavras do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), ligado ao pastor Silas Malafaia.
No entanto, o ministro integra o segmento mais conservador do presbiterianismo, segundo o antropólogo e pesquisador associado ao Instituto de Estudos da Religião (Iser), Flávio Conrado.
"Ele é de uma linha conservadora, não há dúvida disso", disse Conrado. "Ele vem desse campo conservador, é de uma corrente que atravessa todo o século 20 e desemboca agora no século 21, que é de valorização da ortodoxia, dessa ideia de que você precisa manter o núcleo doutrinário, e que isso se alia também a valores conservadores, no campo da família, no campo dos costumes."
Também no discurso de posse, o novo ministro afirmou que assume o cargo consciente dos preceitos constitucionais do Estado laico e do ensino público, apesar das convicções religiosas.
"Conquanto tenha formação religiosa, meu compromisso, que assumo hoje ao tomar posse, está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino publico", afirmou.
(Edição de Alexandre Caverni)