Petrobras: Brasil vive momento histórico, diz diretor de ONG

Cobus de Swardt, da Transparência Internacional, diz que País tem a oportunidade de modificar a forma como faz negócios

11 dez 2014 - 18h26
(atualizado às 20h45)
O diretor-geral da Transparência Internacional, Cobus Swardt
O diretor-geral da Transparência Internacional, Cobus Swardt
Foto: Reprodução

Na semana em que é celebrado o Dia Internacional de Combate à Corrupção (9/12), o diretor-geral da ONG Transparência Internacional, Cobus de Swardt, esteve no Brasil para falar sobre o tema e aproveitou para comentar as denúncias de desvio de dinheiro público envolvendo a Petrobras. Para Swardt, a descoberta de esquemas de corrupção é o ponto de partida para uma mudança nas instituições.

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“Estou muito feliz de estar no Brasil neste momento histórico, por conta do que está sendo feito em relação à corrupção. É um período difícil, de escândalos, como o da Petrobras, mas é também uma oportunidade de mudar a forma como se faz negócios no Brasil”, disse Swardt em evento em São Paulo nesta quinta-feira. “Isso não diz respeito à Petrobras, diz respeito ao modo como se faz negócio no Brasil”, continuou.

De acordo com Swardt, o maior problema é que, ao desviar recursos que seriam investidos na melhoria de serviços públicos, a corrupção acaba atingindo principalmente os mais pobres. “Não podemos desviar dinheiro público. Os pobres são os que mais sofrem com a corrupção, inclusive no meu País”, disse ele, que é da África do Sul.

No início deste mês, a Transparência Internacional divulgou o seu Índice de Percepção da Corrupção (IPC) para 2014 e, apesar dos recentes escândalos, o Brasil melhorou e subiu três posições no ranking, passando para o 69ª lugar entre 175 países. A ONG, porém, não considera que o Brasil avançou, já que voltou a ocupar a mesma posição que tinha em 2012.

Hoje, após meses de investigação, o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra 35 envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. Desses, 11 estão presos, entre eles um ex-diretor da estatal e executivos de empreiteiras.

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Para Swardt, é imprescindível que o País dê uma resposta rápida sobre a investigação e a punição dos envolvidos - caso contrário, as empresas brasileiras podem ter dificuldade em fechar negócios. Além disso, a população também espera resultados efetivos. "As pessoas podem ficar impacientes e se voltar contra o governo. Pode ser uma coisa difícil de reverter depois."

Questionado se concordava com as declarações do governo brasileiro de que nunca se investigou – e prendeu – tanto por corrupção no País, Cobus de Swardt respondeu que a tecnologia disponível hoje auxilia muito no combate às fraudes. “O combate à corrupção, hoje, é mais fácil do que era 20 anos atrás, graças a toda tecnologia disponível. Vinte anos atrás nós não podíamos transferir dinheiro na velocidade da luz, como ocorre hoje”, afirmou. “Nós, provavelmente, temos menos corrupção hoje. Mas sabemos mais, detectamos mais. Hoje nós sabemos qual é a magnitude do problema e as formas de lidar com ele. Antes não sabíamos como controlar”, completou.

Paraísos fiscais

A vinda ao Brasil de representantes da Transparência Internacional – além de Swardt, está no País o diretor regional para as Américas, Alejandro Salas – faz parte da campanha “Unmask the Corrupt” (desmascare o corrupto). No evento desta quinta-feira, ambos discorreram sobre a facilidade e rapidez com que empresas fantasmas são abertas em paraísos fiscais: são as chamadas offshores, que facilitam a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro.

“É muito fácil abrir uma empresa, leva poucos minutos e o resultado sai em poucos dias. Você pode fazer isso de qualquer lugar do mundo, basicamente”, conta Swardt antes de mostrar ao público um exemplo real de diálogo (via chat) no qual uma funcionária da ONG se passa por interessada em abrir uma offshore e entra em contato com uma empresa que presta esse tipo de serviço. Veja, abaixo, a transcrição do diálogo:

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Empresa: o sr. está interessado em uma empresa offshore?

Interessada: Sim. Quais são as vantagens e desvantagens de criar uma empresa em um país mais “legítimo” como os EUA, Irlanda ou algum outro país da Europa? A confidencialidade é menor?

Interessada: se comparada com uma empresa sediada nas Seychelles ou nas Ilhas Virgens Britânicas, por exemplo

Empresa: todas as informações sobre a formação de empresas em diferentes jurisdições estão disponíveis em nosso website

Interessada: Eu estava pensando nas Seychelles ou nas ilhas Cayman

Empresa: nas Seychelles demora um dia útil

Interessada: bem rápido. vocês podem ajudar meu cliente a abrir uma conta bancária?

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Empresa: sim, nós podemos

Fonte: Terra
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