O avião que caiu na sexta-feira, 9, em Vinhedo, interior de São Paulo, e vitimou 62 pessoas pertence a companhia aérea Voepass. E o piloto Luís Cláudio de Almeida denunciou em uma audiência pública da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em agosto deste ano, que a empresa fazia pressão para que os pilotos trabalhassem fora da escala e também em seus dias de folga, causando fadiga e aumentaria o risco de acidentes. “Não queremos entrar nessa estatística”, disse.
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Segundo o piloto, a companhia aérea ligava para ele durante seu período de descanso. “A empresa, às vezes, me liga para fazer um voo: ‘Vai, vai que dá’”. Almeida recusava, porque na escala “diz que não é para ir”, mas a empresa insistia: “vai, vai, vai que dá”, falou.
“Às vezes, quando você acorda, tem oito ligações da escala, quando você está de folga. Eu estava de folga e precisei desligar meu celular”, destacou.
Almeida expôs ainda um outro problema: que os pilotos muitas vezes não recebem alimentação adequada durante os voos e não têm condução para realizar o deslocamento até o aeroporto.
O piloto não tem dúvidas em afirmar que esse tipo de atitude pode aumentar o risco de acidentes aéreos. “Eu não quero que vocês liguem aí um jornal, um celular, ou vejam no YouTube, desastres aéreos. Não queremos entrar nessa estatística”, afirmou durante a audiência, que discutia mudanças no RBAC (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil) 117. O processo busca alterar requisitos relativos ao gerenciamento do risco de fadiga de tripulantes. Ele entrou em consulta pública em 11 de junho e segue em discussão.
Palavra da Voepass
Procurada pelo Estadão, a Voepass afirmou que “cumpre com todos os requisitos legais, considerando jornadas e folgas, de acordo com o regulamento brasileiro da Aviação Civil RBAC-117 que disciplina a jornada e gestão da fadiga dos tripulantes”.
A principal hipótese para a queda do avião em Vinhedo, não estaria ligada diretamente a fadiga do piloto, e sim as condições climáticas. Segundo especialistas, a perda de sustentação da aeronave pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião.
É preciso aguardar a conclusão das investigações e a análise da caixa-preta para uma avaliação mais concreta.