Pix: os anúncios pagos pela oposição que ajudam a explicar a derrota do governo Lula nas redes

Levantamento feito com dados da Meta mostra que oposicionistas foram responsáveis por 90% dos anúncios políticos pagos em meio à crise. Análise também mostra reação tardia dos governistas

24 jan 2025 - 15h18
(atualizado às 15h38)
Deputado estadual Coronel Alberto Feitosa (PL-PE) pagou anúncio na Meta sobre suposta 'tributação do Pix'
Deputado estadual Coronel Alberto Feitosa (PL-PE) pagou anúncio na Meta sobre suposta 'tributação do Pix'
Foto: Reprodução/Coronel Alberto Feitosa/Meta / BBC News Brasil

No início de janeiro, o governo federal se viu em meio a uma crise inesperada.

Nos primeiros dias do ano, entraram em vigor normas da Receita Federal sobre a fiscalização das transações financeiras usando o Pix.

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Além dos bancos tradicionais, que desde 2003 já enviavam informações consolidadas sobre as movimentações financeiras de clientes ao fisco, bancos digitais, aplicativos de pagamento e outras fintechs também teriam de passar a reportar os dados à Receita.

Mas o que parecia ser uma mudança corriqueira, logo ganhou contornos de drama para o Planalto.

Uma campanha contrária encampada por influenciadores digitais e membros da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a circular nas redes sociais.

Nela, um dos argumentos principais era o de que o governo teria criado uma espécie de "imposto sobre o Pix", o que foi desmentido na segunda semana de janeiro.

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Acusada de espalhar "fake news", a oposição, então, mudou a linha de argumento. Em vez da suposta taxação do Pix, o argumento principal da campanha passa a ser o suposto monitoramento do Pix, a partir do qual o governo poderia aumentar a arrecadação cobrando imposto de renda de quem até então não estaria pagando.

No dia 14 de janeiro, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) divulga um vídeo que viralizou criticando as medidas e levantando suspeitas sobre se o governo poderia ou não taxar o Pix. A produção já alcançou 325 milhões de visualizações, mais da metade disso nas primeiras 24 horas após a postagem.

Pressionado, o governo anunciou, no dia 15 de janeiro, a revogação das medidas. O episódio vem sendo classificado por políticos como uma vitória da oposição em um terreno onde o governo estaria patinando: a comunicação na internet.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que parte significativa dessa campanha negativa contra as mudanças no Pix ocorreu de forma orgânica, ou seja, sem qualquer tipo de impulsionamento pago.

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Mas um levantamento feito pela BBC News Brasil com base em dados da Meta (controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp) sobre anúncios pagos sobre o tema ajuda a explicar como o governo perdeu a batalha do Pix.

De acordo com o levantamento, 90% das postagens pagas sobre o tema nas plataformas da Meta tinham conteúdo contrário às medidas.

Juntos, esses anúncios tiveram entre 2,8 milhões e 3,4 milhões de impressões. Impressão é a quantidade de vezes que um anúncio aparece na tela de um dispositivo eletrônico.

Do lado governista, os anúncios pagos favoráveis às medidas tiveram um alcance menor: entre 2 milhões e 2,2 milhões de impressões. O detalhe é que desse montante, pelo menos 2 milhões de impressões ocorreram no dia 16 de janeiro, quando o governo já havia revogado as medidas. Ou seja, o dados indicam que o governistas demoraram para reagir.

A maior parte das postagens da oposição não citava mais a suposta taxação do Pix, mas em pelo menos um caso, um parlamentar pagou pelo impulsionamento de um vídeo que em que anunciava o "fim" da taxação do Pix, embora a suposta taxação nunca tenha sido implementada.

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Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a enxurrada de conteúdo negativo em relação ao Pix fez parte de uma mistura entre debate político legítimo e uma campanha de desinformação.

Eles avaliam que a oposição aproveitou um momento de fragilidade da confiança da população no governo e explorou essa brecha para enfraquecê-lo usando conteúdo que se espalhou de forma orgânica e impulsionada.

O impulsionamento de conteúdo político no Brasil é permitido pela lei brasileira em qualquer época do ano. Durante o período pré-eleições e durante as campanhas eleitorais ele fica sujeito à avaliação da Justiça Eleitoral.

Os especialistas também disseram temer que as novas políticas de moderação de plataformas como as anunciadas pela Meta no início deste ano possam tornar o ambiente virtual ainda mais propício à disseminação de desinformação - o que a empresa nega.

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A BBC News Brasil questionou a Meta e ao menos três políticos que pagaram para impulsionar conteúdo que continham menções à suposta taxação do Pix.

Por meio de nota, a Meta disse que não iria comentar o assunto. Os políticos não responderam às perguntas enviadas pela BBC News Brasil.

A batalha dos anúncios pagos

O levantamento feito pela BBC News Brasil teve como base o repositório de anúncios por temas políticos disponibilizado pela Meta. Das empresas que controlam as redes sociais com o maior número de usuários no Brasil, a Meta é a única que disponibiliza esses dados, ainda que de forma parcial.

Segundo Marie Santini, coordenadora do laboratório de estudos de internet e mídias sociais da UFRJ (Netlab), nem todos os anúncios veiculados pela Meta constam deste repositório.

Ao todo, foram coletados 157 anúncios identificados pela Meta classificados pela empresa como como contendo temas políticos e que foram pagos por políticos com ou sem mandato eletivo veiculados entre os dias 1 e 16 de janeiro. O período abrange a intensificação da campanha e o dia seguinte à revogação das medidas pelo governo.

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Não há indicação sobre se o pagamento foi feito com verbas públicas ou com recursos próprios.

No campo da oposição, os anúncios foram pagos por deputados federais, estaduais, vereadores, ex-candidatos de oposição e pelo diretório regional do partido Novo no Distrito Federal.

O restante, 16 anúncios, foi pago por deputados federais, funcionários do governo federal com cargos comissionados e pelo diretório nacional do PT.

Os valores exatos sobre quanto foi gasto e qual o alcance desses anúncios não é possível de ser aferido uma vez que a Meta disponibiliza apenas valores aproximados sobre quanto cada anúncio custa e quantas impressões cada anúncio teve.

De acordo com o levantamento feito pela BBC News Brasil, a estimativa com base nas informações disponibilizadas pela Meta apontam que os anúncios da oposição tenham custado até R$ 18 mil.

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As postagens pagas pelos governistas custaram até R$ 21 mil.

Entre os anúncios contra as mudanças no Pix identificados pela BBC News Brasil, a maioria fazia menção que o monitoramento do Pix tinha o objetivo de cobrar impostos depois.

Alguns deles, porém, ainda citavam a suposta "taxação do Pix", desmentida pelas autoridades no início do mês.

É o caso de uma série de anúncios pagos pelo deputado estadual de Pernambuco Coronel Alberto Feitosa (PL).

De acordo com os dados da Meta, no dia 16 de janeiro, já após a revogação das mudanças anunciadas pelo governo, o parlamentar, que é coronel da reserva da Polícia Militar de Pernambuco (PM-PE), impulsionou 14 anúncios com uma mensagem em vídeo e um título: "Caiu a tributação do Pix!".

Esta também é a primeira frase do vídeo que tem 1 minuto e 26 segundos e que, em momento algum, corrige a informação de que as mudanças não se tratavam de taxação do Pix.

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De acordo com a Meta, um primeiro lote de 13 anúncios custou entre R$ 200 e R$ 300 e apareceram entre 60 mil e 70 mil vezes em dispositivos que acessaram o Facebook e o Instagram.

Outro anúncio idêntico apareceu entre 15 mil e 20 mil vezes em dispositivos acessando apenas o Instagram.

Outro anúncio mencionado "taxação do Pix" identificado pela reportagem é o do deputado estadual por Santa Catarina Napoleão Bernardes (PSD-SC).

De acordo com o levantamento, ele pagou pelo impulsionamento de três anúncios no Instagram com um vídeo usando o termo.

"Taxar o Pix? Jamais. O Pix é uma conquista nacional. Se popularizou, todo mundo usa e taxar, impor taxas sobre o pix não pode nem sequer ser cogitado", dizia um trecho do vídeo fazendo alusão a uma suposta tributação do Pix.

Mais menções a isso são feitas no vídeo.

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"Não à taxação do Pix e o governo federal tem que ser claro que jamais vai cogitar taxar o Pix. Por isso, pelo Pix sem taxação, sem imposto, porque isso é uma sacanagem contra os brasileiros", disse o deputado no restante do vídeo.

Apesar de pedir que o governo federal se manifestasse sobre o assunto, o vídeo não mencionou que, no dia 7 de janeiro, o Ministério da Fazenda já havia publicado um desmentido sobre as alegações de eventual tributação do Pix e que Haddad e Lula também já haviam ido a público desmentir o assunto.

O deputado federal Gilson Marques (Novo-SC) também pagou por um anúncio que citava a suposta taxação do Pix.

Foi no dia 15 de janeiro. Segundo a Meta, o parlamentar pagou aproximadamente R$ 200 por dois anúncios com o seguinte título: "Imposto por movimentar Pix? Não no que depender de mim".

De acordo com a empresa, os anúncios geraram entre 1 mil e 2 mil impressões.

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A reportagem da BBC News Brasil enviou questionamentos diretamente às assessorias dos três parlamentares citados.

Nenhum deles respondeu às perguntas feitas, entre elas, se o dinheiro usado para a veiculação dos anúncios era oriundo de verbas públicas.

A BBC News Brasil também enviou questionamentos à Meta, mas a empresa, por meio de nota, disse que não iria se manifestar sobre o assunto.

PT também usou anúncios pagos em plataformas da Meta para defender as medidas adotadas pelo governo. Levantamento mostra, porém, que anúncios favoráveis às medidas representaram apenas 10% do total do período pesquisado
Foto: Reprodução/Partido dos Trabalhadores/Meta / BBC News Brasil

Resposta governista concentrada e tardia

Os dados também mostram que a resposta do PT e de políticos de situação aconteceu de forma tardia e concentrada.

Os primeiros anúncios defendendo as medidas nas plataformas da Meta começaram a circular no dia 10 de janeiro.

Do outro lado, os primeiros anúncios pagos colocando em dúvida as medidas começaram no dia 8 de janeiro.

Além disso, a resposta governista foi concentrada.

Apenas dez anunciantes governistas pagaram por anúncios no período pesquisado. O maior deles foi o diretório nacional do PT, que pagou por dois anúncios.

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Os dois obtiveram o maior número de impressões registrado pela Meta: até 1 milhão. Segundo a empresa, um deles custou entre R$ 10 mil e R$ 15 mil e o outro entre R$ 4,5 mil e R$ 5 mil.

Enquanto isso, na oposição, a operação contra as medidas foi pulverizada e envolveu 48 anunciantes diferentes de distintas partes do Brasil.

Houve, por exemplo, 18 anúncios com um número de impressões estimados entre 10 mil e 15 mil, mas também houve postagens pagas com volumes bem maiores como uma que teve entre 400 mil e 499 mil impressões e outra que oscilou entre 500 mil e 599 mil.

A percepção de que a resposta do governo à campanha da oposição foi ineficiente fez com que a direção nacional do PT convocasse uma reunião com seus integrantes para elaborar estratégias de comunicação digital.

A crise também acabou coincidindo com a posse do publicitário Sidônio Palmeira como novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). Ao se instalar no cargo, Sidônio chamou a comunicação nas redes de "faroeste" e prometeu ações para combater desinformação.

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Deputado estadual Napoleão Bernardes (PSD-SC) impulsionou vídeo mencionando uma suposta 'taxação do Pix' no dia 15 de janeiro
Foto: Reprodução/Meta/Napoleão Bernardes / BBC News Brasil

Área cinzenta entre desinformação e debate

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil classificam de forma diferente a onda de postagens envolvendo as mudanças no Pix.

Para Luis Fakhouri, fundador da Palver, plataforma que fez parte da força-tarefa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra desinformação durante a campanha em 2022, o que houve em relação ao Pix foi uma campanha de desinformação que começou antes mesmo do início deste ano.

Em sua plataforma, Fakhouri monitora o conteúdo de 15 mil grupos de WhatsApp em todo o Brasil.

Ele disse à BBC News Brasil desde junho de 2024 havia uma circulação de mensagens nestes grupos mirando o Pix e outros tipos de transações financeiras.

"Essa campanha começou em junho de 2024 numa tentativa de tirar a credibilidade do governo. E isso foi feito de algumas formas. A primeira foi tentar comparar as moedas digitais e a iniciativa do Brasil (conhecida como DREX) com o que acontece na China", disse à BBC News Brasil.

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Ele disse que, na época, circularam postagens que ligavam o DREX a medidas de controle totalitários e que apontavam que o governo estaria interessado em direcionar as ações da população por meio do controle das suas transações financeiras.

Ele afirmou que nessa fase, a circulação desse tipo de conteúdo teria ajudado a minar a credibilidade do governo na área econômica.

Fakhouri avaliou que recuos do governo em relação à taxação de mercadorias importadas até US$ 50 também contribuíram para essa erosão de credibilidade.

Foi em meio a esse cenário que as medidas sobre a fiscalização do Pix teriam criado uma "janela de oportunidade" para a oposição.

"Na minha visão, foi uma campanha de desinformação que começou há alguns meses e que resultou na discussão sobre o Pix, aproveitando uma janela de oportunidade deixada pela falha de comunicação do governo", disse Fakhouri.

Liz Nóbrega, que é doutoranda em Ciências da Comunicação pela USP e coordenadora de comunicação da empresa especializada em marketing digital Aláfia, avalia que o que aconteceu em relação ao Pix foi uma mistura de debate político legítimo em democracias com uma campanha de desinformação.

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Ao analisar os anúncios do levantamento feito pela reportagem da BBC News Brasil, Nóbrega apontou que a maioria deles não continha informações falsas e que estariam dentro do esperado em ambiente de disputa política.

Ela pontuou, no entanto, que o peso da desinformação em torno do Pix nas últimas semanas foi grande.

"O que aconteceu nas últimas semanas foi uma mistura das duas coisas [debate político e desinformação]. Hoje em dia, essas duas coisas são bastante difíceis de separar. Mas é óbvio que a desinformação pesou bastante", disse.

"Por um lado, tivemos um debate político legítimo que trouxe uma interpretação de determinado espectro político sobre essas medidas, mas nem sempre essa interpretação vai estar baseada em fatos verdadeiros", afirmou.

Nóbrega disse ainda que analisar episódios como o que envolveu o Pix é complicado porque a desinformação é mais do que a simples propagação de uma informação falsa.

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"Quando a gente fala sobre desinformação, a gente não está falando apenas de um fato completamente inventado, como, por exemplo, a taxação do Pix [...] que seria uma informação inventada e falsa e que não dialoga com os fatos reais", disse.

"A desinformação também se apresenta como um contexto falso, como uma conexão falsa das informações. Muitas vezes, a desinformação atua como uma forma de tentar induzir a algumas conclusões a partir de informações que são verídicas, mas que são distorcidas para caber dentro de um discurso específico e vai levar o usuário a uma conclusão que não corresponde à realidade", disse Nóbrega.

Para Marie Santini, do Netlab, a polêmica em torno do Pix também foi resultado de uma mistura de campanha de desinformação com debate político legítimo em regimes democráticos.

"Houve as duas coisas. O ápice, no entanto, foi o vídeo do deputado Nikolas Ferreira em que ele não chega a dizer algo falso, mas ele surfa na desinformação, dando a entender que era para a população duvidar das medidas tomadas pelo governo", disse Santini.

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De acordo com os dados da Meta, o parlamentar não pagou pelo impulsionamento do vídeo.

O vídeo mencionado por Santini foi postado pelo parlamentar em suas redes sociais e já teve mais de 325 milhões de visualizações no Instagram. Nele, o parlamentar admite que não haveria taxação sobre o Pix, mas disse não duvidar de que o governo pudesse fazer isso no futuro.

Os três especialistas apontam que essa dinâmica cinzenta torna mais difícil uma avaliação sobre qual o papel das plataformas digitais.

Os três concordaram que o anúncio do deputado estadual Coronel Alberto Feitosa que citava a queda de uma suposta tributação sobre o Pix continha, sim, desinformação.

Marie Santini diz, no entanto, que derrubar este conteúdo talvez não fosse a melhor alternativa.

"O ideal é que anúncios como esse fossem acompanhados de algum tipo de marcação feita por agências de checagem de dados. Não acho que seria o caso de derrubar porque o político precisa arcar com as consequências das suas condutas, mesmo que seja divulgar uma informação errada", disse Santini.

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A coordenadora do Netlab afirmou, no entanto, que o recente anúncio feito pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg, de que a empresa abandonaria a parceria que mantinha com agências de checagem de dados e permitiria a recomendação de conteúdo político, cria dúvidas sobre como será o ambiente dentro das plataformas controladas pela empresa.

"A gente não sabe se a crise que vivemos no Brasil já foi resultado de mudanças no algoritmo da Meta. Um dos problemas que temos hoje é a opacidade das plataformas digitais. Nós não sabemos como elas operam de verdade e elas são pouco sujeitas a controle externo", afirmou.

Luiz Fakhouri também disse avaliar que as plataformas têm dificuldade para decidir por derrubar um conteúdo que esteja na chamada área cinzenta entre debate e desinformação.

"Dentro do universo de anúncios que eu vi, a maioria estava neste limiar entre debate e desinformação. Não vejo como a Meta poderia simplesmente derrubar tudo. Até porque a empresa não está totalmente ciente de toda a discussão que foi minando a credibilidade do governo dentro dos grupos de WhatsApp", disse Fakhouri citando que a comunicação via WhatsApp é criptografada.

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Fakhouri e Santini disseram acreditar que crises como a que envolveu o Pix tendem a acontecer novamente.

"Quando você tem o medo da população e a falta de credibilidade governo, temos a formação de um conjunto muito propício para qualquer coisa grudar", disse Fakhouri.

"Essa combinação entre debate político e desinformação deverá ser a tendência", disse Santini.

Vídeo do deputado Nikolas Ferreira sobre a polêmica do Pix viralizou nas redes sociais
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

15 dias de boatos que abalaram o governo

A RN 2219/24 da Receita Federal passou a valer em todo o país na virada do ano. Esta foi a normativa que estabeleceu mudanças nos critérios para reporte de transações envolvendo o Pix no Brasil.

A partir de então, os primeiros boatos e notícias falsas sobre uma possível "taxa do Pix" começaram a ganhar força nas redes sociais.

No dia 7 de janeiro, a Receita Federal publica o primeiro desmentido.

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O Ministério da Fazenda divulgou um artigo dizendo que a regra "não implicou em qualquer aumento de tributação".

Segundo o texto, a medida visava "um melhor gerenciamento de riscos pela administração tributária, a partir da qual será possível oferecer melhores serviços à sociedade, em absoluto respeito às normas legais dos sigilos bancário e fiscal".

No dia 9 de janeiro, começa a circular um vídeo falso atribuído ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

feito por inteligência artificial, simulava uma suposta fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

No vídeo, que teve grande repercussão nas redes sociais, a voz e o movimento dos lábios dele foram alterados, para dar a impressão de que Haddad anunciava a criação de uma série de novos impostos — sobre cachorros e mulheres grávidas, por exemplo.

A Advocacia Geral da União (AGU) envou uma notificação extrajudicial ao Facebook para que o vídeo falso fosse retirado do ar.

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No mesmo dia, Haddad publicou nas redes sociais um vídeo em que desmentia os boatos, inclusive sobre o monitoramento das contas bancárias.

"Imposto sobre Pix. Mentira. Imposto sobre quem compra dólar. Mentira. Imposto sobre quem tem animal de estimação. Mentira", disse o ministro.

No dia 10 de janeiro, foi a vez de Lula se manifestar sobre o assunto.

Para isso, o presidente da República publicou um vídeo em que ele faz um Pix para a campanha de arrecadação que pretende pagar a dívida da construção da NeoQuímica Arena, o Estádio do Corinthians.

"Por que eu tomei essa decisão? Porque tem uma quantidade enorme de mentiras desde ontem em todas as redes sociais dizendo que o governo vai taxar o Pix. E eu quero provar que é mentira", afirmou ele.

Três dias depois, foi a vez do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrar em cena.

Bolsonaro fez uma série de postagens sobre o assunto e classificou as mudanças na fiscalização como "covardia com os mais pobres".

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"Além de diaristas, camelôs, cabeleireiras, jardineiros, pedreiros, taxistas, palhaços de festa, ajuda a filhos/netos, vendedores de pipoca, etc, poderão ser obrigados a entregar parte de seu ganho para o Imposto de Renda", escreveu Bolsonaro.

No dia 14 de janeiro, o vídeo de Nikolas Ferreira viraliza, aumentando ainda mais a pressão sobre o governo.

Embora tenha dito que "o Pix não será taxado", o deputado federal afirmou que "a comprinha da China não seria taxada, e foi".

Ele também declarou que "não duvida" que o Pix possa ser alvo de alguma taxa no futuro.

Nesse dia, o publicitário Sidônio Palmeira assumiu como novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), no lugar do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).

No dia 15 de janeiro, após toda a repercussão das últimas semanas, Haddad e Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal, anunciaram a revogação das medidas.

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Haddad ainda disse que o assunto foi "objeto de exploração" por pessoas que, na visão dele, "estão cometendo um crime".

"Porque quando você desacredita um instrumento público, você está cometendo um crime", argumentou o ministro.

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