O Palácio do Planalto ainda luta para encontrar uma forma de manter a tramitação da reforma da Previdência apesar da intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro, mas uma avaliação inicial é de que, com os problemas que já existem para obter votos, a maior probabilidade é que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desista de colocar a reforma em votação.
"É uma discussão estéril. O mais provável é que Maia tire a votação da pauta e coloque a culpa na intervenção e no presidente", disse uma fonte que acompanhou as discussões sobre a intervenção no Rio.
O presidente da Câmara conversa com jornalistas na manhã desta sexta-feira. Na reunião no Palácio do Alvorada, na noite de quinta, Maia resistiu à intervenção, mas foi pressionado e acabou cedendo.
O governo admite que ainda não tem os votos para aprovar a reforma na Câmara e o clima com a intervenção dificultaria ainda mais a situação. Faltariam cerca de 40 votos para se poder votar com segurança uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que precisa do apoio de pelo menos 308 dos 513 deputados.
Durante a reunião chegou a se falar em um acordo para suspender a intervenção por um dia para votar a Previdência, mas fontes ouvidas pela Reuters afirmam que é impossível.
"Não tem como fazer isso. Vai desmobilizar as tropas, desnomear o interventor e depois fazer tudo de novo? Não é assim", disse a fonte.
Depois da crise de violência durante o Carnaval, o Planalto enviou os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e da Defesa, Raul Jungmann, para pressionar o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) a aceitar uma ação mais dura do governo federal.
Pezão participou da reunião de quinta-feira e defendeu a intervenção, admitindo que não havia mais saída para o Estado, relatou uma fonte.
Até o início da noite, a intenção do governo federal era fazer uma "intervenção branca", sem decreto oficial justamente para não afetar o trâmite da reforma da Previdência. A medida já havia sido tomada nesses termos em 1997 em Alagoas, quando o governo nomeou um secretário da Fazenda, a pedido do então governador, Divaldo Suruagy, mas não decretou a intervenção oficialmente.
No entanto, a avaliação final foi de que não haveria como nomear um militar interventor sem ter o respaldo de um decreto criando a intervenção. O governo agora analisa as conseqüências do decreto, que deve ser assinado no início da tarde desta sexta-feira.