Por Bernardo Caram e Eduardo Simões
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) -O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quinta-feira que o homem que explodiu bombas perto do prédio da corte na noite da véspera pretendia ingressar no edifício e detonar os artefatos nas dependências do Supremo, e relacionou o incidente com o que chamou de crescimento do extremismo no país e com os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Em discurso durante evento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) na manhã seguinte às explosões, o magistrado também rechaçou uma anistia aos envolvidos nos ataques à democracia, dizendo que a pacificação nacional não pode ocorrer com impunidade.
"O que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto... é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente", disse Moraes.
"Ontem é uma demonstração de que só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos", acrescentou.
O magistrado também afirmou que aqueles que defendem a democracia devem se unir em torno da responsabilização dos que chamou de criminosos que atentam contra as instituições, e também pela regulamentação das redes sociais. De acordo com o ministro, não se pode mais permitir o "envenenamento constante" por meio dessas plataformas.
A Polícia Civil do Distrito Federal identificou o autor do ataque como Francisco Wanderley Luiz, que morreu no local devido a uma das explosões. Ele também era o proprietário de um veículo encontrado perto da Câmara dos Deputados que também foi alvo de explosões.
Luiz foi candidato a vereador pelo PL -- partido do ex-presidente Jair Bolsonaro -- na cidade catarinense de Rio do Sul na eleição municipal de 2020, segundo registros da Justiça Eleitoral.
Em publicação na rede social X, o ex-presidente Bolsonaro classificou como "triste" a explosão perto do Supremo e afirmou lamentar e repudiar "qualquer ato de violência".
"Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão", disse.
Imagens das câmeras de segurança obtidas por emissoras de TV mostram o homem se aproximando da sede do STF quando seguranças o abordam, ele então explode o artefato perto da estátua da Justiça e é atingido pela explosão.
A identificação do suspeito consta de boletim de ocorrência da Polícia Civil, que está sob sigilo, mas foi visto pela Reuters e teve sua autenticidade confirmada por duas fontes com conhecimento do assunto.
SUSPEITO TINHA BOMBAS EM CASA
Durante a noite, agentes da Polícia Militar do DF e da Polícia Federal estiveram na casa onde estava hospedado o suspeito e encontram bombas no local, segundo nota do governo da capital federal.
"Ao longo da noite, a PF e a PM foram até a residência do elemento que praticou a ação em frente ao Supremo Tribunal Federal. Nesse local foram encontradas algumas bombas, o robô atuou e teve uma bomba que explodiu", disse o secretário-executivo de Segurança Pública do DF, Alexandre Patury.
"Não sabemos se foi armadilha, mas esse local está sendo periciado, ou seja, a PMDF faz a varredura em conjunto com a Polícia Judiciária para fazer a avaliação de todas as provas e poder coletar para a investigação", disse, segundo comunicado.
Patury acrescentou que, após uma varredura feita pelas forças de segurança, não existem mais artefatos na Praça dos Três Poderes.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso.
VÉSPERAS DO G20
No Azerbaijão, onde representa o governo brasileiro na cúpula climática da ONU COP29, o vice-presidente Geraldo Alckmin classificou o ataque como "triste e grave".
Disse ainda, que acontece às vésperas de o Brasil receber chefes de Estado de todo o mundo para a reunião do G20, no Rio de Janeiro, que o episódio não gera preocupações para a segurança do evento internacional.
"Não vejo nenhum problema (para o G20), está tudo muito bem encaminhado para o Rio de Janeiro", disse Alckmin a jornalistas.
A cúpula do G20 acontece entre os dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, com as participações, entre outros, dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping. No dia 20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá Xi em Brasília.