Após um novo crime envolvendo Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, que matou em 2010 o cartunista Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni, o advogado da família de Glauco afirma que o assassino jamais poderia ter deixado a internação em manicômio. Cadu foi preso em Goiânia na segunda-feira por suspeita de latrocínio (roubo seguido de morte) e tentativa de latrocínio.
“Nós alertamos (a Justiça) de que era só uma questão de tempo, de que ele cometeria novos crimes”, afirmou o advogado Alexandre Khuri Miguel, que representa Beatriz Galvão, viúva de Glauco. “É um rapaz que não pode ficar solto, não pode ter convívio em sociedade. Representa perigo para ele mesmo”, continuou.
Após a morte do cartunista, Cadu, que confessou o crime, foi considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder por seus próprios atos. Assim, ele, que já havia sido diagnosticado com esquizofrenia, não pode responder pelo crime na Justiça comum e foi internado em hospitais psiquiátricos. Em agosto do ano passado, porém, a juíza Telma Aparecida Alves, da 4ª Vara de Execuções Penais de Goiânia, determinou que Cadu fosse solto após uma junta médica dar parecer favorável à sua liberação.
“Foi uma decisão equivocada, amparada em laudos psiquiátricos também equivocados”, disse Miguel. “Ele deve ficar internado em manicômio judiciário para o resto da vida. Pela minha experiência na área criminal, não existe a possibilidade de que ele se recupere.”
Para Miguel, Cadu não deveria ser considerado inimputável, mas semi-imputável. “Ele tem capacidade reduzida, mas pode responder pelos seus crimes. Premeditou o delito e sabe discernir o que é certo do que é errado. Entende quando quer, quando convém”, afirmou. O advogado disse ainda que, agora que Cadu está preso, novos laudos psiquiátricos deverão ser solicitados. “Se for comprovado que os laudos anteriores são equivocados, ele poderá responder na Justiça comum e até ir a júri popular”, disse Miguel.
Internação
De acordo com o advogado Miguel, os laudos que serviram à decisão da juíza atestaram que Cadu poderia continuar o tratamento psiquiátrico sem a necessidade de internação e foram amparados na lei antimanicomial. Assim, o assassino pode sair do Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (Paili), da Secretaria da Saúde de Goiás.
“Essa lei antimanicomial deve ser empregada em casos de usuários de crack que praticam roubos e furtos, por exemplo, não serve para casos de homicídio com requintes de crueldade”, disse. “O cerne da questão é que foi cessada a periculosidade, ou seja, foi atestado que ele não representava mais perigo para a sociedade e poderia ser colocado em liberdade”, completou.
Para o jurista Luiz Flávio Gomes, a magistrada foi "induzida a erro". "A juíza o liberou com base nesses laudos, que concluíram que não havia mais risco. Mas agora nós vemos que ele não estava preparado (para ser solto). Os médicos que atestaram que ele era capaz é que devem dar explicações agora", afirmou.
Cadu era frequentador da igreja Céu de Maria, fundada e liderada por Glauco, que seguia a doutrina do Santo Daime, com o uso da bebida alucinógena ayahuasca. Na época, a morte do cartunista e do filho reabriu a discussão sobre os efeitos da bebida e a prática religiosa.
Para Miguel, o novo crime do qual Cadu é suspeito encerra a discussão. “Esses fatos novos comprovam que o Daime não tem nada a ver com essa história”, afirmou.
Viúva lamenta morte
De acordo com Miguel, a viúva de Glauco, Beatriz, lamentou a morte de uma nova pessoa, mas se disse “aliviada” com a prisão de Cadu. “Por um lado, ela está chateada porque essa nova morte poderia ter sido evitada; por outro, está aliviada porque o Cadu agora está preso. Isso dá uma tranquilidade maior porque, além da dor da perda, ela convive com o medo.”
O advogado disse ainda que Beatriz cuida da parte espiritual da igreja Céu de Maria, que mantém os trabalhos religiosos em Osasco (Grande São Paulo). “Ela é uma pessoa muito espiritualizada. Está tocando a vida e os trabalhos religiosos.”