Amigos da Rocinha dizem que morte de DG foi 'injustiça'

23 abr 2014 - 21h11
(atualizado às 21h29)
Amigos lamentam morte de dançarino
Amigos lamentam morte de dançarino
Foto: BBC News Brasil

Um guerreiro. Um sujeito muito carismático, animado e trabalhador. É assim que três amigos moradores da Rocinha descrevem Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, 25 anos, encontrado morto numa creche da favela Pavão-Pavãozinho na última terça-feira.

A morte gerou confrontos violentos que tomaram duas ruas do bairro de Copacabana e reacenderam o debate em torno das UPPs na capital fluminense. O Rio e seu bairro mais famoso viraram manchete em todo o mundo a menos de dois meses da Copa do Mundo.

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Andrézinho, 25 anos, cantava e dançava no grupo Moleques Assanhados quando falou pela primeira vez com DG, como o jovem era mais conhecido. "Ficamos amigos. Ele era de um grupo concorrente, o Bonde da Madrugada, mas criamos uma irmandade. Logo começamos a fazer shows juntos, viajar para São Paulo, trabalhar em projetos", conta.

Mais jovem, o DJ Geléia, 19 anos, diz que teve pouco contato com DG, mas que sempre ouviu coisas boas a seu respeito e, até onde sabe, o jovem era "uma ótima pessoa".

Entristecido com a notícia, o grupo lembra que não é a primeira vez que um amigo dançarino é encontrado morto.

Em janeiro de 2012, Gualter Rocha, o Gambá, foi visto pela última vez num baile na comunidade Mandela, em Manguinhos.

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Conhecido como "rei do passinho", Gambá é visto como um ídolo por Wallace, 20 anos, que tenta trilhar trajetória parecida com a dele e a de DG.

"Os dois eram muito animados. O DG era um cara esforçado, tinha namorada, tinha uma filhinha de 4 anos. Trabalhava como mototáxi na comunidade e também como dançarino da TV Globo, no Esquenta. Ele não era bandido", diz.

UPPs

Andrézinho diz que as UPPs mudaram a rotina das comunidades cariocas, mas faz ressalvas.

"Houve melhoras, claro. Mas na época do tráfico todos tinham medo de quebrar as leis deles. Hoje em dia você é tratado com muito preconceito. Se tiver cabelo tingido de louro, usar boné e corrente, já vai ser revistado e tratado como criminoso pelos soldados", explica.

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Para ele, DG foi confundido com traficantes e acabou sendo alvo da polícia. "Até onde eu sei não houve troca de tiros nem confronto. Ele foi encontrado já morto, com marcas de violência", diz.

DG morreu devido a uma "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax, derivada de ação pérfuro-contundente", de acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML).

Para fontes da PM citadas pela mídia local, o laudo mostra que ele teria sido vítima de um tiro, já que aponta perfuração no tórax, mas as causas oficiais ainda não foram divulgadas e o caso segue permeado de dúvidas.

A mãe do dançarino, Maria de Fátima, diz que o corpo e os documentos do filho estavam molhados e que ouviu relatos de testemunhas apontando que ele teria sido alvo de tortura, confundido com traficantes durante operação da polícia.

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"Não descarto (o envolvimento de policiais), absolutamente", disse José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. "Mas não podemos condená-los de antemão. Várias hipóteses estão sendo examinadas, precisamos de respostas técnicas, não entrar em uma guerra de informação."

"O que aconteceu com ele foi uma injustiça. É muito difícil, mas temos que seguir em frente. O funk, o passinho, a dança são coisas que mudam a vida de muitas pessoas. Minhas letras são uma maneira de eu me expressar, minhas coreografias também", diz Andrézinho.

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