Élcio de Queiroz fez um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). No depoimento, o ex-PM relata os detalhes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, onde Ronnie Lessa é apontado como o atirador do crime ocorrido na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro.
Detido desde 2019, Lessa é conhecido por sua habilidade com armas, sua determinação em alcançar seus objetivos e sua lealdade aos cúmplices.
O sargento reformado da Polícia Militar foi expulso da corporação no início deste ano após um processo administrativo disciplinar que destacou seu "proceder reprovável". A decisão menciona que o comportamento de Lessa "ofende de maneira grave a honradez e a credibilidade" da PM.
Apesar de ser considerado ficha limpa até sua prisão por envolvimento na morte de Marielle e Anderson, o modus operandi de Lessa era amplamente conhecido no submundo do crime fluminense.
Ronnie Lessa é conhecido por sua reputação fazer qualquer coisa para realizar suas empreitadas criminosas, sem medir as consequências. Além disso, é amplamente reconhecida sua habilidade no manejo de armas, especialmente os fuzis.
Outra característica Lessa é sua preferência por atirar sentado, apesar de usar uma prótese moderna. Esse fato ocorreu após um atentado à granada em Bento Ribeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, em outubro de 2009. Mesmo com a adversidade, sua destreza com armas de fogo continua impressionante.
Ligações com contraventores
Em 1992, Ronnie Lessa ingressou no 9º BPM (Batalhão de Polícia Militar) em Rocha Miranda. Mais tarde, foi cedido à Polícia Civil. Sua habilidade em resolver casos rapidamente lhe rendeu respeito e sua reputação chegou até os ouvidos do contraventor Rogério Andrade, que passou a contar com Lessa como seu homem de confiança.
A conexão com a contravenção foi apontada como o motivo por trás do atentado que Ronnie Lessa sofreu em 2009. Após sair de um bar e passar pela Rua Mirinduba, próximo ao 9º BPM (Rocha Miranda), uma granada foi detonada.
O então policial militar tentou desesperadamente sair do veículo, mas ficou preso ao cinto de segurança, e o veículo acabou colidindo com um poste cerca de 150 metros adiante.
Em decorrência do atentado, uma de suas pernas precisou ser amputada, enquanto estava lotado no 9º BPM. A polícia suspeita que os responsáveis por esse ataque a Lessa sejam os mesmos que explodiram o carro do contraventor Rogério Andrade em abril de 2010, na Avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste.
Nesse atentado, o filho de Rogério, Diogo Andrade, de 17 anos, e um de seus seguranças perderam a vida.
Lealdade
A proximidade de Lessa com seus cúmplices também era notória. Detalhes sobre essa relação pessoal foram revelados na delação premiada de Élcio de Queiroz, que é compadre de Ronnie Lessa e padrinho de seu filho.
De acordo com a delação premiada do também ex-PM Élcio de Queiroz, a relação de amizade entre ele e Ronnie Lessa é estimada em 30 anos. Lessa chegou a auxiliar financeiramente Élcio, que foi expulso da Polícia Militar após a Operação Guilhotina.
Élcio revelou que os pagamentos eram feitos parceladamente, e em algumas ocasiões, Lessa abria mão de receber alguns valores. A amizade é descrita como "baseada nisso aí, independente do dinheiro", conforme descreveu Élcio, que considerava a relação com Lessa como de irmãos.