Audiência do caso Amarildo é retomada nesta quarta-feira

No mês passado, das 19 testemunhas de acusação convocadas para depor, apenas três foram ouvidas no caso do desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza

12 mar 2014 - 07h48
<p>Na primeira audiência, a mulher e o filho do ajudante de pedreiro chegam ao tribunal onde serão julgados os 25 acusados de terem torturado e assassinado Amarildo</p>
Na primeira audiência, a mulher e o filho do ajudante de pedreiro chegam ao tribunal onde serão julgados os 25 acusados de terem torturado e assassinado Amarildo
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Será retomada a partir das 13h desta quarta-feira, na 35ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a audiência de instrução e julgamento do caso envolvendo a tortura e desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, em julho do ano passado, na favela da Rocinha.

Vinte e cinco policiais que atuavam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da maior comunidade do País, incluindo o comandante da unidade na ocasião, o major Edson Santos, voltarão a sentar no banco do réus para responder pelas acusações de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. Somadas, as penas podem chegar a 33 anos de reclusão, dependendo do envolvimento de cada um no caso.

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A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento, iniciado no mês passado, foi o delegado titular da Delegacia de Homicídios, Rivaldo Barbosa, que comandou a investigação. Segundo ele, a princípio o inquérito apontava que Amarildo foi morto por um traficante, mas depois o caso mudou de figura.  "A ação dos policiais foi manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura contra Amarildo", afirmou Rivaldo.

O delegado disse ainda que os depoimentos eram incongruentes, pois todos tinham a mesma versão. Segundo ele, a polícia percebeu que o major Edson Santos, comandante da UPP na época, pressionava os PMs a fazer isso.

A Polícia Civil, segundo Rivaldo, precisou recorrer à Corregedoria da Polícia Militar para colher os depoimentos dos PMs, já que o major demorava muito a liberar os policiais para ir a delegacia. Segundo ele, era perceptível o medo que os policiais tinham de falar e a polícia descobriu que Amarildo havia sido torturado através de conversas informais.

A segunda testemunha de acusação a ser ouvida na ocasião foi a delegada assistente da Delegacia de Homicídios, Ellen Souto, que sustentou a versão de que os policiais da UPP da Rocinha envolvidos no caso compraram fraldas, deram dinheiro e chegaram até a prometer casas para que os moradores da comunidade sustentassem a versão de que Amarildo teria sido morto por traficantes que atuam na favela.

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Por fim, também foi ouvido o policial civil Rafael Rangel, que deu detalhes técnicos acerca do trabalho de perícia realizado pela corporação na investigação do sumiço de Amarildo. Está prevista também o depoimento da viúva do auxiliar de pedreiro, Elizabeth Gomes da Silva - que na primeira audiência ficou frente a frente com os policiais pela primeira vez desde o desaparecimento do marido.

O ajudante de pedreiro desapareceu após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) entre os dias 13 e 14 de julho. O caso ganhou bastante repercussão, pois coincidiu com o período de eclosão das manifestações de rua em todo o País e, em especial, no Rio de Janeiro.

De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital teriam torturado Amarildo depois de ele ter sido levado para a base da UPP.

Ainda de acordo com o MP, outros policiais militares são suspeitos de participar ativamente da ação, vigiando do lado de fora da base ou sendo omissos por não terem impedido os atos de tortura contra Amarildo.

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Antes de entrar na sala do julgamento, Beth, que foi ao Tribunal acompanhada do filho Anderson, disse que já não tem mais esperança de encontrar o marido vivo, mas que gostaria ao menos que os policiais revelassem onde está o corpo para poder enterrar o marido. "A gente fica nessa esperança", afirmou.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) preferiu não divulgar o nome da juíza responsável pelo caso. Serão ouvidas ainda outras 20 testemunhas de defesa. Não há previsão para o fim do julgamento.

Fonte: Terra
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