O bairro leva o nome da família mais tradicional do Maranhão. Desde o dia 3 de janeiro, no entanto, os moradores da Vila Sarney Filho, em São José de Ribamar, na Grande São Luís, viram a região ganhar destaque no noticiário nacional pela onda de violência comandada por facções criminosas infiltradas no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, na capital maranhense.
Em entrevista ao Terra, no entanto, pessoas que moram há décadas em Sarney Filho disseram que a rotina de violência no bairro não é recente – ainda que mudanças de hábitos nos últimos dias, sim, tenham sido percebidas por elas.
No dia 3, uma sexta-feira, era perto de 19h30 quando criminosos atearam fogo em um ônibus que passava pela Rua Oito, uma das principais do bairro. Atingida em 95% do corpo, a pequena Ana Clara de Sousa, 6 anos, não resistiu e morreu dias depois. O bisavô Dasico Rodrigues, 80, não resistiu ao impacto da morte da menina e também morreu, vítima de um ataque cardíaco. A irmã Lorrane, de um ano e sete meses, e a mãe, Juliane Carvalho Santos, 22, estão internadas.
“A gente tem um sentimento de revolta, mas, no fundo, no fundo, fica mesmo é apreensivo de estar aqui, porque o medo da violência é muito grande”, disse a desempregada Andréa Jeane Castro, 34, tia de Lorrane, que deve ter alta de um hospital em São Luís nesta quarta-feira. "Pensei muito na minha filha quando isso aconteceu", relatou, ela que é mãe de uma menina um mês mais nova que Lorrane.
"Se eu pudesse, mudaria daqui"
Para a pensionista Maria da Assunção, 62, o ataque ao ônibus realçou a sensação de insegurança pela qual o bairro já vinha passando.
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“Se eu pudesse, mudaria daqui. Fiquei com medo desde que atacaram aquele ônibus a ponto de não usar mais o transporte – antes ia ver meu filho, que mora fora do bairro, não vou mais”, relatou dona Maria. “Essa vila ficou uma coisa horrível, filha. Estou aqui há 32 anos e nunca me senti tão apavorada como agora. Piorou demais, não temos segurança, nada”, desabafou.
O casal José de Castro Sampaio, 63, garçom, e Maria Raimunda Lopes Sampaio, 63, dona de casa, disseram que o bairro viveu momentos de terror no dia em que criminosos atearam fogo no ônibus.
“Fiquei escondida aqui em casa, tremendo. Até de sentar na porta, aqui, na frente do portão, a gente tem medo: fica um pouquinho e, quando vê que os vizinhos estão entrando, entra também. Aquela mãe (da menina Ana Clara, Juliane) teve muita coragem e força”, definiu a dona de casa. “Já eu não posso parar de andar de ônibus, apesar do receio que ficou. Não tenho carro, é o único jeito de eu ir para o trabalho”, completou o marido.
Bairro homenageia deputado e não tem rede de esgoto
A falta de segurança relatada pelos moradores à reportagem tem outras marcas no bairro: nas lojas de uma, duas ou três portas, é difícil encontrar algum estabelecimento desprovido de grades de aço usados como reforço da proteção.
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Se por um lado homenageia o deputado federal e filho do senador e ex-presidente da República José Sarney, por outro, a Vila Sarney Filho não oferece um panorama dos mais agradáveis aos sentidos: além das queixas pela violência, andar pelas ruas requer estômago firme diante do forte cheiro de esgoto que emana das fossas – o bairro não tem saneamento básico, se queixaram os entrevistados -, além de atenção os diversos buracos abertos no asfalto ralo e com mato viçoso.
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3 de janeiro - Cinco pessoas foram vítimas de tentativa de homicídio e o sargento reformado da PM Antônio César Serejo, morto, durante onde de ataques ordenadas por detentos do Presídio de Pedrinhas, em São Luís
Foto: Clodoaldo Corrêa
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3 de janeiro - Na mesma noite, quatro coletivos foram incendiados. Uma menina de 6 anos acabou morrendo em decorrência das queimaduras. Sua mãe e sua irmã, de 1 ano, também ficaram feridas, além de um homem. O bisavô da vítima fatal morreu de infarto ao saber do atentado
Foto: Clodoaldo Corrêa
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9 de janeiro - A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, participa de reunião extraordinária do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, para debater a situação no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, e as violações dos direitos humanos cometidas contra presos
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom
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9 de janeiro - Pedrinhas foi um dos alvos de investigação da CPI do Sistema Carcerário, em 2008, quando foi listado entre os 10 piores presídios do País
Foto: Clayton Montelles / Governo do Maranhão
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9 de janeiro - Após reunião com a cúpula da Segurança do Maranhão e com a governadora Roseana Sarney, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou medidas conjuntas para o enfrentamento ao crime e a melhoria do sistema penitenciário do Estado
Foto: Geraldo Furtado / Governo do Maranhão
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10 de janeiro - Muitas faixas contra a governadora Roseana Sarney (PMDB) foram pintadas pelos manifestantes
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - No começo, apenas um pequeno grupo pintava os cartazes e fazia barulho em cima de um carro de som
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Desde as 16h, um pequeno grupo começou a organizar a manifestação em frente à biblioteca pública Benedito Leite
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Uma forte barreira policial conteve a manifestação e como é de praxe durante manifestações, todas as entradas da praça foram cercadas com gradeado e os manifestantes não conseguiram se aproximar da frente do palácio
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - O movimento saiu da praça Deodoro, no centro da cidade, até a praça Dom Pedro II, onde fica o Palácio dos Leões, sede do poder Executivo estadual
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Cerca de 500 pessoas foram às ruas da capital maranhense nesta sexta-feira para cobrar do poder público melhoria no sistema de segurança e na prestação de serviços
Foto: Clodoaldo Corrêa
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5 de janeiro - Dez pessoas foram presas até a tarde do domingo suspeitas de envolvimento com os ataques a coletivos e delegacias na cidade de São Luís
Foto: Clodoaldo Corrêa
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4 de janeiro - Viatura baleada em delegacia que foi alvo de atentado
Foto: Clodoaldo Corrêa
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15 de janeiro - Governadora Roseana Sarney recebe apoio logístico da secretária responsável pela administração penitenciária do Paraná
Foto: Janaína Garcia
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16 de janeiro - Segundo funcionários do presídio, a rebelião estaria ocorrendo Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), uma das oito unidades prisionais do complexo
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Do lado de fora de Pedrinhas, as mulheres de dois detentos afirmaram ao Terra que ouviram, por volta das 13h30, barulhos de tiros e bombas
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Agentes da Força Nacional e homens da Tropa de Choque da PM do Maranhão entraram pouco antes das 14h desta quinta-feira em uma das unidades do Complexo Penitenciário de Pedrinhas para conter um princípio de rebelião
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Para o pai de Ana Clara, a filha não será a última vítima da violência no Estado
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Grupo protestou contra a escalada da violência em todo o Maranhão
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - O filho de Josaíldes foi baleado e morto em uma escola da Grande São Luís
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - A secretária de Administração Penitenciária do Paraná, Maria Tereza Uille Gomes, fala na sede do governo do Maranhão, em São Luís, sobre um software que o governo paranaense cedeu ao Estado para gerenciar a situação dos presos maranhenses
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - Sebastião Uchôa conversou com o Terra nesta sexta-feira
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - "Não é resto de comida, não: é comida que os presos não querem", faz questão de observar dona Geni
Foto: Janaina Garcia
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20 de janeiro - Comboio de viaturas para transferência de presos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas
Foto: Handson Chagas / Sejap
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20 de janeiro - Identidade, quantidade e destino de presos transferidos não foram confirmados pelo governo do Maranhão por "questão de segurança"
Foto: Handson Chagas / Sejap
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20 de janeiro - Nesta segunda, o Maranhão iniciou a transferência de presos de Pedrinhas para presídios federais de segurança máxima
Foto: Handson Chagas / Sejap
Violência no Maranhão
O Estado do Maranhão enfrenta uma crise dentro e fora do sistema carcerário que tem como principal foco o Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 59 detentos foram mortos no presídio somente em 2013, o que revelou uma falta de controle no local.
No dia 3 de janeiro, uma onda de ataques a ônibus em São Luís mobilizou a Polícia Militar nas ruas da capital maranhense e dentro do presídio, já que as investigações apontam que as ordens dos atentados partiram de Pedrinhas.
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Nos ataques do dia 3, quatro ônibus foram incendiados e cinco pessoas ficaram feridas, incluindo a menina Ana Clara Santos Sousa, 6 anos, que morreu no hospital alguns dias depois, com 95% do corpo queimado.
A questão dos problemas no sistema prisional maranhense ganhou mais destaque no dia 7 de janeiro, quando o jornal Folha de S. Paulo divulgou um vídeo gravado em dezembro, onde presos celebram as mortes de rivais dentro do complexos. Após essas imagem de presos decapitados serem divulgadas, o governo Roseana Sarney passou a ser pressionado pela Organização das Nações Unidas, pela Anistia Internacional, pelo CNJ e até pela Presidência da República.
No dia 10 de janeiro, a presidente Dilma Rousseff divulgou pelo Twitter que “acompanha com atenção” a questão de segurança no Maranhão. O Governo Federal passou a oferecer vagas em presídios federais, ao mesmo tempo em que a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) visitou o complexo de Pedrinhas.
No dia 14 de janeiro, um grupo de advogados militantes na defesa dos direitos humanos protocolou na Assembleia Legislativa do Maranhão um pedido de impeachmentcontra a governadora Roseana Sarney. Segundo o grupo, composto por nove advogados de São Paulo e três do Maranhão, a governadora incorreu em crime de responsabilidade porque não teria tomado providências capazes de impedir a onda de violência que deixou mortos e feridos dentro e fora do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, desde o início do ano.