Beltrame diz que UPPs entraram em 'verdadeiras megalópoles do crime'

13 mar 2014 - 11h17
(atualizado às 13h17)
<p>Durante a ocupação da Vila Kennedy, o clima era tranquilidade na região</p>
Durante a ocupação da Vila Kennedy, o clima era tranquilidade na região
Foto: Mauro Pimentel / Terra

O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse em entrevista coletiva nesta quinta-feira que o planejamento feito há cinco anos pelo governo do Estado previa ocupar 40 comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Com a ocupação da Vila Kennedy, foi instalada a 38ª UPP do Rio e o programa se encaminha para o final de seu objetivo. Beltrame avalia que a implementação das UPPs tem sido bem-sucedida, apesar da incidência de violência e crimes em algumas comunidades ocupadas.

"Nós não temos problema em 38 UPPs. Nós temos problemas de ameaça ao programa em duas áreas, que são as mais populosas - as que chegam perto ou ultrapassam 100 mil habitantes. Temos problemas, e eles são difíceis de resolver por causa da tirania do tráfico, que age com terror para cima dos policiais à medida que se sente ameaçado", garantiu o secretário.

Publicidade

"Nunca ninguém mexeu no território do tráfico. Nunca ninguém retirou território do crime. Nós estamos fazendo isso", afirmou Beltrame, explicando por que a polícia encontra resistência de traficantes dentro das comunidades ocupadas. "Nosso programa é ousado. Nós entramos em verdadeiras megalópoles do crime", justificou ele.

Beltrame considerou tranquila a operação, mas não descartou a possibilidade de a área ser palco de ações “tristes e desagradáveis”, com trocas de tiros no meio da comunidade, como já ocorreu em outras favelas ocupadas do Rio. E classificou como “terrorismo contra o Estado” atos violentos ocorridos no complexo de favelas do Alemão, também ocupado pela polícia, onde houve confrontos com bandidos e PMs nos últimos dias.

"Não vou ser leviano de dizer que não vamos ter ações tristes e desagradáveis nas comunidades, como tiros (no meio da comunidade), coisas com que o Rio convive há 30 anos e nunca ninguém fez nada. Não há garantia de que vamos retirar todas as armas", afirmou.

O secretário informou que a ação na Vila Kennedy já havia começado na madrugada de segunda-feira e que a região já estava parcialmente ocupada pelo batalhão da área, o que permitiu que os cerca de 260 policiais levassem apenas 20 minutos para a ocupação. "Foi uma ação tranquila. Temos certeza que a comunidade quer e precisa. E a polícia chegou mais uma vez ali para não sair. Entendemos que, pelo fato de não termos nenhum tipo de trauma, atingimos o nosso propósito de recuperação do território", disse Beltrame. 

Publicidade

Para ele, a situação de segurança nas favelas ainda está longe do ideal. "Em função do abandono de anos, estamos muito longe do ideal. Mas temos um processo claro de retomada de território, que se mudar, será uma perda", disse.

Segundo Beltrame, as comunidades ocupadas continuam tendo problemas, mas vivem uma situação melhor do que antes. "A população não tinha resultados efetivos como temos hoje", disse. 

Traficante Robinho entre os presos

O secretário disse ainda que entre as pessoas presas na operação de hoje está um traficante conhecido como Robinho da Vila Kennedy, acusado de matar um policial civil na saída de uma creche meses atrás, e que foi detido em outra favela, na região do Lins. Nesta quinta-feira, foram feitas outras 22 operações em favelas, que podem ter relação com a ocorrida na Vila Kennedy.

Beltrame descartou chamar o Exército para atuar novamente no Complexo do Alemão, que também já foi ocupado pela polícia. E disse que tiroteios em comunidades ocupadas, como o Alemão e a Rocinha, ocorrem porque essas regiões são muito grandes. Segundo ele, nestes locais a secretaria vai investir mais em inteligência e em prisões. Na opinião dele, os ataques a PMs não representam uma ameaça para o projeto de pacificação. Mas ele disse que não vai admitir mortes de policiais.

Publicidade

O governador Sérgio Cabral disse nesta quinta-feira que já tem um plano avançado de inteligência e reforço da segurança no Alemão, que será divulgado em breve. O secretário de Segurança lembrou que o plano do governo do Estado é pacificar 40 favelas em cinco anos. O Complexo de Favelas da Maré será uma das duas próximas a serem ocupadas. "O programa de pacificação obviamente não vai atingir todas as favelas da cidade. O plano de expansão do projeto está pronto, mas focamos primeiro nessas 40. Não há como ocupar todas as comunidades do Rio, e nem há a necessidade de fazer isso em todas", afirmou Beltrame.

Segundo ele, os criminosos que deixam as favelas ocupadas saem desarticulados e enfraquecidos.

Pedido de ajuda aos moradores

Mais cedo, o secretário José Beltrame gravou uma mensagem em vídeo para os moradores da Vila Kennedy com duração de um minuto e quinze segundos de duração. Publicada na internet, a iniciativa fala sobre a ação de ocupação nesta quinta-feira e pede a colaboração da comunidade por meio do 190 e do Disque-Denúncia.

Beltrame grava mensagem em vídeo para moradores da Kennedy
Video Player

"Esse primeiro momento talvez seja de inquietação, mas em breve a comunidade toda vai viver dias melhores. Contamos com a colaboração dos senhores", disse Beltrame no vídeo. Ele informou ainda que as escolas já devem retomar as atividades na tarde desta quinta. "Agradeço e espero que os senhores, a polícia e nós da secretaria tenhamos uma boa interação", completou. 

Publicidade

Ocupação da Vila Kennedy

Forças de segurança do Estado no Rio de Janeiro iniciaram na manhã desta quinta-feira a ocupação da Vila Kennedy e da favela do Metral, comunidades da zona oeste da capital fluminense, para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). As comunidades foram tomadas sem resistência, o que permitiu o domínio dos territórios em 20 minutos, segundo a Secretaria de Segurança.

Os policiais que atuam na região revistaram carros e motos. Durante a ocupação, o clima era tranquilidade na região, após o episódio de dois dias atrás quando traficantes fecharam a avenida Brasil e atiraram em transformadores de luz, deixando muitos moradores às escuras. A VK, como é conhecida na abreviação, é a segunda comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro a receber uma UPP. 

Rio: polícia ocupa Vila Kennedy para instalação de nova UPP

Fonte: Terra
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se