Carandiru: advogado de PMs abandona plenário, e júri é dissolvido

Celso Machado Vendramini discutiu com juízes e promotores e abandonou o júri; conselho de sentença foi dissolvido e júri terá de ser remarcado

18 fev 2014 - 16h06
(atualizado às 18h44)

A terceira etapa do júri do massacre do Carandiru - episódio em que 111 presos foram mortos, no dia 2 de outubro de 1992, na antiga Casa de Detenção de São Paulo - foi dissolvido nesta terça-feira após uma discussão entre o advogado dos policiais militares acusados pela morte dos detentos, Celso Machado Vendramini, e o promotor Eduardo Olavo. Em meio ao desentendimento, o advogado abandonou o plenário e afirmou que o juiz do caso, Rodrigo Tellini, estava dando um tratamento desigual a ele e ao Ministério Público, o qual, para Vendramini, estaria sendo beneficiado. Com o abandono, Tellini interrompeu o julgamento e dissolveu o conselho de sentença. 

A discussão ocorreu durante o depoimento do comandante do Comando de Operações Especiais (COE) da PM, Arivaldo Sérgio Salgado. O desentendimento se deu porque Vendramini considerou que o promotor Eduardo Olavo não estava fazendo perguntas diretas ao réu. Naquele momento, Olavo lia um trecho de um depoimento de Salgado à Justiça Militar, dos anos 90.

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Vendramini pediu a intervenção do juiz, que se negou a fazê-la. Nesse momento, o advogado disse que estava sendo desrespeitado, que o tratamento dado a ele em comparação ao Ministério Público não era equivalente,  e que abandonaria o plenário. Na saída ainda jogou a toga e o paletó contra a cadeira, antes de abandonar o plenário.

"Estão faltando juízes que tenham competência para trabalhar no Tribunal do Júri. Não sei se o juiz está mal intencionado, mas estou percebendo que para o Ministério Público é tudo, e para a defesa, nada. Estou abandonando em protesto à atitude do juiz de não presidir o julgamento; ele que marque nova data e vamos voltar para fazer um novo julgamento", concluiu.

Para Olavo, a atitude representou "um desrespeito" com a população e com a própria Justiça paulista. "É lamentável. Agora teremos de marcar uma nova data. Isso trava a Justiça. Imagine o quanto não foi gasto para que esse julgamento fosse realizado. É um desrespeito à sociedade", disse. Tellini não se pronunciou após a dissolução do conselho de sentença.

Comandante diz ter sofrido disparos

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No dia 2 de outubro de 1992, Salgado era o responsável pelo COE. À sua tropa coube ocupar o terceiro andar do pavilhão 9 da Casa de Detenção, que, após uma briga entre presos, entrou em rebelião. Oito deles foram mortos. Outros dois ficaram feridos à bala. 

"Diretamente comecei a sofrer disparos. Revidei já no trajeto para chegar ao terceiro andar. Dei cinco disparos", disse o policial durante seu interrogatório tomado pelo juiz. Salgado disse que foram pelos menos três embates. Um no acesso ao andar e outros dois nos corredores mais longos do prédio. Ele afirmou que portava um revólver calibre 38 e não tinha colete balístico. Sua proteção cabia naquele dia a um escudeiro.

Julgamento

Desde segunda-feira, 15 policiais militares (PMs) acusados de participação na morte de oito detentos - e na tentativa de outros dois homicídios - eram julgados no Fórum Criminal da Barra Funda depois de mais de 21 anos domassacre. Nas duas primeiras etapas do julgamento, no ano passado, os PMs que atuaram nos dois primeiros andares do prédio foram condenados, respectivamente a 156 e 624 anos de prisão. A Justiça decidiu, em primeira instância, que eles concorreram para a morte de 13 presos no primeiro andar e outros 52 no segundo andar. 

Relembre o caso

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Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
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