O fórum criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, amanheceu na manhã desta segunda-feira com uma cena forte. Um "corpo" coberto, ensanguentado e com uma cruz no peito. Sob a cobertura podia-se observar uma farda da PM e os tradicionais coturnos da corporação. Trata-se de um protesto da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que pede a absolvição de 15 policiais militares envolvidos no Massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992.
O grupo de PMs vai a julgamento nesta segunda-feira, sob a acusação de oito mortes e duas tentativas de homicídio. O grupo pertencia ao COE (Comando de Operações especiais) e atuou no terceiro andar (quarto pavimento) do Pavilhão 9 na data do massacre. Outros três grupos de policiais que atuaram naquele dia saiu condenado com penas que variam entre 96 e 624 anos de prisão.
O deputado e pré-candidato ao governo de São Paulo, Major Olímpio (PDT), era um dos que participava do protesto e que defende a absolvição dos policiais.
"Está claro que esses policiais cumpriram ordens e que não há provas de que eles foram responsáveis pelas mortes às quais são imputados", disse. Segundo ele, apesar das condenações, a sociedade gostaria de ver outro resultado para o julgamento dos policiais.
Parentes e amigos de policiais participaram de protesto
O grupo ligado aos PMs chegou ao Fórum por volta das 7h, horário em que os jurados começavam a se apresentar para participar do sorteio que definirá o corpo do júri. Além da associação, parentes e amigos de policiais militares também participaram do protesto.
O grupo deverá permanecer durante todo o dia no Fórum, acompanhando os trabalhos que devem começar nesta tarde. Ainda nesta manhã será feito o sorteio dos jurados, que é fechado ao público.
Em um documento entregue em frente ao fórum, a Associação de Cabos e Soldados informa que os policiais agiram dentro dentro da lei ao receberem "ordem direta" para invadir o presídio. A associação classifica o julgamento como político.
Julgamento
A partir desta segunda-feira, 15 policiais militares (PMs) acusados de participação na morte de oito detentos - e na tentativa de outros dois homicídios - serão julgados no Fórum Criminal da Barra Funda, depois de mais de 21 anos do ocorrido. Nas três primeiras etapas do julgamento, os PMs que atuaram em três andares do prédio foram condenadosa penas entre 96 e 624 anos de prisão.
Relembre o caso
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.
Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.
A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.