Caso Amarildo: silêncio de PMs atrasou investigação, diz inspetora

26 mar 2014 - 23h08

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro retomou nesta quarta-feira audiência de instrução e julgamento dos 25 policiais militares acusados de terem torturado e desaparecido com o corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, na favela da Rocinha, zona sul do Rio, em julho de 2013. Durante todo o dia foram ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa, no Fórum Central, no centro da cidade. Esta foi a quarta audiência, presidida pela juíza Daniella Alvarez, da 35ª Vara Criminal.

A inspetora Alessandra Valle, que participou das oitivas e organização do inquérito sobre o desaparecimento de Amarildo, declarou que o silêncio dos policiais que testemunharam atrapalhou as investigações. "Um código de silêncio. Eles ficavam completamente fechados, apesar das investidas para que falassem a verdade", comentou ao ressaltar que todos os ouvidos pareciam nervosos e apreensivos durante os depoimentos.

Publicidade

O delegado Ruchester Marreiros, responsável por uma investigação sobre o tráfico de drogas na Rocinha, na época do desaparecimento de Amarildo, também prestou depoimento. Os advogados de defesa fizeram perguntas sobre indícios de que Amarildo tinha relações com o tráfico, e que pudesse ter sido assassinado pelos traficantes como queima de arquivo. O delegado informou que interceptações telefônicas indicaram que o tráfico poderia ser responsável pela morte de Amarildo. A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho questionou o fato de Ruchester não ter incluído no inquérito final das investigações uma conversa telefônica em que traficantes afirmam que os policiais militares tinham assassinado o pedreiro. Carmen também questionou a prisão, requerida por Ruchester, de Elizabeth Dias de Souza, mulher de Amarildo, por envolvimento com o tráfico de drogas apenas com base no depoimento do soldado Avelar, que está entre os réus no processo.

Outro depoente, o soldado Newland de Oliveira e Silva, que também servia na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, declarou que durante as investigações sobre o desaparecimento de Amarildo chegou a ser coagido pelo delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios, e pelo major Fábio Sá Romeu, da 8ª Delegacia da Polícia Judiciária Militar. "Me ameaçaram, bateram na mesa, falaram que já sabiam de tudo e que se eu não cooperasse seria preso", contou o policial militar. Na época do incidente com Amarildo, Newland foi acusado de ter dado R$ 350 a uma moradora da Rocinha, que era informante da PM, para que ela testemunhasse na Auditoria Militar que um traficante da localidade ameaçara fazer com ela o mesmo que fizera com Amarildo. Mais tarde a moradora mudou o testemunho e disse que havia sido paga para fazer tal declaração.

Newland admitiu ter dado R$ 350 reais para a mulher, pois ela havia sido expulsa da Rocinha por traficantes e não tinha dinheiro para pagar o aluguel em outro lugar.

Também foram ouvidos policiais militares que na época trabalhavam na UPP da Rocinha, além de amigos e conhecidos de alguns dos réus. A próxima audiência foi marcada para a próxima quarta-feira, quando começará o interrogatório dos réus.

Publicidade

De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, Amarildo foi levado por policiais militares para a sede da UPP no dia 14 de julho do ano passado, onde foi torturado e morto. Além dos policiais acusados dos crimes de tortura e ocultação de cadáver, outros policiais são acusados de participar da ação, por terem vigiado ao redor da base ou por não terem impedido os supostos atos de tortura contra Amarildo.

Agência Brasil
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se