Nesta quarta-feira, foram ouvidas as últimas três testemunhas da defesa - o técnico pericial do Ministério Público Robson Spinelli e dois moradores, que não tiveram suas identidades reveladas.
O primeiro morador a depor afirmou que os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha eram extremamente violentos e tratavam as pessoas da comunidade na base do “tapa na cara, choque e saco de plástico”. Ele acusou o Major Edson Santos, então comandante da UPP, de tê-lo ameaçado e disse que chegou a procurar ajuda do governo do Estado.
O morador afirmou ainda que o seu irmão foi confundido com um traficante e torturado, tendo o peito "esfregado para que ficasse sem ar" e a casa invadida e alvejada por tiros. Ele disse ainda ter presenciado uma tortura feita por um dos policiais acusados de terem participado da morte de Amarildo. O conteúdo do depoimento do terceiro morador não foi revelado por se tratar de um menor de idade.
Já Spinelli, que visitou ontem a sede da UPP da Rocinha, disse que os contêineres em que funciona a polícia não têm revestimento acústico e que não há dúvidas de que gritos vindo de dentro das salas poderiam ser ouvidos do lado de fora. A posição corrobora os depoimentos dos três soldados da PM ouvidos pela defesa na quarta-feira passada – eles afirmaram que ouviram gritos e murmúrios por cerca de 40 minutos, originados do contêiner principal.
Na sequência, passaram a ser ouvidas as testemunhas da defesa, que arrolou 20 nomes. O delegado Orlando Zaccone, então titular da 15ª DP (Gávea) à época do desaparecimento de Amarildo, depôs, seguindo de um inspetor da polícia civil e da atual comandante da UPP da Rocinha, major Priscila Azevedo.
Tanto Zaccone quanto Priscila afirmaram nunca ter recebido denúncias de tortura contra os PMs da UPP. O delegado afirmou ainda que o então delegado adjunto da 15ª DP, Ruchester Barbosa, que iniciou as investigações do caso Amarildo, mentiu ao afirmar que ele havia sido morto pelo traficante Catatau.
Vinte e cinco policiais que atuavam na UPP da Rocinha respondem pelas acusações de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. Somadas, as penas podem chegar a 33 anos de reclusão, dependendo do envolvimento de cada um no caso.
De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital teriam torturado Amarildo depois de ele ter sido levado para a base da UPP.
Ainda de acordo com o MP, outros policiais militares são suspeitos de participar ativamente da ação, vigiando do lado de fora da base ou sendo omissos por não terem impedido os atos de tortura contra Amarildo.
Ao contrário dos dois primeiros dias de julgamento, a esposa de Amarildo, Elisabeth Gomes da Silva, não veio ao tribunal. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) preferiu não divulgar o nome da juíza responsável pelo caso. Spinelli é a sétima testemunha a ser ouvida. Não há previsão para o fim do julgamento.