Após a divulgação da delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, que responde pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, a então defesa do réu deixou o caso. Em nota, o advogado João Henrique Santana Telles afirmou que foi ‘surpreendido’ pelo acordo com a Polícia Federal (PF) e com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
A delação foi confirmada na manhã de segunda-feira, 24, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em uma coletiva para tratar da operação que resultou na prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel.
De acordo com Telles, a defesa tomou conhecimento do acordo feito por Élcio também nesta segunda. “Foi surpreendido e desconhecia completamente a intenção e a execução da delação premiada já homologada por parte do réu”, afirma.
Ainda segundo o advogado, sempre manteve uma relação “transparente e positiva” com o ex-PM, deixando claro que “não compactuava com o instituto da delação premiada”, e reafirmou que a base da contratação e a manutenção da relação jurídica se limitava a defendê-lo tecnicamente perante ao Tribunal do Júri.
“Diante disso, entende o subscritor que a relação fiduciária estabelecida com o sr. Élcio Vieira de Queiroz, foi ferida de morte, rompida de modo unilateral pelo réu, inviabilizando assim a manutenção na defesa técnica, bem como dos poderes que lhe foram outorgados no instrumento mandatário”. Sendo assim, Telles pediu a renúncia do cargo.
Delação
Após firmar o acordo, Élcio deu detalhes da dinâmica do crime que vitimou Marielle e seu motorista, no dia 14 de março de 2018. Ele dirigia o Cobalt usado no homicídio, e Ronnie Lessa foi responsável pelos disparos.
O ex-PM afirmou que foi chamado por Ronnie no dia do crime, e soube que se tratava de uma execução quando o colega vestiu um casaco e retirou a metralhadora da bolsa, além do silenciador da arma.
Eles esperaram Marielle sair da Casa das Pretas, e seguiram o carro no qual estava por algumas ruas. Dentro do veículo, Ronnie já estava com uma touca ninja (balaclava) e de metralhadora na mão. Quando surgiu uma 'oportunidade', Ronnie pediu para Élcio emparelhar o carro.
"Ele [Ronnie Lessa] já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço", contou. "Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou 'vão bora'; eu nem vi se acertou quem, se não acertou", disse Élcio em depoimento à PF.
Após o crime, os dois fugiram. Élcio e Ronni estão presos desde 2019, e respondem pelo crime no Tribunal de Júri do Rio.