A facção carioca Comando Vermelho (CV) fez uma ameaça em vídeo à procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez, forçando o Ministério do Interior a montar uma operação para protegê-la. O grupo criminoso está com o seu líder, Marcelo Pinheiro Veiga, conhecido como Piloto, preso no país desde dezembro. Ao longo dos últimos anos, o CV tem tentado expandir a sua atuação no país vizinho, disputando com o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de traficantes locais, rotas importantes para o comércio de armas e cocaína no continente.
A existência do vídeo foi divulgada pelo Ministério do Interior paraguaio. O governo reforçou a segurança da procuradora enquanto investiga a origem das imagens.
Na gravação, em que falam português, cinco homens aparecem encapuzados e armados enquanto um deles segura uma fotografia de Sandra. "Temos um recadinho para você. Hoje aqui no Paraguai, nosso objetivo é você. Então, presta bem atenção que o papo é reto: muita gente não está gostando da pilantragem que você está fazendo com o sistema. Como você está vendo, sua cabeça já está a prêmio. Não viemos para pagar comédia. Caso nossa equipe não conclua a missão, outras equipes vão concluir, entendeu?".
Outro homem do grupo continua: "Pode abandonar seu cargo que a gente vai atrás de você igual. Você já é o nosso troféu. Estamos atrás de você, doutora. Fica ligeira. Estamos te procurando e a gente vai te achar". Na sequência, os criminosos engatilham as armas.
O governo paraguaio acredita que pelo menos três dos bandidos que aparecem na gravação tenham sido mortos durante uma operação realizada no fim de outubro; outros dois permanecem sendo procurados.
Em uma casa na cidade de Presidente Franco, a 300 quilômetros de Assunção e na Tríplice Fronteira, uma cópia do vídeo foi achada. No mesmo local, as autoridades localizaram um carro-bomba, que seria usado para resgatar Marcelo Piloto, hoje preso no Agrupamento Especializado da Polícia, na capital. O veículo foi detonado de forma controlada pela polícia.
Brasileiro é acusado de terrorismo
A divulgação do vídeo ocorreu um dia depois de Piloto ter concedido uma entrevista, de dentro da prisão, à imprensa paraguaia, em que nega a acusação de terrorismo, imposta a ele pelas autoridades policiais. "Não estou dizendo que sou inocente. Mas não sou terrorista, nunca fui. Jogaram coisas em cima de mim que não são verdadeiras", disse.
"Todo mundo sabe que me dedico ao comércio de armas e drogas. Compro aqui em Assunção e vendo em Ciudad del Este, Pedro Juan Caballero, em Salto del Guairá. Compro e vendo", acrescentou, de acordo com jornais paraguaios.
Ele foi preso em dezembro passado em Encarnación após uma operação que mobilizou agências antidrogas do Paraguai, Brasil e Estados Unidos. O Brasil busca a sua extradição, que está sob análise da Justiça do país vizinho. Nesta quinta-feira, 8, ao Estado, o Ministério da Segurança Pública disse não ter sido comunicado pelo governo paraguaio sobre o vídeo com a ameaça.
Nesta quinta, após voltar de uma viagem à Itália, o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez afirmou que tinha conhecimento do vídeo "há tempos".
A própria procuradora-geral, em entrevista à imprensa local, disse que há semanas tomou conhecimento das ameaças. "Eu fui convocada pelo ministério e advertida para tomar todas as precauções quanto à minha segurança."
A procuradora revelou que, além dela, outros promotores que atuam no combate ao narcotráfico foram ameaçados, mas não detalhou como isso aconteceu. "Maneja-se muita informação sensível e por isso consideramos importante sermos cuidadosos", acrescentou. De acordo com ela, o vídeo não havia sido divulgado antes pois causaria um "impacto de terror".
Sandra recebeu também o apoio do embaixador americano no Paraguai, Lee McClenny. "A Procuradoria é uma instituição-chave para o Estado de direito e a segurança de todos os paraguaios", escreveu em uma mensagem divulgada na internet.
Rei da Fronteira foi executado
O controle das fronteiras entre Brasil e Paraguai, tido como país de origem da maior parte da maconha consumida no Brasil, se intensificou e resultou em uma série de mortes após a execução, em 2016, de Jorge Rafaat Toumani, traficante de drogas condenado a 49 anos de prisão no Brasil e tido como o "rei da fronteira". Agindo na divisa entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã (MS), Rafaat foi executado dentro de seu carro blindado por homens com armas capazes de derrubar aviões, ligados à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). O confronto teve mais de 200 disparos. A facção passou a controlar o comércio de drogas na região, mas traficantes brasileiros e paraguaios continuam sendo mortos desde então. /AGÊNCIAS INTERNACIONAIS. COLABOROU BRUNO RIBEIRO