O corpo do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho depois de ter sido levado para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, no Rio de Janeiro, foi retirado do local em uma capa de motocicleta, segundo o depoimento de um policial militar que trabalhava na UPP na noite do desaparecimento. A capa do veículo pertencia ao próprio PM, que afirmou ontem que Amarildo teria sido vítima de tortura dentro da UPP e seu corpo levado à mata após "algo sair errado". As informações foram confirmadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nesta terça-feira.
Segundo a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, o PM está sendo protegido pela Justiça, e colaborou por temer pela própria vida. Ela informou que ao menos 11 policiais foram obrigados a permanecer na sede da UPP na hora em que o crime ocorria.
Carmen Eliza disse também que o major da Polícia Militar (PM) Edson Santos, ex-comandante da UPP da Favela da Rocinha, ainda exerce forte influência sobre os policiais que estão envolvidos ou podem colaborar com as investigações sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Carmen defendeu a separação dos presos, que estão na Unidade Prisional da Polícia Militar, para que a coleta de provas seja mais isenta.
"A pressão do major Edson é inequívoca. Ele tem um domínio sobre os outros policiais. É preciso que ele seja afastado dos outros. Seria essencial para a coleta de provas ele ser transferido do BEP (Batalhão Especial Prisional, como era chamado)", declarou.
De acordo com a promotora, mais policiais podem ser indiciados pela morte e tortura do pedreiro, que pode ter ocorrido na sede da UPP. Depoimentos prestados nesta semana contribuíram para a denúncia, que pode ter um aditamento (acréscimo), nos próximos dias. A partir das novas informações, mais dez policiais poderão ser indiciados, alguns deles, segundo ela, por terem participado ativamente do crime.
A promotora ressaltou que os policiais que se omitiram também serão indiciados. Mesmo a conduta dos que colaboraram com as investigações será avaliada, e poderá resultar em acusações pela tortura e morte de Amarildo, pois, segundo ela, policiais que se omitem também devem ser responsabilizados pelos crimes que não impedem.
A promotora afirmou ainda que o teste do material coletado nos arredores da sede da UPP com o uso de luminol, substância que detecta presença de sangue no ambiente, deu positivo, mas não quer dizer que havia sangue na área analisada. De acordo com Carmen Eliza, ferrugem e óleo, que também estavam no local, poderiam levar a um falso positivo. Novas análises serão feitas para esclarecer a natureza da substância encontrada.
O sumiço de Amarildo
Amarildo sumiu depois de ser levado por PMs para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. O ex-comandante da unidade sustentou que o pedreiro foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem Amarildo saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando. Dez PMS foram presos e serão julgados por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.
Com informações da Agência Brasil