A zona norte de São Paulo viveu, nesta terça-feira, uma noite de pânico disseminado principalmente pelas redes sociais. Neste caso em especial, pelo WhatsApp - ferramenta de envio de mensagens e arquivos.
Em uma mensagem de voz que circulou entre usuários do aplicativo, um suposto bandido alerta para a ação de facções durante a noite. "Quero dizer aí pra todo o pessoal que faz parte da facção que hoje (...) vai reunir todo mundo aí e a gente vai fazer um 'alvoraço', hein? Só lembrando que o pessoal que mora aí na redondeza, pra guardar carro, o que for. A gente vai sair tacando fogo em tudo".
A suspeita é de que as ameaças e os ataques sejam uma reação à morte de Jeorge Vieira Puciano, conhecido como JJ, no último domingo, na Vila Medeiros, zona norte da capital paulista. Com a rápida propagação das mensagens via WhatsApp, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, foi obrigado a se posicionar sobre a situação na tarde de terça-feira. “Recebemos informações (sobre o toque de recolher) e mobilizamos as forças policiais, mas não há nada de concreto”, disse Grella. Não demorou para que houvesse.
Por volta das 17h30, um ônibus foi incendiado na avenida Zaki Narchi, na Vila Guilherme.
Ferramenta para o crime
O popular WhatsApp está caindo nas graças dos criminosos. No dia 5 de novembro, nove pessoas foram mortas após a execução de um policial em Belém, no Pará. Durante a noite sangrenta, internautas relataram ter recebido mensagens pelo aplicativo que alertavam para ataques iminentes em alguns pontos da cidade. A Universidade Federal do Pará (UFPA), seria um dos alvos dos criminosos, que teriam prometido invadir a instituição.
No dia 2 deste mês, bandidos de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, mandaram uma gravação de 49 segundos com o anúncio de um toque de recolher pela morte de integrantes de uma facção criminosa. Ao fundo, se ouvia tiros sendo disparados.
Nesses dois casos, as mensagens se espalharam rapidamente – de celular em celular – até gerar pânico generalizado.
Diante desta nova modalidade de propagação do crime via redes sociais, o Terra entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para saber se existe algum departamento especializado em monitorar e identificar ações criminosas no WhatsApp. Até o fechamento desta reportagem, a SSP não se pronunciou sobre o assunto.
Vale lembrar que os ataques desta terça-feira em São Paulo ocorreram a poucos metros do Departamento de Investigações Criminais (Deic), órgão responsável pela investigação das ações do crime organizado em São Paulo.
Outros crimes
O programa WhatsApp ganhou as páginas policiais pela primeira vez quando imagens de crianças e adolescentes nuas passaram a ser compartilhadas pelo aplicativo, assim como fotos sem autorização de pessoas fazendo sexo - ambas atividades criminosas. Com o surgimento do Marco Civil da Internet neste ano, o provedor fica obrigado a indisponibilizar o conteúdo assim que for acionado judicialmente.
O aplicativo pode servir também, em menor escala, como ferramenta para golpistas. Tradicionalmente, este tipo de crime é cometido usando mensagens de SMS, mas, nos últimos meses, o WhatsApp tem sido usado para o mesmo fim. Bandidos, muitas vezes presos, enviam mensagens dizendo que o dono do número ganhou algum prêmio e que deve ligar para determinado número para recebê-lo. A partir daí, o golpe varia, mas frequentemente envolve a compra de cartões com crédito para celular ou a entrega de dados pessoais.
De fato, a tecnologia facilita a comunicação de várias maneiras, mas seria ingenuidade achar que o crime organizado fosse ficar de fora destas facilidades. Resta saber agora como a polícia vai reagir a esta investida dos criminosos.
Veja as diferenças e semelhanças entre as principais organizações criminosas que atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro
Mensagem enviada para aplicação de golpes via SMS (Foto: Reprodução)