Delegado: Caio era tranquilo com vizinhos, mas violento em manifestações

Perfil do suspeito de acender o rojão que matou cinegrafista da Bandeirantes era diferente em sua vida particular e nos protestos, segundo a polícia

12 fev 2014 - 12h48
(atualizado às 14h41)
<p>Caio Silva de Souza foi preso durante a madrugada na Bahia e apresentado pela polícia no Rio de Janeiro</p>
Caio Silva de Souza foi preso durante a madrugada na Bahia e apresentado pela polícia no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Um jovem de família pobre, morador da Baixada Fluminense e simpático com os vizinhos e colegas de trabalho, mas que se transformava ao chegar às ruas para os atos contra a corrupção, ou, como no caso do último dia 6 de fevereiro, contra o aumento da passagem de ônibus municipal. É este o perfil de Caio Silva de Souza, 23 anos, preso na madrugada desta quarta-feira no município de Feira de Santana, na Bahia, acusado de ser a pessoa que acendeu o artefato explosivo que vitimou fatalmente o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade. 

"Nós percebemos que nas suas relações profissionais e pessoais ele parece ter uma personalidade muito diferente de quando ele aparece nos vídeos (de manifestações). Os vizinhos dizem que ele é tranquilo, cumprimenta a todos. No ambiente de trabalho, ficaram surpresos (com seu pedido de prisão)", contou o delegado titular da 17ª DP (São Cristóvão), Maurício Luciano, que foi pessoalmente até o município baiano realizar junto com sua equipe o cumprimento do mandado de prisão preventiva contra o suspeito. 

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"Sozinho ele tem uma personalidade, mas sob o efeito da multidão ele se transforma e passa a agir de uma forma violenta. Um psicólogo poderia avaliar que tipo de comportamento é esse. Aquele anonimato faz ele ser motivado a isso? Foi essa a constatação que nós tivemos", complementou Luciano, que contou com a ajuda do advogado de Caio, Jonas Tadeu Nunes, e da namorada do jovem, para efetuar a prisão nesta madrugada. 

Caio Silva de Souza, que no dia da manifestação se encontrava de folga, trabalhava como auxiliar de serviços gerais no hospital estadual Rocha Faria, em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Civil, ele tem duas passagens em sua ficha por possível porte ou tráfico de drogas. Uma na 53ª DP (Mesquita) e outra na 56ª DP (Comendador Soares), ambas na Baixada Fluminense, em 2010. 

Delegado responsável pela investigação afirmou que Caio Silva de Souza é uma pessoa "tranquila"
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Em nenhuma das ocasiões foi registrada ocorrência, uma vez que não houve prova material de que ele estivesse de posse do ilícito. Caio também deu entrada, no ano passado, em boletim de registro alegando ter sido agredido pela polícia em manifestação. Em 2008, também prestou queixa, pois teria sido agredido pelo irmão. 

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"O pai disse que sempre demoveu o Caio de participar de manifestações. A família dele é muito pobre, a casa dele é miserável (no município de Nilópolis, na Baixada Fluminense). A mãe é desempregada. Ele veio pedindo uma assistência social para a mãe, é uma pessoa talvez manipulada para essas manifestações. É de cortar o coração", afirmou ainda o delegado responsável pelas investigações. 

O caminho da fuga

Tão logo percebeu que havia sido reconhecido não só pelas imagens, mas também pelo testemunho de Fábio Raposo, já preso como coautor do crime de homicídio doloso qualificado por meio explosivo, além do crime de explosão em ambiente público, Caio Silva de Souza optou por fugir. 

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De acordo com as investigações do setor de inteligência da Polícia Civil, desde a última segunda-feira, quando foi decretada a morte encefálica de Santiago Andrade, ele não era mais visto em Nilópolis - saiu de casa na presença dos pais. "Ele disse que vendeu um celular para comprar a passagem", explicou Maurício Luciano. 

"Conseguimos obter a informação na rodoviária Novo Rio de que ele havia comprado uma passagem para Ipu, no Ceará, onde vivem os avós paternos. Já tínhamos a informação de que ele estava se deslocando para o Nordeste", complemento o delegado. 

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Com duas frentes de buscas, o delegado explicou que foi informado pelo advogado Jonas Tadeu Nunes de que, junto da namorada de Caio, havia conseguido comovê-lo a descer em alguma cidade no caminho, no caso, em Feira de Santana, para aguardar a chegada da equipe que efetuaria a prisão. 

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

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Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

Polícia divulgou duas fotos de Caio Silva de Souza
Foto: Polícia Civil / Divulgação

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, tem duas passagens pela polícia e era considerado foragido desde que foi expedido um mandado de prisão temporária em seu nome. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem levada pelo delegado.

Procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão, o suspeito foi preso na madrugada de 12 de fevereiro em uma pousada na cidade de Feira de Santana, na Bahia. De acordo com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que também defende Fábio Raposo, Caio Silva de Souza seguia em direção ao Ceará, para a casa de um avô, mas foi convencido a se entregar. Ele não reagiu ao ser preso.

Fonte: Terra
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