O peso de dias, meses e, na maioria das vezes, anos de confinamento está claramente refletido no rosto fechado da maioria das detentas que cumprem pena na penitenciária feminina Estevão Pinto, em Belo Horizonte. Na noite desta terça-feira não era difícil encontrar a expressão carregada das presidiárias, mas depois que uma passarela foi montada e a batida da música Beijinho no ombro, da cantora Valeska Popozuda, agitou o pátio da unidade, logo os rostos se abriram e enfim foi possível perceber um pouco de alívio. Sorrisos, dança e muita animação tomaram conta do espaço onde aconteceu a segunda edição do concurso Miss Prisional Minas Gerais.
Mesmo as mais de 100 detentas que não participaram da competição adoraram a festa. "Fora desse evento a gente se sente trancada. Só lê, dorme, faz esse tipo de coisa. Hoje a gente se arrumou mais, nos sentimos um pouco mais livres, digamos assim", contou Tatiane Gleyciele, de 19 anos, presa por tráfico e porte ilegal de arma.
Ao todo, 15 mulheres e oito transexuais de diversas unidades prisionais do estado participaram do evento, que também elegeu a Miss Trans Prisional 2014. Para o secretário de estado de Defesa Social, Marco Antônio Romanelli, o concurso serve para ajudar melhorar a autoestima das presas, além de tornar o ambiente mais agradável. "Com certeza o ambiente fica melhor, a ressocialização melhora e até o convívio com outras pessoas. Esse tipo de evento eleva muito a autoestima e humaniza a pena", disse.
Para Pâmela Leopoldina, da penitenciária de Ubá, no interior do Estado, ter um dia como este a motivou a ser mais vaidosa. "Espero me valorizar. Que os outros valorizem a nossa beleza. Quando estamos dentro da cela, não sabemos quanto somos bonitas", contou.
Na passarela, elas mostraram muita desenvoltura e intimidade. A miss Minas Gerais 2013, Janaina Barcellos, foi uma das juradas e aprovou a atuação das modelos de ocasião: "Tem umas mais tímidas, outras que se soltam mais, mas eu amei, foi demais", disse.
Depois de uma apuração criteriosa, os dez jurados escolheram a jovem Tayane Cristini Gonçalves, 20 anos, como a Miss Prisional 2014. A jovem, de 1,75 m de altura e 68 kg, recebeu a coroa e posou para a foto com o prêmio, que para ela representa a esperança de cumprir a pena e voltar à sociedade: "Esse prêmio é um sonho que eu sempre tive. Isso vai me servir de motivação para estar livre", afirmou Tayane, que ganhou um ensaio fotográfico com 20 fotos.
Além de Tayane, a transsexual Lis Vitoe Freitas, 26 anos, foi a outra vencedora da noite. Ela cumpre pena no presídio de Vespasiano, na região metropolitana de BH, e foi eleita Miss Trans Prisional 2014.
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