A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo prendeu na manhã desta quinta-feira, 16, o cabo da Polícia Militar suspeito de ter matado Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC).
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Outros 14 policiais militares que atuavam na segurança do delator estão sendo investigados por envolvimento com a facção criminosa. O autor dos disparos que mataram Gritzbach no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP) foi identificado por meio de reconhecimento facial.
A informação foi divulgada pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. A investigação resultou na expedição de 15 mandados de prisão preventiva e 7 mandados de busca e apreensão em endereços na capital e Grande São Paulo.
O empresário foi morto no dia 8 de novembro do ano passado, após desembarcar no Terminal 2. Policiais militares realizavam a escolta particular de Vinicius Gritzbach. O ataque também vitimou um motorista de aplicativo e deixou outras pessoas feridas. Veja abaixo a cronologia do caso.
Desembarque e início do ataque
Às 16h03 do dia 8 de novembro, Gritzbach, acompanhado do filho e de um amigo, desembarcou no Terminal 2, sob proteção de seguranças particulares em uma Trailblazer. Assim que saiu do saguão, dois homens encapuzados e armados com fuzis surgiram, disparando contra ele. As imagens de câmeras de segurança mostram passageiros em pânico, correndo com suas malas, e funcionários tentando se proteger.
O empresário morreu no local. Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, motorista de aplicativo que estava próximo, também foi atingido e levado em estado crítico ao Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu aos ferimentos.
Outros feridos incluíram Willian Sousa Santos, de 39, funcionário de uma empresa terceirizada, com lesões na mão e ombro, e Samara Lima de Oliveira, de 28, que sofreu um ferimento leve no abdômen e foi liberada após atendimento.
Após a execução, os atiradores fugiram em um Gol preto, abandonado pouco depois nas proximidades do aeroporto. Dentro do veículo, foram encontrados munição de fuzil e um colete à prova de balas.
Investigação
A área foi isolada para perícia, e os funcionários orientados a se afastar e evitar comentários sobre o ocorrido. O corpo de Gritzbach foi removido por volta das 21h, e a região foi liberada cinco horas depois, transferindo os desembarques para o andar superior até a conclusão dos trabalhos periciais.
A namorada de Gritzbach, que estava presente, saiu do aeroporto antes da chegada das autoridades, acompanhada de um policial militar da escolta do empresário. Seu celular foi apreendido, e ela foi ouvida pelas autoridades.
A Polícia Federal, em conjunto com a Polícia Civil anunciou no sábado, 9, a abertura de uma investigação integrada sobre o homicídio.
Os quatro policiais militares que atuavam na escolta no dia do crime foram afastados de suas funções e tiveram seus celulares apreendidos para investigação. São eles: Leandro Ortiz, de 39 anos, Adolfo Oliveira Chagas, de 34, Jefferson Silva Marques de Sousa, de 29, e Romarks César Ferreira de Lima, de 35.
Após uma denúncia anônima, a Polícia Militar encontrou dois fuzis com carregadores e uma pistola em uma mochila. Posteriormente, outras duas mochilas contendo mais um fuzil, sete carregadores e placas de identificação foram localizadas.
Motivações e histórico
A polícia trabalha com a hipótese de que Gritzbach foi executado a mando do PCC, organização criminosa que ele havia delatado.
Outras possibilidades, como queima de arquivo, também são consideradas, uma vez que ele firmou um acordo de delação premiada e tinha um histórico de atritos com agentes públicos, aos quais relatou ter pago propinas elevadas.
No passado, Gritzbach escapou de um atentado no Natal de 2023, quando tiros foram disparados em sua direção em sua residência no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.
Delação premiada
Uma operação teve início após uma denúncia anônima recebida em março de 2024, apontando possíveis vazamentos de informações sigilosas que favoreciam criminosos ligados à facção. A investigação inicial, conduzida pela corregedoria, evoluiu para um inquérito da Policial Militar instaurado em outubro de 2024.
"Apurou-se que informações estratégicas vazadas por policiais militares, incluindo da ativa, da reserva e ex-integrantes da instituição, permitiam que membros da organização criminosa evitassem prisões e prejuízos financeiros", disse a PM.
Ainda de acordo com a corporação, entre os principais beneficiados pelo esquema, estavam líderes e integrantes da facção criminosa PCC, alguns já falecidos, outros procurados, como Marcos Roberto de Almeida, conhecido como 'Tuta', e Silvio Luiz Ferreira, apelidado de 'Cebola'.
A operação conta com a colaboração da Força-Tarefa instituída pela Secretaria da Segurança Pública, que busca identificar outros envolvidos e eventuais mandantes do crime.
Morte encomendada
Em delação, Gritzbach falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário. Ele também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django, mencionando a corrupção policial e suspeita de pagamento de propina na investigação da morte de Cara Preta.
Segundo o MP, Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC: Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, motorista de Anselmo. Ele negava envolvimento com as mortes.
Vinícius ficou preso até 7 de junho de 2023, quando ganhou liberdade condicional e passou a usar tornozeleira eletrônica. Em junho de 2024, a polícia foi mobilizada para atender a um suposto sequestro do empresário.
O DHPP foi acionado após a esposa de Vinícius e os dois seguranças dele ligarem para o advogado de defesa, informando que houve uma movimentação suspeita, de um carro para outro. Ao dar seu depoimento, Gritzbach demonstrou nervosismo.
Empresa para lavar dinheiro
Gritzbach atuou na Porte Engenharia e Urbanismo como "corretor de imóveis entre 2014 e 2018", de acordo com a empresa. Ele afirmou ter conhecido membros da facção criminosa devido ao trabalho, por meio de um corretor de imóveis.
A Porte é investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE) por suspeita de ter vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes de drogas, segundo a delação.
Gritzbach também afirmou que executivos da construtora sabiam do pagamento de imóveis em dinheiro em espécie e também de registros de bens cujo nome do verdadeiro proprietário ficava oculto, segundo o Estadão. À reportagem, a Porte disse que "não é investigada pelo Ministério Público".
"A Porte jamais tolerou qualquer atividade ilícita de qualquer colaborador e se dispôs a oferecer auxílio documental às autoridades competentes sobre as ações do ex-corretor no período em que atuou na empresa", informou em nota.