O resultado da autópsia divulgado nesta segunda-feira confirmou o que os investigadores italianos desconfiaram no momento em que encontraram o corpo da brasileira Marília Rodrigues Silva Martins: a jovem de 29 anos foi assassinada. Marília foi encontrada morta na última sexta-feira, dentro da empresa Alpi Aviation do Brasil, onde trabalhava, em Gambara, no norte da Itália, uma pequena cidade com uma população que não supera 5 mil pessoas.
A porta do escritório da empresa, onde foi encontrado o corpo, estava fechada por dentro, e no local se sentia um forte cheiro de gás vindo de uma caldeira, o que nas primeiras horas levantou a suspeita de um suicídio ou morte acidental. Porém, ferimentos no rosto e na nuca da jovem brasileira fizeram com que a promotoria de Bréscia abrisse imediatamente investigação sobre o caso.
Alguns jornalistas italianos que chegaram ao local assim que a notícia se espalhou pela cidade, afirmam que também teria sido encontrada na cena do crime uma garrafa de ácido, e que a polícia também teria constatado que o tubo de gás foi aberto e não se tratava de um vazamento acidental. Informações que não foram confirmadas pelas autoridades, assim como a possível gravidez da jovem.
No sábado, a polícia de Bréscia ouviu o dono da empresa onde a vítima trabalhava, Claudio Grigoletto, que afirmou ter visto Marília com vida pela última vez na quinta-feira. Além disso, afirmou que passou toda a sexta-feira, o suposto dia do crime, fora da cidade a trabalho.
Apesar de Gambara ser uma cidade com pouco mais de 4,5 mil habitantes, os moradores dizem não conhecer a brasileira. Alguns vizinhos da empresa disseram ter visto um carro estacionado em frente ao escritório. Enquanto outros, como um barista de um bar próximo ao local do crime, que preferiu não se identificar, disse que a maioria das pessoas não tinha conhecimento nem mesmo da presença dessa empresa na cidade. O escritório fica em uma rua residencial de Gambara.
Os casos de violência contra mulher na Itália
A brasileira Marília Rodrigues Silva Martins pode ter sido mais uma vítima de um problema que vem sendo muito discutido nos últimos anos na Itália: a violência contra a mulher. Entre 2000 e 2011 foram registrados 2.061 casos e as vítimas, em sua maioria, têm idade entre 25 e 54 anos. De cada dez casos de violência contra mulher, sete deles acontecem dentro da própria família. Ainda de acordo com o levantamento feito recentemente na Itália sobre o aumento desse tipo de crime, os problemas costumam começar cerca de 90 dias depois de um ponto final de uma relação.
São crimes que chocam a Itália, como o mais recente, de uma jovem que foi espancada e incendiada viva pelo ex-namorado. Casos que levaram o governo a criar um "pacote" de medidas para combater a violência contra mulher e que entrou em vigor no último dia 8 de agosto. Entre as medidas, será concedido um "permesso di soggiorno", isto é, o direito de viver legalmente na Itália a mulheres que sejam vítimas de violência por parte dos seus parceiros italianos.
Entidades que trabalham de perto com as vítimas da violência, como é o caso da ONG italiana Zero Violenza Donne, descrevem a complexidade do problema e porque muitas mulheres acabam perdendo a vida.
"O assassinato é em grande parte dos casos somente o último ato do que chamamos de 'espiral da violência'. Os atos de violência dentro de uma relação começam com as pequenas discussões, muitas vezes com o ciúme por trás, depois o controle de e-mails, de celulares, dos horários que a mulher chega em casa. Até que o homem cria em torno da mulher uma barreira para que ela não se aproxime de mais ninguém, não tenha outra relação. A mulher fica longe das amigas, dos colegas de trabalho, da família. E daí em diante a violência se torna mais frequente, alternada com alguns momentos de afeto por parte do homem. Muitas vezes, o parceiro culpa a mulher por tudo o que está fazendo com frases tipo: 'Vê o que você me faz fazer?'. E dessa vida em silêncio, muitos casos chegam a mais um caso de homicídio", diz um representante da ONG.