No último dia 1º, a ialorixá Mildreles Dias Ferreira, 90, morreu vítima de um infarto em Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Mãe Dede de Iansã, como era conhecida, comandava o terreiro de candomblé Oyá Denã havia 45 anos e era uma liderança importante de comunidades tradicionais de matriz africana na Bahia.
Amigos e parentes relataram à polícia que o infarto teria sido consequência de perseguição religiosa. Segundo testemunhas, os problemas começaram há um ano, quando uma unidade da igreja Casa de Oração Ministério de Cristo foi inaugurada próximo ao terreiro.
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De acordo com Marcos Rezende, coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), a madrugada que antecedeu o infarto de Mãe Dede foi marcada por uma vigília dos evangélicos na porta do terreiro.
“Ficaram toda a madrugada gritando coisas como ‘afasta o demônio’, ‘limpa esse território do satanás e das forças malignas’. Ela passou mal, teve um infarto e morreu. No dia seguinte a família prestou queixa na polícia, mas a própria Mãe Dede já havia registrado uma queixa contra eles 15 dias antes de acontecer o ato de intolerância que levou à sua morte. Ela tinha 90 anos, mas era muito ativa”, disse Rezende.
O Coletivo de Entidades Negras participa nesta quarta-feira de uma reunião no Ministério Público, em Camaçari, para tratar do caso, que está sendo investigado pela 26º Delegacia Territorial (DT) do município. Representantes da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia também participam do encontro, além de parentes.
Em nota, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República lamentou a morte de Mãe Dede e disse que está acompanhando as investigações junto ao Estado da Bahia.
Até o fechamento desta matéria, o Terra não conseguiu contato com a igreja Casa de Oração Ministério de Cristo nem com representantes da religião que pudessem comentar o caso.