Fenaj: polícia foi responsável por 85% das agressões a jornalistas em 07/09

9 set 2013 - 15h06
(atualizado em 10/9/2013 às 00h22)

As agressões feitas a profissionais da imprensa durante a cobertura dos protestos de 7 de setembro foram criticadas pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). As entidades contabilizam  21 casos de violação contra 20 profissionais da imprensa durante os protestos. A polícia foi a autora de 85% das agressões – dezoito casos – na maioria das vezes por uso ostensivo de spray de pimenta. Os números podem aumentar conforme novas ocorrências forem confirmadas.

De acordo com a Fenaj, apesar de ter havido relatos de ameaças feitas por manifestantes a jornalistas, os maiores problemas foram causados pela polícia. "Verificamos que há despreparo total da polícia na contenção desses movimentos. As academias de polícia precisam reformar seus currículos. Não se pode tratar manifestantes pacíficos e profissionais em trabalho como se fossem bandidos", disse à Agência Brasil o diretor de Relações Institucionais da Fenaj, José Carlos Torves.

Publicidade

"Estamos apurando a abrangência e a gravidade desses casos para nos manifestarmos posteriormente e tomarmos as medidas necessárias junto às secretarias de Segurança dos estados, à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e ao Ministério Público", afirmou o dirigente.

Representando 3 mil emissoras privadas de rádio e televisão no País, a Abert divulgou no domingo uma nota de repúdio à violência contra profissionais da imprensa no Dia da Independência. Segundo a nota, as agressões partiram "tanto de policiais como de manifestantes, com a intenção de impedir o registro dos fatos".

A nota, assinada pelo presidente da entidade, Daniel Pimentel Slavieiro, considera "inaceitável que se imponha limites, de qualquer ordem, à atividade jornalística, pelo grave prejuízo que causam ao conjunto da sociedade, que tem violado seu direito fundamental de acesso à informação".

Mais preocupado com os problemas causados pela Polícia Militar, o diretor da Fenaj disse que os policiais trabalham "de forma extremamente agressiva" nesses eventos e "costumam se revoltar" quando suas ações são registradas por jornalistas. "E quando esses policiais veem câmera, microfone ou o profissional da imprensa trabalhando, eles usam da agressão na tentativa de evitar registro do barbarismo que cometem", completou.

Publicidade

"Eu até entendo quando alguns manifestantes ameaçam jornalistas porque, no caso, são baderneiros sem nenhum comando que, assim como agridem jornalistas, praticam vandalismo contra tudo o que aparece. O que nos surpreende são fatos como o ocorrido ontem, em Brasília, quando agrediram uma jornalista por ela estar de capacete e câmera", disse José Carlos Torves.

Também em Brasília, o repórter da Agência Brasil Luciano Nascimento foi agredido com spray de pimenta e empurrões por três integrantes da PM, no Setor Hoteleiro Sul. Ele havia testemunhado um soldado da Tropa de Choque atirando bomba de gás lacrimogênio contra a cabeça de um manifestante e, ao apurar o ocorrido, foi agredido mesmo após ter se identificado.

Posteriormente, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) divulgou nota de repúdio à agressão sofrida pelo repórter e o governo do Distrito Federal informou que solicitará a instauração de sindicância para apurar os fatos.

Segundo o diretor da Fenaj, ações policiais como essas vão contra algo que já é instituído em praticamente todo o planeta: liberdade de imprensa e respeito ao trabalho do jornalista. "No caso dos manifestantes, sabemos que também há casos de insatisfação com a forma como as notícias são produzidas ou feitas. Confundem jornalista com a empresa e descarregam a insatisfação na pessoa que apenas submete seu trabalho aos padrões editoriais da empresa", afirmou.

Publicidade

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

Publicidade

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Agência Brasil
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se