Homem é sequestrado e foge de cativeiro em São Paulo: “rezo por eles”

Vítima de 40 anos foi alvo de ‘sequestro-relâmpago do pix’ em seu próprio carro e conta detalhes do ocorrido

27 set 2022 - 12h43
(atualizado às 14h30)
Vítima foi sequestrada e levada ao cativeiro com uma arma de fogo apontada para sua cabeça
Vítima foi sequestrada e levada ao cativeiro com uma arma de fogo apontada para sua cabeça
Foto: Reprodução/Unsplash/MaximHopman

Um homem, de 40 anos, foi encontrar com amigos em Osasco, São Paulo, e acabou sendo vítima de sequestro. Ameaçado por uma arma de fogo, ele se viu dentro de um carro com menores infratores e foi levado a um cativeiro em Jaraguá, zona noroeste da cidade. "Por Deus", como acredita, conseguiu fugir. Agora, após o ocorrido, ele diz que segue rezando pelos criminosos envolvidos.

O caso aconteceu no dia 3 de setembro. Tudo começou por volta do meio-dia, quando Ricardo (nome fictício) estava sozinho no carro indo para Osasco, pela Rodovia Dutra. Ao parar em uma bifurcação, por conta do trânsito, três jovens o abordaram. Um deles apontando uma arma de fogo pelo vidro do motorista. "Não reagi. Tinha carro na frente e atrás de mim, não tinha para onde correr", conta a vítima, que prefere não se identificar.

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Os três suspeitos, que Ricardo acredita serem menores de idade, entraram em seu carro. Um seguiu dirigindo o veículo e os outros dois ficaram nos bancos de trás. A vítima teve seu rosto coberto e foi deitada no assoalho do carro, com uma arma apontada para sua cabeça. Uma família que estava em carro próximo presenciou o ocorrido e acionou a polícia, passando a placa do veículo.

"Eu falava para eles levarem o carro, levarem tudo, e me deixarem em qualquer lugar. Mas falavam: 'Não, não. Fica na boa aí'", conta Ricardo. Depois de tentar insistir por mais algumas vezes, a vítima levou uma coronhada na cabeça. "Nem senti a dor na hora, mas senti que começou a escorrer sangue na minha cabeça e fiquei quieto".

Ele mora em uma cidade da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, e costuma subir para São Paulo algumas vezes por semana, por trabalhar em escala híbrida. Mas ele conta que nunca sequer havia sido assaltado e, agora, estava diante de uma situação extrema.

Durante o trajeto, os sequestradores ligaram para uma outra pessoa, que começou a guiar o caminho ao cativeiro. Assim, de Osasco, Ricardo foi parar em Jaraguá, bairro na zona noroeste de São Paulo, que fica a cerca de 14 quilômetros de distância. 

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Os homens roubaram o relógio de pulso e o celular da vítima, perguntando suas senhas e quanto dinheiro ele tinha em sua conta do banco. "Se você estiver mentindo, já olhamos aqui e te apagamos agora", disseram os meninos, como conta Ricardo, que revelou todas as informações a eles.

Cativeiro

Ricardo continuava sem ver nada, com o rosto tampado em um pano preto, mas se recorda de que o carro seguiu em uma subida. Nessa hora, quando estava chegando ao cativeiro, ele conta que só pensava em sua família e no risco de vida que corria. 

Quando chegou no local, depois de passar por um portão barulhento ainda dentro do carro, Ricardo diz que viu o rosto de um dos envolvidos, que estava no cativeiro. Ele avalia que ele teria em torno de 30 anos, sendo mais velho que os que o abordaram na rua. "Ele olhou pra mim e falou 'não reage, se não te apagamos aqui. Sai do carro e fica aqui'".

Ele ficou sentado em um banco enquanto os criminosos disseram que sairiam por um tempo, para esconder o veículo. Como não o amarraram, ele tirou seu capuz, identificou que estava na garagem de uma casa, e começou a procurar por uma forma de escapar.

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Com muita força e crendo ter "ajuda de Deus", a vítima conseguiu destravar o portão da garagem e saiu correndo o mais rápido que pode. Ele entrou em uma estrada de terra e foi até um ponto de ônibus, onde encontrou uma família do bairro que o ajudou a chegar até um terminal de ônibus próximo. Ricardo conta que falaram para ele ficar tranquilo, que ninguém mexeria mais com ele por alí e que era comum acontecerem tentativas de sequestro na região.

A vítima conseguiu trocar de roupa, pegar uma máscara emprestada e viajar escondida em um ônibus até uma delegacia próxima. A delegacia estava fechada, mas havia um posto de gasolina por perto e ele pediu um telefone para entrar em contato com policiais e com seu banco, para bloquear seus cartões. Durante a ligação, estavam tentando gastar R$ 600 reais em seu cartão, mas a compra foi cancelada e o golpe não foi concluído.

Depois, os policiais chegaram e disseram que estavam procurando por Roberto ao longo do dia, pois haviam recebido denúncias no momento que ele foi abordado em seu carro. Ele foi levado à delegacia para fazer um boletim de ocorrência e quis voltar no cativeiro junto aos policiais para tentar encontrar os criminosos.

"Ao mesmo tempo que dá muita raiva, eu queria pegar os caras e evitar que isso acontecesse com outras pessoas", conta Roberto. Porém, não havia mais ninguém no local e nenhum vizinho quis fornecer informações sobre os moradores da residência, que serviu como cativeiro.

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De acordo com o 18º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (18º BPM/M), que registrou o boletim de ocorrência, os policiais ainda não localizaram os criminosos até a publicação desta reportagem e a delegacia prossegue com a investigação.

Ao conversar com policiais da unidade de Jaraguá por telefone, foi ressaltado que há uma crescente de casos do tipo. Segundo dados levantados pela organização, ao longo deste ano foram atendidas 17 ocorrências de extorsão em que os criminosos mantiveram as vítimas em cativeiro, sendo presos 18 indivíduos e libertadas 12 vítimas. É uma média de 2 casos por mês, na região.

Alguns dias depois do ocorrido, o carro de Roberto carro foi encontrado pelos policiais. Os investigadores disseram que os criminosos deixaram o veículo em uma região distante para o caso de ter rastreador e que isso é uma prática comum em sequestros do tipo - pois o intuito era a vítima, que provavelmente seria manipulada no cativeiro para fazer transferências bancárias por pix.

Pós-trauma

Mesmo tendo mantido a calma durante todo o processo de sequestro e fuga, Ricardo conta que teve fortes crises de ansiedade nos dias seguintes e que ficou uma semana afastado de seu trabalho. "Na hora eu nem pensei, queria lutar pela minha vida. Tive a calma de encarar a situação e agir", conta.

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Ao Terra, a mãe da vítima diz que ele agiu como um herói, mas que "sua calma, força e sabedoria tem explicação", no caso, a fé. Ao saber do ocorrido, ela postou em suas redes sociais pedindo para que as pessoas próximas rezassem por seu filho. "Foi uma força sobrenatural".

Ricardo também é uma pessoa de fé e acredita que a situação já está superada. "Por ser cristão, eu rezo por aqueles meninos. É uma situação nada agradável, mas eles foram criados em um meio muito diferente do meu e eu tento entender isso." Agora, ele segue em terapia, que já faz há alguns anos.

A vida de Ricardo voltou ao normal, subindo a São Paulo para trabalho, mas com cuidados extras. Ele evita, por exemplo, voltar de noite para sua casa e ir a lugares mais distantes. Por segurança, ele também passou a deixar todos os aplicativos de banco em um celular que não sai de casa, ficando apenas com um aplicativo de banco digital - com menos dinheiro guardado - no aparelho que utiliza na rua. "Para caso aconteça algo, ter algo alí."

Fonte: Redação Terra
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