A Justiça de São Paulo determinou a prisão temporária, por 30 dias, de dois suspeitos de envolvimento no ataque que deixou dois mortos em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em Tremembé, no interior do Estado. Entre eles está Antonio Martins dos Santos Filho, conhecido como 'Nero do Piseiro', já detido e apontado como possível mentor.
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A decisão é do juiz Flavio de Oliveira Cesar, da Vara do Júri de Taubaté, no Vale do Paraíba. O magistrado considerou que as prisões são 'imprescindíveis'.
"Soltos, eles poderão prejudicar o andamento das investigações, seja intimidando testemunhas e vítimas sobreviventes, seja dando continuidade a atos de violência para eliminar possíveis delatores", afirmou em despacho deste domingo, 12.
Oliveira Cesar apontou, também, que há 'indícios consistentes de autoria' do crime em relação a Santos Filho e Ítalo Rodrigues da Silva, que também foi citado na decisão.
A dupla, além de outras pessoas ainda não identificadas pela polícia, é apontada pela investigação como parte do grupo que invadiu o assentamento em carros e motocicletas. Após uma discussão por 'disputa de terrenos', os criminosos dispararam contra os assentados. Morreram no local Valdir Nascimento, 42, e Gleison Barbosa, 28. Outras seis pessoas ficaram feridas.
Testemunhas do ataque identificaram a dupla, a partir de fotografias, como autores dos crimes. Uma das vítimas relatou, ainda, que Nero foi um dos atiradores. Já outra testemunha, que reconheceu Ítalo, depôs que o grupo tentou invadir um lote sob ameaça aos moradores.
'Nero do Piseiro' foi localizado e detido no último sábado, 11, em uma casa em Taubaté. A Polícia Civil não apreendeu armas ou objetos que o vinculassem ao crime. O Ministério Público, no entanto, pediu a prisão temporária dele, o que foi acatado pela Justiça paulista.
Já Ítalo segue foragido. Equipes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Taubaté realizam diligências para encontrar o suspeito.
Dirigente do MST diz que testemunhas relataram detalhes da ação
Altamir Bastos, assentado no Nova Esperança 1, em São José dos Campos, e dirigente regional do MST, diz que o conflito começou devido à tentativa de invasão de um lote identificado pelo Incra como desocupado.
Segundo ele, nos últimos dias, os invasores notaram que o lote estava desocupado e tentaram se apropriar dele. “Durante a semana, eles já tinham ido lá e retirado a bomba do poço que abastecia todo o assentamento”, contou Altamir.
Na noite de sexta-feira, o dirigente recebeu uma ligação de uma assentada relatando o ataque. Ao fundo, era possível ouvir o som dos tiros. “Nós tínhamos 15 pessoas fazendo a vigília no lote. Por volta das 23h15, chegaram cerca de cinco carros com esses marginais, que desceram do carro literalmente atirando. Eles estavam atirando para matar, mirando na cabeça”, relata ele.
Altamir diz que quatro integrantes do MST foram atingidos com tiro na cabeça. Pelo menos dois morreram. Os criminosos, segundo o dirigente, portavam diferentes armas, como espingarda e revólver.
“Na correria, algumas pessoas acabaram, por sorte, caindo no chão e não levaram tiro. Um jovem, entre 18 e 19 anos, conseguiu fugir e se esconder no meio do mato. Ele viu um desses marginais com um equipamento de iluminar [o local], procurando [pessoas] para matar e dizendo que iria matar todos ali. Depois de alguns instantes, os criminosos saíram do local e logo em seguida retornaram, atirando de novo, só que dessa vez de dentro dos carros.” Segundo Altamir, integrantes do movimento levaram os feridos ao hospital. A polícia e a ambulância chegaram logo em seguida.
“Foi tudo muito rápido. Eles chegaram para exterminar, aniquilar todos que estavam ali. A intenção deles era claramente nos intimidar, porque combatemos publicamente a venda dos lotes. Isso está acontecendo em todos os assentamentos do Vale do Paraíba.”
*Com informações de Estadão Conteúdo.